02/10/2025 - 11:53
Após um 2024 de alta de três dígitos percentuais, a bolsa da Argentina é a pior do mundo no ano de 2025, remando na contramão de seus pares.
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Do primeiro dia do ano até o fim de setembro de 2025, a Bolsa de Valores da Argentina caiu 30% em valor nominal e 47% em dólar, segundo levantamento da Elos Ayta Consultoria.
O desempenho negativo mostra um cenário diametralmente diferente dos demais países, dado que outros países da América Latina – e também fora dela – tem mostrado ganhos, com disparidade somente no tamanho deles.
Na mesma janela, o Ibovespa salta 41% em dólar, enquanto a bolsa da Colômbia sobe 53% – sendo uma das melhores performances do mundo. No Chile, o principal índice (Ipsa) sobe cerca de 38%, ante 41% da bolsa do Peru.
A queda do Merval, da Argentina, reflete um cenário que mescla realização de ganhos com aumento de incertezas no campo político.
Com o ajuste fiscal severo do governo de Javier Milei, a o índice saltou cerca de 172% em pesos durante 2024, ou 114% em dólares. Ou seja, em partes, investidores tem colocado lucros no bolso com certo ceticismo de a performance melhorar ainda mais.

Olhando para o campo político, o governo Milei segue priorizando reformas fortes c0m cortes de gastos, eliminação de vários subsídios, controle rígido do déficit primário, flexibilização das restrições cambiais – o que fez a inflação cair consideravelmente em comparação a seus picos, mas seguir alta, enquanto o câmbio segue muito volátil, com depreciação e pressões sobre reservas internacionais
Ou seja, mesmo com o ajuste, vários problemas sérios continuam, incluindo uma falta de confiança instável dos investidores por conta dos capítulos recentes na política.
A derrota expressiva de Milei nas eleições provinciais de Buenos Aires deixou o mercado mais cético sobre a sua capacidade de manter e aprovar novas reformas, sendo uma sinalização clara de perda de governabilidade e apoio popular.
Com a moeda ainda volátil, a incerteza cambial faz com que as ações locais valorizadas em pesos percam muito em dólar se a moeda se depreciar – o que afasta todos os investidores, mas especialmente os estrangeiros.
O recente acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), de US$ 20 bilhões e o relaxamento de controles de câmbio teve pontos positivos pois liberou recursos e aumentou reservas, mas na contramão expôs vulnerabilidades da economia do país em um cenário de fuga de capitais..
Dívida pública ainda é pedra no sapato
A estrutura da dívida, em partes, ainda preocupa o mercado, dado que se trata de um passivo bastante fragmentado, com parte em pesos, parte em dólares e uma fração relevante atrelada à inflação.
Essa composição torna o país muito vulnerável: quando o peso se desvaloriza, a parcela em dólares encarece; quando a inflação explode, os títulos indexados ao IPC também se tornam pesados.
O acesso a mercados internacionais segue limitado, então o Tesouro depende de rolagem doméstica e de apoio de organismos multilaterais, como o FMI.
O ajuste fiscal de Milei conseguiu reduzir a necessidade imediata de emissão de dívida nova, mas não resolve o estoque acumulado. Nesse contexto, o pagamento de juros ainda consome uma fatia relevante do orçamento, mesmo com cortes agressivos em subsídios e investimentos públicos.
Há então o que o mercado chama de risco de rollover – o governo precisa refinanciar títulos em prazos curtos com frequência, o que exige confiança dos investidores locais.
Como a dívida é fragmentada e sensível ao câmbio, a volatilidade da moeda pode causar aumentos drásticos na relação dívida/PIB.
Por fim, o país tem poucas opções na mesa. Sem vislumbrar mercados voluntários de crédito abertos, a Argentina fica presa ao FMI e a linhas de financiamento pontuais.
Argentina é ‘referência’, diz secretário do Tesouro dos EUA
Os Estados Unidos estão defendendo a Argentina como ‘uma referência’ no Hemisfério Ocidental e querem evitar outro Estado falido na região, como a Venezuela, disse o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, nesta quinta-feira, 2.
Os EUA não mantiveram interesses estratégicos no Hemisfério Ocidental nas últimas décadas e agora têm a chance de apoiar a Argentina, disse Bessent em uma entrevista à CNBC.
Ele elogiou o presidente argentino, Milei, por ter feito um “trabalho fantástico” e disse ter certeza de que o líder de direita se sairá bem nas próximas eleições.
“Agora a Argentina é uma referência lá embaixo. E há agora a chance de muitos outros países aparecerem – Bolívia, Equador, acho que Colômbia – após as eleições. Portanto, o que não se quer são esses modelos econômicos fracassados”, disse Bessent.
A Argentina vota em 26 de outubro nas eleições legislativas de meio de mandato, nas quais o partido de direita de Milei pretende ganhar assentos para fortalecer sua posição minoritária.
“O que os EUA estão fazendo, só para deixar claro: estamos dando a eles uma linha de swap. Não estamos colocando dinheiro na Argentina, ok?” Disse Bessent.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vai se reunir com Milei em duas semanas, informou a Argentina na terça-feira, 30, enquanto Milei busca garantir uma linha de swap de crédito dos Estados Unidos que irritou alguns republicanos, já que o país sul-americano descarregou bilhões de dólares em soja para a China.