17/03/2019 - 23:44
Business Insider. Aproximadamente dois meses depois que o CEO da Apple, Tim Cook, disse que a “maior contribuição para a humanidade” de sua empresa estaria em saúde, um estudo fornece o primeiro indicador relevante de como essa visão está começando a tomar forma.
Numa pesquisa sem precedentes, conhecida como o Estudo do Coração da Apple, cardiologistas da Universidade de Stanford mapearam mais de 400.000 pessoas. O objetivo deles era saber se o Apple Watch e seu sensor de frequência cardíaca poderiam detectar apropriadamente irregularidades no funcionamento cardíaco das pessoas.
Funciona, mas há ressalvas
Um primeiro olhar para o trabalho sugere que pode. Mas, claro, existem ressalvas. O estudo completo ainda não foi publicado. De acordo com os resultados iniciais apresentados, o Apple Watch parece capaz de captar anormalidades relacionadas a uma condição comum, porém grave, chamada fibrilação atrial – um tipo de arritmia. Pessoas com essa condição podem sentir falta de ar e problemas de fluxo sanguíneo. A condição também pode aumentar o risco de problemas mais graves, como derrame e insuficiência cardíaca.
“As descobertas do estudo têm o potencial de ajudar pacientes e médicos a entender como dispositivos como o Apple Watch podem desempenhar um papel na detecção de estados como fibrilação atrial, uma doença mortal e muitas vezes não diagnosticada”, disse em comunicado Mintu Turakhia, principal autora do estudo de Stanford.
Sobrecarregar o sistema de saúde
Embora a pesquisa ofereça uma visão esperançosa do poder do Apple Watch para melhorar a saúde das pessoas, também há potencial para o dispositivo sobrecarregar o sistema de saúde, de acordo com alguns pesquisadores. Isso pode acontecer se o Apple Watch informar a muitas pessoas que elas têm um problema de saúde quando eles não existirem.
A Apple não é a única TechGiant de olho na saúde. Nos últimos anos, empresas como Alphabet (Google) e Facebook mergulharam no tema. Especialistas externos que revisaram o estudo da Apple veem pontos fortes e fracos em como isso foi feito. Alguns dos principais pontos positivos incluem o fato de que o levantamento foi realizado com uma universidade respeitada como Stanford, que incluiu muitas pessoas, e que ocorreu durante um período bastante longo. Além disso, o desenvolvimento do estudo foi mantido separado da Apple, que o financiou.
“Trata-se de um ótimo exemplo para a tecnologia de como projetar futuros estudos”, disse à Business Insider Mohamed Elshazly, professor assistente de medicina na Faculdade de Medicina Weill Cornell, que analisou o projeto e seus resultados preliminares.
Série 4 não estava no estudo
Mas é preciso fazer outra grande ressalva. O estudo não incluiu o mais recente Apple Watch, o série 4. Esse relógio, lançado após o início do estudo, apresenta um eletrocardiograma embutido, ou ECG, o exame médico usado para detectar problemas no ritmo cardíaco. A maior preocupação de especialistas é que o dispositivo faço diagnóstico de irregularidades que não existam, enviando muitas pessoas saudáveis para seus médicos.
“Imagine o impacto em um sistema de saúde à medida que milhares de pessoas jovens e saudáveis de repente querem agendar consultas com cardiologistas”, escreveu Larry Husten, ex-editor do TheHeart.Org, em recente artigo do Stat News.
As versões das séries 1, 2 e 3 do relógio da Apple contêm os chamados sensores de pulso de frequência cardíaca óptica. Eles usam luzes para tomar seu pulso. Assim, para o estudo de Stanford, com seus 400.000 participantes, os pesquisadores também fizeram com que eles usassem um aplicativo de saúde cardíaca correspondente em seus iPhones.
Pop Up
Quando o Apple Watch das pessoas percebia uma irregularidade, ele notificava o participante com um pop up e pedia que agendassem uma conversa com um médico envolvido no estudo. De um modo geral, as respostas sugerem que o Apple Watch faz um bom trabalho ao detectar problemas cardíacos em pessoas que os têm, especialmente nos casos em que o problema é fibrilação atrial. Mas, em alguns casos, os dispositivos também detectaram problemas quando não havia nenhum.
Conhecido na linguagem clínica como falso-positivo, isso torna-se mais preocupante quando afeta um grande número de pessoas. No estudo da Apple, 0,5% (ou 2.000 pessoas) receberam notificações indicando que tinham uma frequência cardíaca irregular sem que fosse verdadeira.
No entanto, quando você considera que vários milhões de pessoas já estão usando o Apple Watch, esse número de 0,5% pode realmente ser preocupante, disse Elshazly.
E quem tem problemas, mas não é identificado?
Outro problema que o estudo não aborda é o que acontece com as pessoas com fibrilação atrial cujos sintomas não são detectados pelo Apple Watch. Em contraste com as pessoas sem um problema que a Apple Watch sinaliza incorretamente, as pessoas com um problema que não são atendidas pelo Apple Watch talvez nunca recebam o cuidado de que precisam. Em outras palavras, eles podem “sentir-se falsamente tranquilizados pela ausência de qualquer alerta”, escreveu Husten ao StatNews.
Apesar desses problemas, pesquisadores como Elshazly ainda pensam que wearables como o Apple Watch podem desempenhar um papel importante em ajudar a prever e prevenir doenças. “A fibrilação atrial é apenas o começo”, disse Lloyd Minor, reitor da Escola de Medicina de Stanford, em um comunicado sobre o estudo da Apple. “O estudo abre as portas para novas pesquisas sobre tecnologias vestíveis e como elas podem ser usadas para prevenir doenças.”