09/05/2023 - 21:58
O trabalho recente de Arman Soldin mostra seu compromisso e empenho para cobrir o conflito na Ucrânia, da batalha de Bakhmut ao cotidiano da população civil em sua luta pela sobrevivência.
Com tenacidade, curiosidade e bom humor contagioso, o coordenador de vídeo da AFP na Ucrânia, morto aos 32 anos em um bombardeio de foguetes no leste do país, se dedicou desde os primeiros dias a contar esta guerra que estava relacionada à sua vida pessoal, pois nasceu na Bósnia e emigrou para a França com um ano de idade.
Em Bakhmut, cidade ucraniana que as forças russas sitiam desde agosto passado, se dedicava a filmar as batalhas militares e a destruição apesar da violência dos combates.
Contava, também, a vida das pessoas comuns presas em meio à guerra e que tentam sobreviver em meio ao caos, como a mulher que cuidava de seu jardim em Chasiv Yar, cidade próxima a Bakhmut, onde ele morreu, ou o homem que distribuía pães em uma motocicleta pelas ruas de Donbass.
Em Kiev, capturou um momento de ternura, quando mostrou uma partida de videogame on-line entre um pai engajado no Exército e seu filho refugiado no exterior.
Estas imagens circulavam com frequência em todo o mundo. E inclusive após um longo dia de reportagem para a AFP, ainda era visto postando imagens nas redes sociais. Sua obsessão era contar para o maior número de pessoas o que viu de uma guerra que descreveu como “um pouco à moda antiga, em plena Europa”.
– Apaixonado por futebol –
Arman Soldin nasceu em Sarajevo e foi um dos primeiros evacuados para a França em 1992 no começo do sítio desta cidade. Ele tinha apenas um ano de idade.
“As histórias de refugiados me comovem”, contou no ano passado para o blog Making Of, da AFP, entrevistado em Kiev iluminado por uma vela.
Falava francês, inglês e italiano, mas suas origens o ajudaram em seu trabalho na Ucrânia: “Falo um pouco de bósnio, é também uma língua eslava, e entendo um pouco”.
Bom de bola, jogou futebol muito jovem no oeste da França, mas abandonou as esperanças de fazer uma carreira profissional no esporte e começou a trabalhar na AFP no escritório de Roma em 2015.
Causou tão boa impressão que foi rapidamente contratado em Londres no mesmo ano, onde cobriu os conturbados anos do Brexit.
Voltou para a Itália em 2020, quando a pandemia de covid-19 começou, e encontrava histórias para contar quando tudo estava fechado com a mesma humanidade que caracterizou seu trabalho na Ucrânia.
– Skate na Ucrânia –
“Fez um vídeo de um cara que dançava sozinho em frente ao Vaticano em uma Roma deserta e outro vídeo de um homem andando de skate em uma cidade da Ucrânia”, diz um colega.
Grande parte das imagens de Arman eram filmadas com telefone celular, não só pela leveza do aparelho, mas para causar menos impacto em seus entrevistados.
Quando a Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro do ano passado, Arman se apresentou como voluntário para fazer parte dos primeiros grupos de enviados especiais da agência.
Ele se mostrou “muito orgulhoso e emocionado com o trabalho”, escreveu em fevereiro. “Não acabou”, disse.
“Era corajoso, criativo e tenaz”, disse o diretor de informação da AFP, Phil Chetwynd.
“Transbordava energia e assim definia a si próprio nas redes. De uma devoção total ao seu trabalho de jornalista”, elogiou a diretora da AFP na Europa, Christine Buhagiar.
Em 21 de março passado, comemorou seu aniversário com uma equipe da AFP em Kramatorsk (leste da Ucrânia).
“Abrimos um bom vinho para a ocasião, um colega pegou o violão”, contou um de seus chefes de redação, Antoine Lambroschini. “E ele estava lá, com um sorriso nos lábios”.