19/12/2012 - 21:00
Consumidor adora uma promoção. O brasileiro, então, nem se fala. Basta colocar um anúncio qualquer de preço especial disso ou daquilo que a vontade de coçar o bolso aparece. Sabendo disso, o comércio eletrônico inventa suas maneiras de estimular as vendas. Melhor ainda se isso se der numa época em que a conta bancária dos trabalhadores fica mais gorda, como agora, em função do 13º salário. É nesse contexto que foi realizada, da 0h da sexta-feira 25 novembro à 0h do sábado 26, a terceira edição no Brasil da Black Friday. Trata-se de uma megapromoção, criada nos EUA, em que as lojas – a maioria virtuais, embora haja exemplos de estabelecimentos físicos – prometem descontos tentadores, de 30% a 90%, durante 24 horas.
A iniciativa reuniu neste ano cerca de 300 lojas virtuais, número superior aos 50 parceiros de 2011, segundo divulgado pela empresa organizadora do evento, a Busca Descontos. Seria tudo lindo se não fosse por um detalhe: constatou-se que, em vez de serem reduzidos, os valores subiram. A Black Friday, na prática, virou a “Black Fraude”. A verificação se deu com uma pesquisa realizada pelo Provar/FIA (Programa de Administração do Varejo da Fundação Instituto de Administração), em parceria com a Felisoni Associados e a Iconna, que cedeu o software para capturar os preços dos produtos.
Feita com 1,7 mil produtos, a pesquisa atestou que, nos dias 21 e 22 de novembro, antes da liquidação, houve um aumento médio de 8,5% na comparação com o período que antecedeu a esse, de 12 a 20 de novembro. Em outras palavras, é a prática espertalhona de aumentar o preço antes da promoção para, quando chegar a data da “liquidação”, abaixá-lo novamente. No frigir dos ovos, fica tudo igual ou até um pouco acima do valor original. A jogada aí é levar o consumidor a crer que há um descontão esperando por ele. “Pelos resultados obtidos, pode-se dizer que não houve, de fato, promoção sob a chancela da marca Black Friday”, disse a O Estado de S.Paulo Claudio Alberto Felisoni, presidente do Conselho do Provar.
As suspeitas de que esse expediente tivesse sido utilizado já havia levado o Procon-SP a notificar sete varejistas. Um aspecto importante da história é que nada disso impediu resultados positivos para as lojas. As vendas online totalizaram R$ 217 milhões durante o Black Friday Brasil, um aumento de 117% em relação à mesma data de 2011, segundo a ClearSale, empresa de análise antifraude para comércio eletrônico. O procedimento não derrubou as vendas agora, mas pode ser uma armadilha. Afinal, o consumidor ficará escaldado e, nas próximas vezes, não embarcará nessa. Resultado: isso pode abalar a confiança do usuário, que vem sendo conquistada a duras penas, de comprar pela internet.
Além disso, esse expediente acontece num contexto de expansão do comércio eletrônico. Impulsionado pelo avanço da internet e pelo aumento da renda da população, o varejo virtual deve fechar 2012 com um faturamento de R$ 22,5 bilhões, um aumento de 20% em relação a 2011, segundo a consultoria e-bit. Ou seja, o setor vai bem e assim deve continuar. Por que passar uma impressão ruim ao consumidor? Por que deixá-lo ressabiado com as lojas virtuais? Será péssimo para o segmento se isso acontecer, principalmente pelo fato de que confiança se constrói ao longo dos anos. Perdê-la, no entanto, é mais fácil do que se pensa.