Na última Semana de Moda de Milão, badalado evento que aconteceu na semana passada, Giorgio Armani apresentou a coleção primavera/verão de moda feminina. Como sempre, o estilista italiano mostrou roupas de bom gosto, sem muita invenção e arrebatou aplausos. As peças, disseram os críticos, foram inspiradas no Mediterrâneo. Na passarela, xales e echarpes em trama de rede contrastavam com elegantes vestidos de noite e saias de vários comprimentos mesclavam azul com faixas creme. Apesar do desfile ter como inspiração o mar Mediterrâneo, a principal novidade da grife veio do oceano Pacífico. Foi de lá, mais precisamente da Coréia, que veio o produto Giorgio Armani que mais causou frisson. Trata-se do novo telefone celular produzido em parceria com a Samsung. O desenho é Armani e a tecnologia é da gigante coreana. Em estilo sóbrio, na cor preta, ele tem uma tela de 2,6 polegadas sensível ao toque, câmera fotográfica de 3 megapixels e memória de 50 megabites com espaço para cartão de expansão. O produto, que inicialmente será vendido na Europa, custará cerca de 650 euros. ?A moda não é apenas como nos vestimos, é um estilo de vida?, diz Armani. É uma forma de ver o negócio que tem rendido parcerias em setores que nada têm a ver com o dedal e a tesoura.

O próprio estilista anunciou que, em janeiro, será lançada uma linha de telas de LCD Giorgio Armani. O novo objeto de desejo do universo do luxo vai se somar aos outros produtos que o estilista possui. Armani empresta o seu nome para chocolates, flores, bicicleta, hotel, restaurante, móveis, carro, spa, tênis… Diante da excessiva diversificação de uma empresa que usa a marca para mexer com o ego das pessoas, cabe uma pergunta crucial: até que ponto o rótulo Giorgio Armani suporta tanta exposição? ?A força de Armani supera a marca, ele vende estilo de vida?, diz Patrícia Gaya, diretora executiva de Giorgio Armani no Brasil. Para quem estuda a força e o valor das marcas, contudo, há um limite. ?Se ele continuar nesse ritmo de extensão, ele vai perder valor?, diz José Roberto Martins, diretor da consultoria Global- Brands. ?Isso vulgariza a marca.?

Vale lembrar que algumas grifes vistas como ícones desapareceram ou tiveram que mudar devido à expansão desordenada da linha de produtos.

A Pierre Cardin, por exemplo, não é nem a sombra do que foi no passado depois que licenciou a marca. A Gucci, hoje toda poderosa, passou por uma crise de identidade anos 90. Só não afundou depois que contratou o estilista Tom Ford e mudou toda a sua estratégia. ?Giorgio Armani é uma marca com valores que ressaltam o frescor, a inovação, a modernidade e a vanguarda?, diz Silvio Passarelli, coordenador do MBA de Negócios do Luxo da FAAP. ?Ela tem que se associar a marcas que tenham essas características.? No fundo, tanto Armani como Samsung estão ganhando. Armani lucra comercialmente e a Samsung conquista mais prestígio. Afinal, o telefone celular é praticamente uma commodity, as empresas oferecem quase os mesmos serviços e os mesmos aparelhos. A única companhia que é vista com outros olhos é a Apple e seu cobiçado iPhone. A LG, rival da Samsung, já havia se mexido e lançado o telefone com a grife Prada. Agora é a vez de a Samsung debutar nas passarelas das telecomunicações.