05/02/2025 - 13:35
O presidente Javier Milei retirou a Argentina da Organização Mundial da Saúde (OMS), por “diferenças profundas a respeito da gestão sanitária” da agência durante a pandemia, expressou nesta quarta-feira (5), ao justificar sua decisão.
O mandatário ultraliberal seguiu os passos do presidente Donald Trump, que, após assumir a Casa Branca, em 20 de janeiro, retirou os Estados Unidos da OMS.
“Nunca esqueceremos que eles foram os ideólogos da quarentena cavernícola que implicou, de acordo com o Estatuto de Roma de 1998 (artigo 7.k), cometer, em cumplicidade com todos os Estados que seguiram suas diretivas, um dos crimes contra a humanidade mais estranhos da história”, declarou Milei em suas redes.
“Por isso, decidimos sair de um organismo tão nefasto que foi o braço executor do que foi o maior experimento de controle social da história. VIVA A LIBERDADE, PORRA”, lançou.
Mais cedo nesta quarta-feira, o porta-voz presidencial Manuel Adorni anunciou que o presidente já deu instruções para a chancelaria cumprir a ordem.
“Nós argentinos não vamos permitir que um organismo internacional interfira em nossa soberania, muito menos em nossa saúde”, enfatizou.
O porta-voz explicou que essa medida “dá ao país maior flexibilidade para implementar políticas adaptadas ao contexto de interesses que a Argentina exige, além de maior disponibilidade de recursos e reafirma nosso caminho em direção a um país com soberania na área da saúde”.
Adorni afirmou nesta quarta que a gestão sanitária da OMS durante a pandemia, junto com o governo de Alberto Fernández, “nos levou ao confinamento mais longo da história da humanidade e à falta de independência diante da influência política de alguns Estados”.
A Argentina “não recebe financiamento da OMS, portanto, essa medida não representa perda de recursos para o país”, esclareceu o porta-voz.
O anúncio também se enquadra na política de Milei de reduzir o orçamento do Estado. A Argentina envia por ano 4,1 milhões de dólares (23,7 milhões de reais) à OMS.
O ministro da Saúde argentino, Mario Lugones, esclareceu no X que “sair da OMS não significa perder cooperação ou financiamento. Os acordos com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) seguem em vigor, o calendário de vacinação está garantido e continuamos acessando informações epidemiológicas e insumos a um custo menor”, ressaltou.
– Isolamento perigoso –
A decisão de Milei “é outro sinal do que nos anos 1990 chamávamos de ‘alinhamento automático’ com os Estados Unidos”, disse à AFP Andrea Oelsner, acadêmica e diretora do curso de Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade de San Andrés. Para ela, representa “um passo para o isolamento político internacional que, na realidade, vai contra o que o governo diz sobre querer ‘se abrir ao mundo'”.
Andrea rejeitou o argumento da perda de soberania “porque a OMS não tem poder para obrigar os Estados a impor políticas domésticas” e alertou que, com essa saída, a Argentina perde um fórum de cooperação no qual poderia “compartilhar informações valiosas”.
“Próximas pandemias, que são globais por definição, são inevitáveis, portanto, isolar-se e retirar-se de mecanismos e oportunidades de cooperação e coordenação internacional não é muito inteligente”, acrescentou.
Segundo Federico Merke, professor associado de Relações Internacionais na Universidade de San Andrés, a decisão de Milei também envolve “teatralidade” para agradar a suas bases de apoio e ao governo Trump, mas “em vez de incrementar a reputação internacional do país, mina a sua credibilidade”.
“Ameaças à saúde não respeitam fronteiras. Ficar fora de um espaço de cooperação e coordenação internacional deixa a Argentina isolada do diálogo global”, sustentou.
O país sul-americano rejeitou em junho passado se somar a um novo protocolo sobre pandemias proposto pela OMS e deixou clara a sua intenção de deixar a organização. Questionado se o governo argentino também vai se retirar do Acordo de Paris, Manuel Adorni disse que “é algo que está sendo avaliado, portanto não há nenhuma determinação”.
– ‘Quarentenas eternas’ –
Segundo o gabinete do chefe de Estado argentino, a OMS “falhou em sua maior prova de fogo: promoveu quarentenas eternas sem embasamento científico quando teve que combater a pandemia de covid-19”. “As quarentenas provocaram uma das maiores catástrofes econômicas da história mundial.”
“É urgente repensar, no âmbito da comunidade internacional, qual a razão de existirem organizações supranacionais, financiadas por todos, que não cumprem com os objetivos para os quais foram criadas […] e pretendem se impor acima dos países membros”, acrescentou o gabinete.