Era para ser um livro comemorativo sobre os 150 anos da Louis Vuitton. Mas a escritora Stéphanie Bonvicini achou nos arquivos da empresa uma pilha de papéis que revelava algo surpreendente: a marca francesa, ícone da luxuosa moda parisiense, colaborou com o nazismo. A descoberta ocupou 50 das 374 páginas do livro Louis Vuitton: a saga francesa. Mas foi o suficiente para colocar na berlinda um dos maiores símbolos corporativos da França. O episódio não poderia acontecer em pior hora para a Louis Vuitton: justamente na semana em que o mundo comemorava os 60 anos do desembarque na Normandia. ?No início das pesquisas, os executivos da empresa eram muito amigáveis. Depois, passaram a não responder mais minhas questões?, disse Stéphanie ao jornal inglês The Guardian.

O livro mostra que Henry, bisneto de Louis, era habitué de um café freqüentado pela tropa de choque nazista, a Gestapo. Também foi um dos primeiros franceses conde-
corados pelo regime de Hitler, como prêmio pela sua lealdade e esforço. Pior: a grife colocou à disposição uma fábrica para produzir itens que glorificavam o marechal Phillippe Pétain (que ?entregou? a França aos nazistas), entre os quais 2,5 mil bustos. Foi essa cordialidade para com o marechal Pétain que ligou a companhia ao nazismo.

?O episódio ficará apenas como uma memória negativa para a marca francesa, porque casos anteriores demonstraram que erros históricos não abalam o ritmo das vendas?, avalia o consultor José Roberto Martins, presidente da consultoria Global Brands. ?Mas a Louis Vuitton poderá ser citada futuramente se houver novas descobertas sobre a ligação de empresas e o nazismo.? Um bom exemplo é a americana IBM, que vendeu equipamentos de tabulação de dados, conhecidos como Hollerith, para o regime de Adolph Hitler. As máquinas eram usadas para catalogar dados dos judeus que iam para campos de concentração. Apesar de não se ter notícia de que perdeu mercado, a IBM passou a ser sempre lembrada em qualquer episódio que fale sobre o envolvimento de empresas com o nazismo.

Segundo o consultor Martins, uma marca de luxo como a grife francesa sofreria muito mais se houvesse algo no presente que realmente abalasse sua imagem. Uma pro-
moção de preços dos seus produtos, por exemplo, cairia como uma bomba. Isso poderia ser entendido como um movimento de popularização, atingindo diretamente o valor da marca. ?Foi o que aconteceu com a Gucci no passado?, completou. Procurada por DINHEIRO, a Louis Vuitton, presente em 52 países e dona de um faturamento anual próximo de 12 bilhões de euros, informou que todos os seus executivos esta-
vam incomunicáveis em um encontro em Nova York, nos Estados Unidos. Em entre-
vista ao jornal Daily Express, um porta voz da Louis Vuitton resumiu assim a questão: ?Não negamos os fatos, mas consideramos que a autora exagerou no episódio?.