08/06/2021 - 13:27
Desde a década de 1970, a marca Alphaville é associada a terrenos de luxo, dentro de condomínios fechados e cercados de seguranças, para as famílias construírem as casas de seus sonhos. Nos últimos dez anos, no entanto, o negócio que deu certo por tanto tempo começou a apresentar uma série de resultados negativos. Por isso, agora, a Alphaville Urbanismo vai inaugurar uma nova linha de negócios, que espera ser o início de sua “virada” financeira: a construção de casas prontas para a classe média alta, em grandes cidades do interior.
Comprada pela construtora Gafisa em 2006, por R$ 380 milhões, a Alphaville era vista como um negócio de forte potencial na época em que a economia brasileira crescia a passos largos. Tanto era assim que, em 2013, o fundo de private equity (que compra participações em empresas) Patria comprou 70% do negócio pela bagatela de R$ 2 bilhões.
Os resultados da loteadora, no entanto, perderam o brilho, especialmente a partir de 2014, e não se recuperaram desde então. A Gafisa acabou saindo do negócio há pouco mais de 18 meses, vendendo os 20% que ainda detinha na Alphaville por apenas R$ 100 milhões. Só no primeiro semestre de 2019, a companhia amargou perdas de mais de R$ 400 milhões.
Com a saída da construtora do negócio, o Patria se tornou o principal acionista do Alphaville – hoje, tem 78% do negócio. Um IPO (oferta inicial de ações) foi realizado no fim de 2020, com uma pequena quantidade de ações negociadas em Bolsa. A arrecadação foi de pouco mais de R$ 300 milhões e serviu para capitalizar o negócio. A série de resultados negativos, porém, ainda não foi interrompida: de janeiro a março de 2021, o prejuízo líquido foi de R$ 68,8 milhões.
No entanto, segundo Klausner Monteiro, presidente da Alphaville Urbanismo, a empresa está em um processo de limpeza de portfólio e que as vendas vêm subindo. Projetos mais antigos e menos rentáveis, lançados até 2018, estão sendo substituídos por empreendimentos mais adequados à realidade atual do mercado. Das mudanças implementadas até agora, a oferta de casas já construídas é a mais radical.
De acordo com Monteiro, a disposição dos clientes para construir uma casa do zero não é mais a mesma. Além disso, essa empreitada exige uma disponibilidade muito grande de capital próprio. Por isso, a companhia agora quer entregar a solução pronta para os clientes: casas já construídas, em um prazo de seis meses, dentro de condomínios com urbanismo e facilidades como minimercados.
O valor médio desses empreendimentos deve ficar em torno de R$ 1,5 milhão – caso do condomínio que a empresa está desenvolvendo em Sorocaba (SP). O principal executivo da empresa acredita que a proposta pode atrair famílias que hoje tem um apartamento em São Paulo e têm a intenção de se mudar para o interior em tempos de home office.
Em um dos modelos propostos pela Alphaville, a empresa oferece um modelo predefinido de casa, em que o cliente pode fazer algumas mudanças estéticas e estruturais. Mas a companhia já desenvolve um outro modelo de condomínio de residências prontas, com construções mais padronizadas, em Campinas (SP).
Em ambos os casos, haverá um diferencial que não costumava estar disponível para os terrenos: o crédito. A Alphaville vai oferecer parcelamento dos imóveis em até 240 meses.
Nova fase
Depois de tanto tempo de dificuldades, a empresa faz bem em mudar, segundo especialistas. “Hoje, as pessoas não querem mais passar o ‘nervoso’ de uma construção que pode durar dois anos”, diz o professor Alberto Ajzental, coordenador do curso de negócios imobiliários da Fundação Getulio Vargas (FGV). “Se você me dá cinco opções de casa e me entrega a construção pronta em seis meses, você está mitigando um custo para o cliente – e não estou falando só de dinheiro.”
As casas serão construídas seguindo novos modelos de construção pré-fabricadas, mais parecidos com as casas americanas que aparecem em programas de decoração, de acordo com a Alphaville. É outro acerto, diz Ajzental. “A construção no Brasil é artesanal e sujeita às intempéries, além de caríssima. Eles estão avançando na economia de escala, na padronização. É uma diminuição de custo que faz todo o sentido.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.