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ARMÍNIO FRAGA O ex-presidente do Banco Central enxergou uma grande oportunidade. Ele investe nas empresas antes que elas cheguem às bolsas de valores

 

Quatro anos atrás, quando ARMÍNIO FRAGA deixou o governo e criou a Gávea Investimentos com um pequeno grupo de amigos, imaginava-se que ele levaria uma vida discreta e tranqüila no Rio de Janeiro. Dividiria o tempo entre o golfe, seu esporte predileto, e a gestão do patrimônio pessoal. Armínio, naquele momento, já não tinha nada a provar. Prodígio das finanças, ele engordou a fortuna de George Soros, o mais notório especulador das finanças mundiais, e, em 1999, no auge da crise do real, assumiu o Banco Central, devolvendo credibilidade ao País. Como ele já tinha conquistado tudo, tanto na vida privada como na esfera pública, pouca gente deu atenção ao que acontecia na Gávea. Dias atrás, porém, veio a surpresa. Associado ao empresário colombiano Woods Staton, ele participou da compra dos 1,6 mil restaurantes McDonald?s no País ? um negócio de US$ 700 milhões ? e deixou para trás concorrentes como UBS Pactual e GP. Antes disso, a Gávea já havia investido em portos, café, etanol e shoppings. De repente, caiu a ficha: Armínio é hoje o mais arrojado investidor do Brasil. ?A economia real descobriu que pode se capitalizar para investir e se preparar para o mercado de capitais?, disse Armínio à DINHEIRO, de Tóquio, no Japão. ?Entramos num círculo virtuoso.? Otimista, ele acaba de criar um novo fundo, o Gávea II, que tem mais US$ 1,1 bilhão para investir.

 

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AS ESTRELAS DA GÁVEA Minardi (à esq.) caça negócios. Bier (ao centro) e Amadeo (à dir.) traçam cenários econômicos.

 

 

Esse ?círculo virtuoso?, que Armínio enxergou e traduziu em negócios, fez nascer um novo estilo de investimento. Tecnicamente, os fundos da Gávea estão na categoria dos private equities ? são aqueles que compram cotas de empresas antes da abertura de capital. A diferença é que, ao contrário de outros personagens que fizeram fortuna com esse tipo de negócio no passado, como Jorge Paulo Lemann, Daniel Dantas e Luiz Cezar Fernandes, Armínio não exige o controle das empresas em que investe. Em todos os negócios que fez até agora, a Gávea aceitou ser sócia minoritária. A gestão continua em poder dos antigos proprietários ? algo que seus antecessores jamais admitiriam. Isso significa que a Gávea corre mais riscos? Em parte, sim. Mas tudo é bem calculado. ?Procuramos nos proteger escolhendo com cuidado o investimento e negociando acordos razoáveis?, diz Armínio. Essa flexibilidade ajuda a entender por que a Gávea tem levado vantagem em relação aos concorrentes. ?Hoje, ter ou não o controle já não faz tanta diferença?, aponta Luiz Fernando Figueiredo, que foi fundador da Gávea e é sócio da Mauá Investimentos, que administra US$ 1,2 bilhão em fundos. ?Os minoritários estão muito mais protegidos e os preços que os investidores pagam no Novo Mercado são o maior estímulo para que os empresários busquem uma gestão séria e transparente?, diz ele.

Quando os empresários têm incentivos de mercado para perseguir a boa conduta, a vida de investidores como Armínio se torna simples. E as decisões também são mais ágeis. ?Duas reuniões foram suficientes para que ele decidisse investir na nossa empresa?, conta Richard Klien, da Multiterminais, que opera o terminal de contêineres do porto do Rio de Janeiro e vendeu 25% do capital para a Gávea por R$ 125 milhões. ?Oferecemos um acordo de acionistas excelente, que nós assinaríamos se fôssemos minoritários.? Se a Multiterminais conseguir chegar ao mercado de capitais, estima-se que a participação da Gávea poderá valer até R$ 325 milhões ? uma valorização de 160%. Essa lógica, baseada na compra de empresas antes da estréia em bolsa, vem sendo colocada em prática na maior operação do agronegócio brasileiro. Trata-se da fusão entre as usinas Santa Elisa e Vale do Rosário, que poderá criar um gigante capaz de rivalizar com a Cosan. A Gávea está disposta a investir R$ 200 milhões no negócio, que, se der certo, poderá criar uma companhia de R$ 4 bilhões. ?Armínio é sinônimo de credibilidade?, diz o empresário Luiz Biagi, da Santa Elisa, que idealizou a fusão com a Vale do Rosário.

Fotos: Valor/O Globo
 
AS ESTRELAS DA GÁVEA Minardi (à esq.) caça negócios. Bier (ao centro) e Amadeo (à dir.) traçam cenários econômicos.
Para estar presente em tantas operações, a Gávea montou um supertime. Hoje, são 14 sócios e o mais graduado é Luiz Fraga, que veio da Latinvest e é primo de Armínio. Sob suas asas, fica a gestão dos hedge funds, que administram US$ 2,2 bilhões. Além disso, a Gávea criou uma área de asset management, que captou US$ 1 bilhão e foi confiada a Amaury Bier, ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda. Ao lado dele, atua um outro técnico da equipe de Pedro Malan. É Edward Amadeo, que foi secretário de Política Econômica e hoje é economista-chefe da Gávea. Numa de suas missões, Amadeo passou os últimos dias fora do Brasil, junto com Armínio, estudando o crescimento dos países asiáticos.

No mundo empresarial, as peças principais da Gávea são os executivos Piero Minardi e Christopher Meyn. O primeiro, que veio da Darby Overseas, cuida da fusão Vale do Rosário/Santa Elisa. O segundo trouxe o negócio com a Multiterminais à Gávea. Outra operação relevante, também deste ano, foi a compra de 23,5% da Aliansce, maior administradora de shopping centers do País, com receitas de R$ 2,5 bilhões. E como a Gávea tem feito um negócio a cada semana, na noite da quarta-feira 25, anunciou-se mais um. A empresa adquiriu ações da Ideal Invest, que é focada em crédito educacional para o ensino superior. ?Esse é um segmento incipiente no Brasil, com forte potencial de crescimento?, diz Armínio. Mas como tocar tantos negócios ao mesmo tempo? A resposta é a palavra confiança. ?Os homens da Gávea atuam no conselho, delegando poderes, mas de forma engajada?, diz Washington Rodrigues, presidente da Fazenda Ipanema, maior produtora de café do País. ?Eles cobram resultados.?

Outro fator que explica o sucesso de Armínio é seu estilo pessoal. Avesso a badalações, ele é 100% dedicado à família e parece desprovido de qualquer vaidade. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em seu livro A Arte da Política, o define como um sujeito easy-going, com quem qualquer pessoa gostaria de trabalhar. O ex-ministro da Fazenda, Antônio Palocci, também se encantou com ele durante a transição de 2002 e o convidou a continuar à frente do BC ? foi Lula quem não quis, e não por antipatia, mas apenas pelo desejo de diferenciar seu governo do anterior. Melhor para a Gávea. No Brasil de hoje, onde houver um bom negócio, será alta a possibilidade de que lá esteja Armínio Fraga..

 
 
US$ 4 bilhões
é o total de recursos administrados pela Gávea, dos quais US$ 1,4 bilhão
está alocado em fundos de private equity

Os ativos
? 25% da Multiterminais ? 23,5% da Aliansce ? 25% da Fazenda Ipanema ?
…e mais McDonald’s e Ideal Invest
 
 
 
 
RICHARD KLIEN

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Controlador do grupo Multiterminais, que vendeu 25% do capital à Gávea Investimentos.

LUIZ LACERDA BIAGI 

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Dono da usina Santa Elisa será sócio da Gávea após a fusão com a Vale do Rosário.

 

LUIZ FERNANDO FIGUEIREDO

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Dono da Mauá, ele defende a política da Gávea de participações minoritárias.

 
“A comparação internacional não é ruim. Nas exportações, o Brasil cresceu mais do que qualquer outro país” ” Armínio tem grande reputação e agrega valor a qualquer negócio? “Ter o mando das empresas não é tão essencial como no passado”  

 

Controlador do grupo Multiterminais, que vendeu 25% do capital à Gávea Investimentos.
 Dono da usina Santa Elisa será sócio da Gávea após a fusão com a Vale do Rosário.
 Dono da Mauá, ele defende a política da Gávea de participações minoritárias.
 
Fotos: Helcio Nagamine / HumbertoFranco / Daniel Wainstein