Para muitos especialistas, a quebra do banco americano Lehman Brothers, em 15 de setembro de 2008, ficou conhecida como o marco zero da atual crise financeira mundial. Na semana passada, documentos revelados pelo Wikileaks mostraram que líderes mundiais subestimaram inicialmente o problema imaginando que o prazo de recuperação seria curto. 

Ainda segundo o Wikileaks, a queda do Lehmam, o fechamento de empresas e o início das demissões foram os sinais para mobilizar uma atividade diplomática global. Meia década depois, a crise, que teve como origem o mercado imobiliário americano e foi chamada de marolinha pelo então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ainda afeta o mundo e o Brasil.

 

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15 de setembro de 2008 – manifestante protesta em frente à sede do Lehman Brothers, em Nova York

 

Cinco anos se passaram, mas não há motivos para festejar. Após a quebra do banco Lehman Brothers, os Estados Unidos superaram uma recessão histórica ao preço de níveis de dívida recordes e de uma forte intervenção do Estado na economia. Já a Europa, aos poucos tenta se recuperar convivendo com a recessão e o desemprego. DINHEIRO ouviu três especialistas que, sob três aspectos diferentes, mostram como a crise de 2008 influenciou e ainda influência a economia brasileira, a China e os investidores. 

 

O crescimento dos bancos chineses

 

Economista e diretor da FTI Consulting, Eduardo Sampaio, morou entre 2006 e 2007 na China onde fez um mestrado em economia. O especialista afirma que foram duas as principais influências da crise de 2008 na economia chinesa. O primeiro ponto foi o crescimento dos bancos. Antes de 2008, os bancos chineses não listavam entre os maiores do mundo. Desde então, quatro dos dez maiores são chineses, sendo que o Industrial and Commercial Bank of China Limited (ICBC) é o maior do mundo.

 

Sampaio usa uma analogia para mostrar a proporção que tomaram os banco chineses e o perigo que isso representa para a economia daquele país. Ele cita como exemplo a época em que o Brasil tinha vários bancos públicos, principalmente os estaduais, e que era muito fácil a interferência de um governador para pegar empréstimos. E foi o que aconteceu na China. ?Você tem os bancos de províncias em que os governadores possuem autonomia, basta que eles façam uma ligação para liberar um crédito. Imagine isso em um contexto de corrupção e pense no que pode dar??

 

Sampaio lembra que diferente do que muitos imaginam, as decisões não ficam centralizadas em Beijing e em se tratando de questões financeiras existe uma grande preocupação. O economista explica que o cenário para o futuro chinês neste contexto é preocupante. Mas destaca o feito chinês de ter, de forma inédita, crescido dois dígitos durante tanto tempo. 

 

A reação da economia brasileira

 

Celso Grisi, analista de mercado do Instituto Fractual, destaca que a maior herança da crise de 2008 no Brasil está na mudança no tripé econômico que era mantido com rigor até então: regime de metas para a inflação, câmbio flutuante e superávit fiscal. ?O que sobrou pra nós das mudanças nesse tripé foi uma inflação ainda alta. Um superávit primário menor e, portanto, gastos do governo maiores. E sobrou para nós uma moeda em um bom patamar ela subiu muito, mas já começou a voltar e certamente não deve apresentar maiores distorções?.

 

Na análise de Grisi, do ponto de vista macroeconômico essa crise acabou promovendo uma reação dos paises desenvolvidos que se caracterizou pelo esforço recente de reduzir a recessão e o desemprego. Mas os reflexos da crise de 2008 ainda estão longe de acabar. ?Vamos viver um longo período ainda complicado.?

 

A mudança no mundo dos investimentos

 

Márcio Cardoso, sócio-diretor da Easynvest Título Corretora, explica que a crise de 2008 teve um efeito de desorganização financeira para investidores. ?Além do problema da cobertura de prejuízos, houve o embate do governo americano em um pacote de estímulo para a economia.? Segundo Cardoso, essas circunstâncias afetaram na redução da taxa de juros cobrada pelo Banco Central. ?Os bancos em maneira geral estavam com problemas de liquidez. Naquela época chegou a se cogitar quebras de outros bancos como Citibank, Goldman Sachs e Morgan Stanley?, analisa Cardoso. 

 

Relembre matérias da Istoé DINHEIRO sobre a crise:

 

 Quem lucrou com o Lehman

 

 Lehman Brothers apresenta proposta para credores

 

 O museu do Lehman

 

2008 – Ganância sem limite

 

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