15/10/2008 - 7:00
NO MOMENTO EM QUE O MUNDO TREME e só se escutam ordens de venda nos mercados de capitais, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga tem remado contra a corrente. Nas últimas semanas, a Gávea, que ele administra, foi às compras, investiu US$ 130 milhões na Cosan, uma das gigantes do setor sucroalcooleiro nacional, e também adquiriu 15% da centenária rede de farmácias Droga Raia. Além disso, a Gávea está prestes a lançar um fundo de US$ 1,3 bilhão, que poderá vir a ser um dos maiores do País na área de private equity, focado na compra de participações acionárias em empresas. Na avaliação de Armínio, os ativos brasileiros estão ficando baratos e os empresários perderam a janela dos IPOs ? como os lançamentos de ações em Bolsa não mais ocorrerão, a única saída, para quem busca capital, seria recorrer a fundos fechados, como os da Gávea. ?A crise existe, mas o mundo não pára. Esse é o momento para investimentos de longo prazo para quem tem recursos?, disse à DINHEIRO Luiz Fraga, sócio e primo de Armínio. ?Os ativos estão mundialmente desvalorizados. É o cenário perfeito para quem tem paciência e dinheiro para esperar o retorno.?
O argumento faz sentido, mas Armínio e sua equipe têm um desafio pela frente. Ao contrário dos outros fundos de private equity, a Gávea não compra o controle das empresas, mas sim participações minoritárias. Essa estratégia faria muito mais sentido num ambiente de mercado de capitais pujante e aberto a novas emissões de ações ? os IPOs são também a porta de saída para fundos como os da Gávea. Sentada no banco do passageiro, sem poder influenciar diretamente na gestão das empresas em que aporta capital, a Gávea é um investidor passivo. Mas essa condição não preocupa, por ora, os gestores dos fundos. ?Se a hora é boa para comprar porque os ativos estão baratos, é óbvio que não é hora de vender?, explica Luiz Fraga. ?Os fundos que estão investidos estão sofrendo, mas não estamos fazendo desinvestimentos. O momento de turbulência vai acabar.? As primeiras vendas previstas, como a da Ipanema Coffees, do fundo Gávea I, estão suspensas. Para 2009, os ativos na Aliansce (shoppings), McDonald?s e Multiterminais (logística) estão sendo preparados para venda, mas não há como prever o que ocorrerá. ?As empresas estão indo bem e não há pressa para realizar um IPO?, garantiu Armínio Fraga à DINHEIRO.
No mundo, os fundos de private equity também costumam adotar como princípio básico a compra de participações de controle. É assim que fazem, por exemplo, empresas como Blackstone, KKR e Cerberus, que adquirem grupos em dificuldades, assumem a gestão e promovem a reengenharia interna. No Brasil, é essa também a principal estratégia dos concorrentes da Gávea, como os fundos GP, liderados pela dupla Fersen Lambranho e Antonio Bonchritiano, e Advent, comandado por Patrice Etlin. ?Compramos empresas nas quais podemos gerar mais eficiência antes de revendê-las a investidores estratégicos?, diz Etlin, que também enxerga uma janela de oportunidade para os fundos de private equity, após a turbulência nas Bolsas. No Brasil, a Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital prevê que os investimentos devem fechar o ano acima dos níveis de 2007. Estimativas mostram que o estoque de capital no setor tenha sido de US$ 15 bilhões no ano passado e deverá ficar entre US$ 18 bilhões e US$ 19 bilhões. ?Há um grande apelo pelo private equity?, diz o presidente da ABVCAP, Luiz Eugenio Figueiredo.
É nisso que a GP Investments, que disputa com a Advent a liderança na América Latina, aposta. A gestora registrou um lucro líquido de US$ 178,6 milhões no segundo trimestre de 2008, um aumento de 209% em relação aos US$ 57,8 milhões registrados no mesmo período do ano anterior. A despeito da crise, a empresa continua comprando ativos no Brasil. Na última semana de agosto, a GP anunciou que a San Antônio, controlada indiretamente por ela, comprou 100% das ações da Sociedade Técnica de Perfuração (Sotep). Com isso, conquistou a liderança no mercado brasileiro de perfuração de petróleo. Antes disso, adquiriu 20% do capital social da Estácio e o controle compartilhado, por R$ 259 milhões. Nas últimas semanas, a Farmasa, controlada pela GP, incorporou as ações da Farmasa no capital de Hypermarcas. A transação criou o quinto maior laboratório farmacêutico entre as empresas nacionais e o sétimo do setor no Brasil. Recentemente, a GP também adquiriu a Imbra, uma rede de 21 clínicas odontológicas no Brasil.
A americana Advent, por sua vez, comprou 95% da rede gaúcha Quero-Quero, por R$ 200 milhões. O grupo tem 170 lojas de materiais de construção, eletro e móveis, no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, com previsão de receita de R$ 700 milhões para 2008. Vinte dias depois, a Advent anunciou que a International Meal Company (IMC), controlada por ela, conseguiu comprar a rede Frango Assado, com 12 unidades espalhadas pelas rodovias de São Paulo, por R$ 170 milhões. Essa foi a terceira aquisição do fundo no setor de restaurantes nos últimos meses. Com o controle, é claro. ?A nossa estratégia é deter o controle das empresas, porque entendemos que a nossa saída é pela governança e não pelo mercado de capitais, como fazem alguns fundos. Com o controle podemos comprar, fazer uma gestão mais agressiva, crescer e vender rapidamente?, diz Patrice Etlin.
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