Enquanto os presidentes de China, Rússia, Brasil, Índia e África do Sul monopolizavam os holofotes no encontro que formalizou a criação do banco dos BRICS, em meados de julho, logo após a final da Copa do Mundo, algumas centenas de milhões de dólares circulavam pelos bastidores. Explica-se: líderes de empresas de tecnologia chineses trabalharam intensamente para fechar acordos e anunciar investimentos no Brasil. Alibaba, Lenovo, BYD, Huawei e Baidu são alguns dos gigantes que querem se aproximar do País.

Todos esses movimentos não são por acaso. Nos últimos anos, a China tem se concentrado em oferecer ao mundo produtos de maior valor agregado, em vez de exportar quinquilharias tecnológicas de baixo valor agregado, como ocorria até um passado recente. “A China conta com algumas empresas líderes desse setor determinadas a ter relevância mundial”, afirma David Roth, CEO da The Store, braço de varejo da WPP, um dos principais especialistas globais sobre a China.

Um dos mais ativos embaixadores do mercado digital chinês foi o fundador do buscador Baidu, Robin Li, que esteve em Brasília no mês passado. Ele participou de um jantar com o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, e se encontrou com o ministro da Ciência e Tecnologia, Clélio Campolina, para anunciar investimentos de R$ 120 milhões em um centro de pesquisas ainda sem data de abertura definida. Robin também apresentou uma versão para usuários brasileiros de seu buscador, o br.baidu.com. O serviço foi mostrado no Palácio do Planalto, com a presença da presidenta Dilma Rousseff e de seu colega chinês, Xi Jinping.

A missão de fazer decolar o serviço de busca chinês – que em sua terra natal bate o Google – é do executivo Yan Di, que toca a operação local do Baidu e quer balançar o mercado de publicidade online. “Uma característica do Baidu é oferecer preços agressivos ao mercado”, afirma Yan. “O próximo passo será trazer ao Brasil ferramentas de publicidade que possam ser aplicadas nas buscas.” O Baidu não é o único protagonista dessa invasão chinesa. A plataforma de comércio eletrônico Alibaba, que está prestes a fazer um dos maiores IPOs deste ano, assinou um memorando de intenções com os Correios.

O objetivo é facilitar o acesso das empresas brasileiras, em especial as micro, pequenas e médias, ao mercado chinês, através das plataformas do grupo Alibaba, incluindo Alibaba.com, AliExpress e Tmall.com. Com isso, o site, conhecido como a Amazon da China, elimina uma das maiores barreiras para crescer no Brasil: a demorada logística para quem compra no país asiático. Um produto comprado na China pode demorar até 90 dias para chegar. A partir do acordo com os Correios, o prazo deve cair pela metade.

“Ao contrário da percepção de muitas pessoas, acho que o Brasil tem mais a ganhar do que a perder, pois o exportador pode ficar em contato com os compradores de maneira direta no Alibaba”, afirma o chefe do departamento internacional dos Correios, Alberto de Mello Mattos. “Não é fácil acessar o mercado chinês.” O epicentro da chegada das empresas chinesas de tecnologia é Campinas (SP). A cidade já conta com um centro de treinamento da fabricante de equipamentos para redes e telecomunicações Huawei. Em breve abrigará as sedes da Lenovo e da BYD. Maior fabricante de PCs do mundo, a Lenovo terá seu primeiro núcleo de pesquisa voltado para o desenvolvimento de softwares corporativos. A construção deve ser finalizada em setembro deste ano.

A estimativa é que 70 funcionários trabalhem no local. A BYD, especializada na manufatura de baterias, veículos híbridos e elétricos, investirá R$ 200 milhões para construção de sua fábrica na América Latina. A unidade, além de montar ônibus elétricos, baterias de fosfato de ferro e painéis solares, também abrigará um centro de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias para veículos elétricos, baterias, energia solar e iluminação. “Queremos substituir os táxis de Campinas por carros elétricos”, afirma o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Samuel Ribeiro Rossilho.