13/08/2003 - 7:00
O empresário mineiro Anderson Birman, 49 anos, tem uma peça bem esquisita no guarda-roupa, mas que ao mesmo tempo é a sua preferida: uma camisa confeccionada do avesso. Não é defeito de fábrica. É fashion. Os estranhos torcem o nariz, mas basta conhecer um pouco a maneira de Birman fazer negócios para entender que aquela camisa resume o seu próprio dono. Birman é um dos fundadores da Arezzo (o outro é seu irmão Jefferson), a maior rede de lojas franqueadas (são 200) de calçados e acessórios femininos do País. A empresa faturou R$ 220 milhões em 2002 e agora prepara um desembarque nos Estados Unidos. Pelo lado do avesso, é claro. ?Não vou exportar produto, como é praxe no setor. Vou exportar a marca e o conceito do negócio?, diz Birman. Os planos de internacionalização se arrastam há dois anos e esbarram justamente nesse ponto. ?Na tradição americana, o franqueador ganha dinheiro com o aluguel dos pontos comerciais. Isso não me interessa. Quero ganhar com a operação?, explica. Ou seja: ele quer mudar a cultura comercial da maior potência econômica do mundo ? só isso.
Mas não duvidem do homem. Agir pelo avesso é sua especialidade. Em 1990, Birman investiu US$ 1 milhão para abrir a sua primeira loja própria, na rua Oscar Freire, coração da moda em São Paulo. Nada demais, não fosse o fato de ele ter encerrado contratos com cinco dezenas de varejistas multimarcas que vendiam os seus produtos. De uma hora para outra, ele afunilou o canal de distribuição de 50 para 1. E ainda tinha uma fábrica em Belo Horizonte produzindo 100 pares de sapatos por dia. ?Foi tentativa de suicídio mesmo. Ou a gente morria ou renascia de uma forma muito mais interessante: como grife?, conta o empresário. Deu certo. Com ajuda da São Paulo Fashion Week e do patrocínio de estilistas nacionais, logo a Arezzo virou sinônimo de calçados femininos finos. Mas isso não fez Birman parar com as maluquices. Quando o governo Collor facilitou as importações, muita gente ficou ressabiada com a instabilidade do dólar. Ele não. Fretou um Boeing 727 e trouxe 100 mil pares de tênis que havia encomendado a um fabricante sul-coreano. ?O dólar disparou bem na minha vez e eu fiquei com tudo encalhado. Dei-me por contente de ter perdido só US$ 600 mil?, sorri.
Hoje a Arezzo, que tem sede em Campo Bom (RS), não importa mais nada. A produção, de 6 mil pares diários, está terceirizada para 70 indústrias gaúchas. O mercado americano no qual Birman está de olho é de 600 milhões de pares por ano. ?Quero 0,00000000001% disso, vendendo sapatos entre US$ 39 e US$ 69?, avisa. Ah, sim: Birman é um sobrenome herdado do pai, russo de origem judaica que ao chegar ao Brasil virou espírita. O avesso está no sangue.