09/08/2022 - 17:58
Depois de quatro pregões seguidos de queda, em que acumulou baixa de 3,15%, o dólar à vista subiu na sessão desta quarta-feira, 9, em meio a ajustes de posições e movimentos de realização de lucros. A ata do Copom trouxe um tom ‘dovish’ e ratificou a percepção de fim do ciclo de aperto monetário, com taxa Selic congelada em 13,75% ao ano, ao passo que o IPCA de julho, como esperado, apresentou deflação recorde com tombo dos preços dos combustíveis.
No exterior, a moeda americana teve sinal misto frente a divisas fortes e emergentes, embora tenha caído ante pares do real como o peso chileno e o rand sul-africano. Depois de o resultado acima do esperado do relatório de emprego (payroll) na sexta-feira (5) mitigar temores de recessão nos EUA, investidores aguardam a divulgação, amanhã, do índice de preços ao consumidor (CPI) em julho para calibrar as apostas em torno do ritmo de alta dos juros pelo Federal Reserve.
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Afora uma queda pontual na primeira hora de negócios, quando rompeu o piso de R$ 5,10, ao descer até a mínima de R$ 5,0931 (-0,39%), o dólar trabalhou em alta durante toda a sessão. Com máxima a R$ 5,1517, registrada à tarde, a divisa fechou cotada a R$ 5,1295, avanço de 0,32%. Na semana, a moeda apresenta leve perda, de 0,72%. A liquidez foi reduzida, com o contrato de dólar futuro para setembro – principal termômetro do apetite por negócio – girando menos de US$ 10 bilhões.
“O dólar caiu bastante nos últimos dias com entrada de fluxo externo e também desmonte de posição comprada que ganha quando o dólar sobe do estrangeiro no mercado futuro. Estamos vendo um movimento de correção hoje”, afirma o operador de câmbio Hideaki Iha, da Fair Corretora, para quem o mercado se animou com a geração de emprego nos EUA. “Isso acabou mexendo com as commodities. É melhor uma alta de juros maior nos EUA com a economia ainda forte do que uma recessão”.
Segundo o analista de câmbio da corretora Ourominas, Elson Gusmão, houve também uma atuação mais intensa por parte de importadores na sessão de hoje, o que contribuiu para a alta do dólar. “Percebi compras de importadores importantes, que aproveitaram a queda recente para realização de grandes pagamentos”, afirma Gusmão.
Lá fora, o índice DXY – que mede o comportamento do dólar frente a seis divisas fortes – apresentou leve queda, na casa dos 106,300 pontos, com perda frente ao euro e ganhos na comparação com o iene e a libra esterlina. Por ora, seguem majoritárias as apostas de que o Federal Reserve vai elevar a taxa básica em 75 pontos-base em setembro, apesar de um ala do mercado acreditar que a inflação americana pode já ter atingido seu pico.
Segundo a mediana das expectativas de 26 analistas consultados por Projeções Broadcast, o CPI avançou 0,2% em julho ante o mês anterior, com alta de 8,7% na comparação anual. Caso se confirme, o resultado representará uma desaceleração, após os avanços de 1,3% e 9,1% de maio, respectivamente.
“O CPI vai ser importantíssimo para ver como anda a economia americana. Se vier acima do esperado, abre espaço para especulação de um aumento maior os juros nos EUA, o que pode dar novo impulso ao dólar”, afirma Gusmão, da Ourominas.
Por aqui, o IPCA fechou julho com queda de 0,68%, um pouco superior à mediana de Projeções Broadcast (-0,66%). Foi a maior deflação da série histórica iniciada em 1980. Em 12 meses, o índice desacelerou de 11,89% em junho para 10,07% em julho. Analistas ponderam que a queda do IPCA no mês passado se deve, sobretudo, à redução da alíquota do ICMS para gasolina e energia elétrica. A abertura do índice revela uma dinâmica inflacionária qualitativamente ruim.
Na ata, o Copom seguiu a toada de seu comunicado na semana passada e afirmou que “avaliará a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude, na próxima reunião, com o objetivo de trazer a inflação para o redor da meta no horizonte relevante”. Como as projeções de inflação neste ano e em 2023 estão “sujeitas a impactos elevados associados às alterações tributárias”, o Copom alargou o chamado horizonte da política monetária e, como diz na ata, “optou por dar ênfase à inflação acumulada em doze meses no primeiro trimestre de 2024”.