Por um caminho que resvala a irresponsabilidade, vários setores do PT começaram não apenas a se insurgir contra o ajuste fiscal como também a pregar a volta da velha matriz econômica que praticamente quebrou o País. Para atender a seus anseios ideológicos e políticos de gastos sem fim, esses pregadores petistas invocam a reabertura das torneiras de crédito subsidiado, a expansão dos investimentos estatais e a forte intervenção do governo em setores econômicos para barrar as demissões. Em matéria de política “desenvolvimentista”, é tudo que levou o Brasil à atual encruzilhada.

Os promotores dessa alternativa tresloucada parecem desconhecer que o déficit nominal do setor público alcançou indecentes 9,21% do PIB. Um rombo tão fora de esquadro que inviabiliza qualquer receita administrativa que não a da austeridade, sob pena de um colapso das finanças estatais. No texto intitulado “Por um Brasil justo e democrático”, distribuído pela Fundação Perseu Abramo, que é vinculada ao Partido, os arautos da proposta falam em abandono da meta de superávit primário, em corte de juros na marra e até na famigerada ideia de contabilidade criativa.

O descontrole inflacionário, a balança comercial negativa, a explosão cambial e outros efeitos colaterais dessa rota suicida são desconsiderados. Louvam um modelo “socialmente inclusivo” sem explicar de onde tirar orçamento para tal e classificam de “irresponsabilidade” o corte de despesas. Talvez somente esses senhores enxerguem hoje que o modelo econômico adotado no primeiro mandato do governo Dilma deu certo. E por isso vislumbram sua reedição. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que segue como a mais lúcida cabeça na equipe da presidente, resolveu elevar o tom diante de tantos absurdos lançados.

Apontou que “a realidade se impõe, acima de ambiguidades políticas” e alertou para o perigo da busca por “soluções fáceis”. Determinado a levar adiante a proposta fiscal, Levy partiu para o tudo ou nada. Nessa queda de braço conta mais com o apoio da oposição que entende a gravidade do momento e atende aos apelos para que vetos presidenciais a novas despesas não sejam barrados. Os ditos aliados petistas, como incendiários a jogar lenha na fogueira, seguem na direção contrária e sonham em manter a farra sem fim.

(Nota publicada na Edição 936 da Revista Dinheiro)