28/03/2025 - 18:25
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comentou a situação econômica da Argentina e afirmou acreditar que o futuro do país é incerto. “Se o FMI [Fundo Monetário Internacional] não aprovar o empréstimo [para a Argentina], eu não sei o que acontece. E mesmo aprovando não se sabe”, disse.
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O ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo, divulgou nesta semana que o país busca um novo empréstimo com o FMI para reforçar as reservas do seu Banco Central. O montante combinado seria de US$ 20 bilhões.
O órgão internacional ainda não decidiu se a operação será autorizada. Tampouco foram divulgadas as exigências para o novo empréstimo.
Diretor do Observatório da Dívida Pública Argentina, o historiador Alejandro Olmos Gaona disse que Caputo busca tranquilizar o mercado financeiro devido à pressão cambiária. ““O governo precisa desesperadamente de dólares para fortalecer o Banco Central e seguir controlando a inflação [por meio da injeção de dólares na economia], porque esse é o único elemento que tem dado muito apoio ao presidente Milei”, explica.
Se confirmado, será o terceiro empréstimo com o Fundo desde que o governo de Maurício Macri firmou o acordo, em 2018, para empréstimos de US$ 56 bilhões.
Haddad rejeita ‘receituário super ortodoxo’ para o Brasil
O ministro Fernando Haddad comentou a situação do país vizinho ao negar que políticas semelhantes às implementadas por Javier Milei sejam adequadas para a economia brasileira.
“Tem gente elogiando receituário super ortodoxo para um país que não está nas condições que está a Argentina. A pessoa fala: vamos fazer no Brasil o que o Milei está fazendo. Qual o sentido disso?”, disse. “Não dá para comparar situações, nem com o Brasil de 1998 e 1999, nem com a Argentina de agora. Nossa situação é outra. O Brasil está em uma situação diferente de um país em crise.”
Haddad citou para corroborar sua hipótese o crescimento das notas do Brasil na análise de diferentes agências de classificação de risco ao longo dos últimos dois anos. “Nós não estamos na mesma situação que outros países que não tem o que oferecer. O apetite aqui é grande de investimento. Afastados os temores de qualquer deslize, os projetos existem com altas taxas de retorno. É saber aproveitar isso”, disse.
O risco fiscal argentino e o brasileiro
Ao contrário da Argentina, o Brasil tem sua dívida pública quase toda em reais, o que facilita o pagamento e refinanciamento dos passivos. Além disso, enquanto o empréstimo com o FMI busca catapultar as reservas cambiais da Argentina para a casa dos US$ 50 bilhões, o BC brasileiro fechou 2024 com reservas na casa dos US$ 329,7 bilhões.
Ainda assim, o risco fiscal é apontado por analistas do mercado financeiro como um dos principais motivos para o atual patamar elevado dos juros no Brasil. Em sua última reunião, o Comitê de Política Monetária elevou a taxa Selic a 14,25% ao ano, maior patamar desde 2016. O órgão já sinalizou uma outra alta de menor magnitude no seu próximo encontro.
O ministro Fernando Haddad não criticou diretamente a atual política monetária, porém disse que “quando se faz ajuste super recessivo” isso acaba prejudicando a própria dívida pública, defendendo “moderação” no caminho para retomar resultados primários positivos.
Haddad afirmou porém que o governo vai manter o curso da política econômica, buscando o cumprimento de metas fiscais e sem medidas “exóticas” com finalidade eleitoral. “Esse é o caminho, não vamos inventar nada. Não é do feitio do presidente Lula inventar nada exótico por razões eleitorais”, disse.
[*com informações da Agência Brasil e da Reuters]