27/03/2025 - 14:27
A Argentina solicitou ao Fundo Monetário Internacional (FMI) um empréstimo de 20 bilhões de dólares (cerca de R$ 115 bilhões), um montante não confirmado pelo organismo, anunciou o ministro da Economia, Luis Caputo, nesta quinta-feira (27), em um momento em que o país sofre forte pressão cambiária sobre sua moeda, o peso.
Caputo informou que, além disso, a Argentina negocia “um pacote adicional de livre disponibilidade” com outros organismos, como o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para fortalecer suas reservas.
O governo do presidente Javier Milei divulgou o montante do acordo preliminar em meio a uma corrida contra o peso, que provocou, na última semana, uma sangria das reservas de mais de 1,2 bilhão de dólares (cerca de R$ 7 bilhões).
O ministro revelou a quantia após conversas com o FMI com vistas a contribuir para a tranquilidade cambiária. As reservas brutas do Banco Central fecharam na quarta-feira em 26,42 bilhões de dólares (aproximadamente R$ 151 bilhões), informou o organismo.
Um porta-voz da entidade multilateral não quis confirmar o valor.
“Não vou entrar em detalhes sobre as conversas em curso, simplesmente posso confirmar que o montante do pacote final para a Argentina será determinado pela direção-executiva e que as negociações apontam que será um pacote de financiamento considerável”, disse a porta-voz do FMI, Julie Kozack.
O Fundo elogiou que, “apesar do drástico ajuste macroeconômico” adotado pelo governo argentino, “a atividade está se recuperando com força, os salários reais estão aumentando e a pobreza está diminuindo”.
No entanto, o FMI considerou que “chegou o momento de avançar para as etapas seguintes”.
“Existe um reconhecimento compartilhado sobre a necessidade de continuar adotando um conjunto coerente de políticas fiscais, monetárias e cambiárias, ao mesmo tempo em que se fomenta e aprofunda o crescimento e se potencializam as reformas”, acrescentou a porta-voz.
O novo empréstimo se somará ao acordo assinado em 2018, ainda vigente, de 44 bilhões de dólares (cerca de R$ 170 bilhões, em valores da época), que representou o maior endividamento do país com o FMI.
– “Tentativa de desestabilização” –
Há sede dias, o Banco Central faz fortes investimentos no mercado de câmbio.
O ministro considerou que a corrida contra o peso não se explica pela fragilidade das reservas do Banco Central, mas por uma “tentativa de desestabilização contra o governo do presidente Javier Milei”, por trás da qual estaria – segundo ele – “a oposição”.
Os protestos semanais que os aposentados fazem em frente ao Congresso, pedindo o aumento de seus benefícios, contaram recentemente com o apoio de sindicatos, torcidas de futebol e organizações sociais, em manifestações multitudinárias duramente reprimidas pela Polícia.
Além disso, a principal central operária, CGT, convocou uma greve geral para 10 de abril para repudiar a repressão e a política de ajustes do governo.
Caputo relatou que, durante uma conversa na quarta-feira com a diretora do FMI, Kristalina Georgieva, ele lhe disse que divulgaria o montante.
“Disse-lhe que, como podem faltar algumas semanas para convocar o ‘board’ [diretoria], e levando em conta que os boatos o que mais tentam” é desestabilizar, “pelo menos seria bom poder dizer o montante que foi acordado”, e que será submetido à votação da diretoria, detalhou o ministro.
– “Recapitalizar” o Banco Central –
Quanto ao destino dos novos recursos, o ministro Caputo assegurou que “não vão ser para financiar gastos, mas para recapitalizar o ativo do Banco Central”.
“Quando a gente vê as reservas brutas e soma o que vem [do FMI], estas reservas vão subir para cerca de 50 bilhões de dólares [R$ 287 bilhões]”, disse Caputo em uma conferência sobre seguros.
A pressão sobre o peso e sua eventual transferência para os preços representa um risco para o governo Milei, que fez do controle da inflação seu principal feito, ao reduzi-la de 211% em 2023 para 118% no ano passado, ainda que às custas de uma severa política de austeridade fiscal, que tem como efeito colateral uma recessão econômica com 14 meses seguidos de queda no consumo.
Manter a inflação sob controle é seu principal capital político, enquanto se aproxima o início da campanha eleitoral para as legislativas de meio de mandato, em outubro, nas quais a situação, sem maioria no Congresso, tentará aumentar sua bancada.
Apesar de o governo ter se comprometido a suspender os controles cambiários que vigoram desde 2018, a escassez de divisas não lhe permitiu avançar.
Na Argentina convivem cinco taxas de cotação do dólar, com um florescente mercado paralelo, no qual a divisa chamada ‘blue’ foi cotada na quarta-feira acima dos 1.300 pesos, enquanto no câmbio oficial, estava a 1.091 pesos – a maior diferença em mais de seis meses.