27/05/2019 - 19:24
Fortalecidos por seu sucesso nas eleições europeias, o que expressa um sentimento de urgência climática, os Verdes dispõem agora de uma ferramenta para influenciar mais as decisões do Parlamento europeu, mas devem tomar a decisão crucial de se unir ou não a uma futura grande coalizão.
“A percepção da urgência climática nas sociedades e que não sejamos mais vistos como partido de um tema específico (…) mas de governo, capaz de agir sobre a realidade, contribuiu para o impacto causado na opinião pública”, afirmou nesta segunda-feira (27) à AFP o deputado belga Philippe Lamberts, membro do grupo dos Verdes.
“Esta recomposição não diz respeito só à esquerda. Na Alemanha, parte da direita votou nos ecologistas e isso está relacionado a uma compreensão geracional”, acrescentou Sébastien Treyer, diretor do Instituto de Desenvolvimento Durável e Relações internacionais (Iddri).
Na Alemanha, os Verdes obtiveram um resultado à frente dos conservadores entre o segmento das pessoas de 18 a 44 anos, enquanto a coalizão CDU-CSU (Cristãos-democratas e Social-cristãos bávaros) de Angela Merkel predominou entre os maiores de 60 anos.
Este avanço verde na Europa “tem a ver ao mesmo tempo com uma abertura de fronteiras e um apego aos nossos ecossistemas ou ao regionalismo; estamos vendo algo que transforma nossa bússola política”, disse Treyer.
Entre organizações de defesa do meio ambiente interrogadas nesta segunda-feira pela AFP, os resultados também geraram otimismo.
Para Isabelle Autissier, presidente do WWF França, a “consciência dos cidadãos sobre as mudanças climáticas, a biodiversidade e todos os assuntos fundamentais do planeta se aprofundou” e “os parlamentares terão que se aplicar para tratar destes assuntos”.
– “Oportunidade sólida” –
“Isto desperta esperanças”, afirma Jean-François Julliard, diretor-geral do Greenpeace França. “Nenhum partido pôde escapar da problemática ambientalista”.
O diretor da Rede Ação Clima (CAN) Europa, Wendel Trio, vê nos resultados uma “sólida oportunidade” e espera “ver qual maioria (no Parlamento) será negociada” e até que ponto estará “implicada na luta contra as mudanças climáticas”.
As próximas semanas também serão cruciais para saber se os Verdes entram ou não em uma coalizão.
“Os 70 deputados que teremos serão uma alavanca para orientar as políticas europeias em outro sentido”, comemora o eurodeputado Lamberts.
“Mas será que os grupos políticos tradicionais, socialistas, liberais e o Partido Popular Europeu (PPE) estarão de acordo para reorientar as políticas no sentido de reduzir desigualdades, reduzir nossos efeitos no meio ambiente, a melhoria das liberdades individuais e do Estado de direito na Europa?”, perguntou.
– “Muito experientes” –
Os membros do grupo dos Verdes no Parlamento têm fama de experientes, competentes, com capacidade de antecipação, assíduos e conhecem os processos, as alianças e o trabalho em grupo transfronteiriço entre Estados-membros.
Sébastien Maillard, diretor do Instituto Jacques Delors, destaca sua “seriedade no Parlamento europeu” e que “são muito organizados em grupo”.
Vanessa Jérome, pesquisadora de ciências políticas da Universidade de Paris I, aponta que “no Parlamento europeu todo mundo se alia a todo mundo”.
Por exemplo, “na Alemanha, os verdes são politicamente compatíveis com a centro-esquerda e a centro-direita”, acrescentou.
“Os Verdes franceses estão menos acostumados a isso”, mas o fato de se envolverem em alguns temas com outros grupos “não significará que vão mudar de linha ideológica”, concluiu.