Anúncios vêm após apoio recente de França e Reino Unido, que planejam reconhecer um Estado palestino em setembro, durante assembleia da ONU. Trump reagiu com ameaças tarifárias contra o Canadá.Após França, Reino Unido e Canadá anunciarem nos últimos dias que avaliam reconhecer a Palestina como Estado, Portugal disse nesta quinta-feira (31/07) que considera fazer o mesmo, engrossando o coro de países ocidentais que pressionam Israel por um acordo de paz na Faixa de Gaza diante do agravamento da crise humanitária na região.

A fome em Gaza tem crescido nos últimos meses, e imagens de crianças esqueléticas rodaram o mundo. Os mais de 2 milhões de palestinos estão confinados pela guerra em uma pequena porção do território e têm arriscado suas vidas para tentar conseguir algum alimento.

Embora tenham negado que falte comida em Gaza, autoridades israelenses autorizaram a distribuição de alimentos lançados a partir de aviões – medida que críticos afirmam ser ineficaz.

Em comunicado divulgado nesta quinta, o Ministério das Relações Exteriores português afirma que o governo espera tomar uma decisão sobre o reconhecimento da Palestina até a 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em setembro.

Trata-se do mesmo prazo estabelecido por França, Reino Unido, Canadá e Malta em anúncios recentes.

França puxa outros países

Uma semana antes, o presidente da França, Emmanuel Macron, anunciara a intenção de reconhecer um Estado palestino em setembro, tornando-se a primeira grande potência ocidental a apoiar a causa.

Dias depois, nesta terça-feira, o premiê britânico Keir Starmer informou que o Reino Unido faria o mesmo, caso Israel não adote “medidas substanciais” para permitir a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza nem crie as condições para um cessar-fogo.

Starmer também exigiu de Israel garantias de que não haverá anexação da Cisjordânia e de que o país vai se comprometer com um processo de paz que viabilize a solução de dois Estados na região – um Estado palestino coexistindo em paz com Israel.

No dia seguinte, quarta-feira, foi a vez de Canadá e Malta anunciarem que também pretendem reconhecer o Estado da Palestina em setembro.

Esses países também pressionam pelo desarmamento de Gaza e pelo afastamento do Hamas das instâncias palestinas de governo.

EUA e Israel se opõem a reconhecimento de Estado palestino

A movimentação recente liderada pela França é criticada por Estados Unidos e Israel, que argumentam que o reconhecimento de um Estado palestino agora não trará paz e só premiaria o grupo radical palestino Hamas, classificado como organização terrorista por países do Ocidente.

Tanto EUA quanto Israel querem boicotar a Assembleia Geral da ONU. O representante israelense na entidade, embaixador Danny Danon, queixou-se na terça-feira dos que, segundo ele, estão optando por “fechar os olhos” para terroristas ou tentar negociar com eles.

“Enquanto nossos reféns estão definhando nos túneis do terror do Hamas em Gaza, esses países escolhem fazer declarações vazias em vez de investir seus esforços na libertação deles”, disse Danon. “Isso é hipocrisia e uma perda de tempo que legitima o terrorismo e afasta qualquer chance de progresso regional.”

O presidente dos EUA, Donald Trump, reagiu em tom de ameaça ao anúncio do Canadá de que reconheceria um Estado palestino, afirmando que o gesto “tornaria muito difícil” a viabilização de um acordo comercial entre os dois países norte-americanos.

Já o Reino Unido foi poupado de ameaça semelhante.

O premiê canadense Mark Carney condicionou o reconhecimento à reforma da Autoridade Palestina, entidade que governa a Cisjordânia, à realização de eleições até 2026 e à desmilitarização dos territórios palestinos.

Trump deu ao Canadá prazo até 1º de agosto para negociar um acordo com os EUA caso não queira ter suas exportações taxadas em 35%.

Articulação nos bastidores da diplomacia internacional

Na terça-feira, no âmbito de uma conferência da ONU, diversos países apelaram a Israel para que se comprometa com a criação de um Estado palestino, manifestaram “apoio inabalável” à solução de dois Estados e pediram a todos os países que ainda não reconheceram o Estado da Palestina que o façam rapidamente.

A “Declaração de Nova York” estabelece um plano em fases para encerrar o conflito israelo-palestino e a guerra em Gaza. O plano culminaria com um Estado palestino independente e desmilitarizado convivendo pacificamente lado a lado com Israel.

Uma declaração separada, intitulada Apelo de Nova York e aprovada por 15 nações ocidentais, afirma que elas reconheceram, “expressaram ou expressam disposição ou consideração positiva […] para reconhecer o Estado da Palestina, como um passo essencial rumo à solução de dois Estados, e convidam todos os países que ainda não o fizeram a se juntar a esse apelo”.

Dentre os signatários, nove países ainda não reconhecem um Estado palestino: Andorra, Austrália, Canadá, Finlândia, Luxemburgo, Malta, Nova Zelândia, Portugal e San Marino.

Dentre os 193 países-membros das Nações Unidas, 147 reconhecem a Palestina como Estado – entre os exemplos recentes estão Espanha, Irlanda e Noruega –, mas muitas potências ocidentais, como Estados Unidos, Alemanha, França, Reino Unido e Japão, não.

Apesar de trazer vantagens legais e simbólicas, o reconhecimento não mudaria imediatamente a situação dos palestinos, mas daria a eles mais poder político, legal e até mesmo simbólico. Em particular, a ocupação israelense ou a anexação do território palestino se tornaria uma questão legal mais séria.

A ofensiva israelense em Gaza já deixou quase 60 mil palestinos mortos, a maioria mulheres e crianças, segundo o Ministério da Saúde em Gaza. A ONU considera os números amplamente confiáveis, e pesquisas independentes recentes sugerem que o verdadeiro saldo de vítimas seria significativamente maior.

ra/md (Reuters, AP, EFE, DW)