11/07/2014 - 20:00
Localizado em uma avenida arborizada no tradicional bairro de Palermo, em Buenos Aires, o museu Malba é um dos lugares mais visitados pelos turistas brasileiros na capital argentina. Pudera. Com arquitetura contemporânea, pé-direito alto e muita iluminação natural, o museu é uma visita obrigatória, mesmo para quem não é assim tão chegado no mundo das artes. Além das instalações modernas em seus corredores, o espaço de 4,7 mil m² de área construída, abriga uma das coleções mais completas da arte latino-americana, avaliada em nada menos que US$ 200 milhões.
São cerca de 500 obras de autoria de artistas do naipe de Candido Portinari, Tarsila do Amaral, com seu “Abaporu”, Antonio Berni, Diego Rivera, Lygia Clark, Frida Kahlo e Hélio Oiticica, entre outros artistas. Mas o que torna o museu ainda mais interessante é conhecer a origem das obras lá expostas: todas provenientes da coleção particular do empresário argentino Eduardo Costantini, que projetou o lugar como uma espécie de legado para o seu “vício”, como ele próprio costuma chamar. Mais que um simples colecionador, Costantini se proclama um difusor das artes.
Tanto é que, mesmo a sua recente investida no mercado imobiliário de alto padrão da Flórida leva um toque de arte. Formado em economia, Costantini fez história no ramo da construção civil. Em Buenos Aires, onde nasceu, o empresário já ergueu prédios residenciais, comerciais e hospitais. Agora, se aventura no mundo do luxo, mas, desta vez, na Flórida. Somente pelo terreno de dez hectares do projeto Oceana Key Biscayne, em Miami, ele desembolsou US$ 80 milhões, aos quais se deve acrescentar US$ 1 milhão por um mural da carioca Beatriz Milhazes, entronizado na entrada do prédio.
Para adquirir um dos apartamentos, que devem ficar prontos no ano que vem, o interessado terá de pagar entre US$ 2 milhões e US$ 17 milhões. Já na Oceana Bal Harbour, a 13 km do centro de Miami, as unidades devem chegar a US$ 30 milhões. A justificativa para essa conta salgada não é só o preço do terreno, pelo qual Costantini pagou mais de US$ 220 milhões, ou os selos de sustentabilidade exibido no projeto, mas as duas esculturas de US$ 18 milhões do artista plástico americano Jeff Koons, instaladas no jardim do empreendimento.
Para quem não sabe, Koons é hoje o artista vivo mais caro do mundo. Com quatro metros de altura e aço inoxidável em sua composição, uma de suas obras, intitulada Balloon Dog, quebrou o recorde do mercado de arte ao ser comercializada por US$ 50 milhões, no ano passado. Uma exposição em retrospectiva à vida de Koons está sendo inclusive organizada pelo museu Whitney, em Nova York, e deve chegar ao Centro Pompidou, em Paris, em novembro. “As duas esculturas estarão na mostra que vai rodar o mundo até 2016, quando ela irá para o seu lugar, na Oceana Bal Harbour”, diz. A estratégia, segundo Luciano Deos, presidente da consultoria GADLippincott, faz todo o sentido.
“Essa iniciativa não faz apenas com que o prédio se valorize à medida que as obras de arte lá expostas valham cada vez mais”, diz o especialista. “Ela também gera mídia espontânea e uma identidade forte para o empreendimento.” Segundo ele, a tendência já virou moda na Flórida. Para atrair os consumidores de luxo, até mesmo os escritórios de venda recebem obras de arte, como o condomínio Paraíso Bay que, em Miami, que contava com uma enorme escultura de pato, ao ar livre, desenhada pelo francês Philippe Starck. “Isso acontece porque hoje a arte moderna é entendida não só como um item de cultura, mas também como de bem-estar, assim como um jardim ou uma arquitetura de destaque”, diz Deos.
Costantini concorda com o especialista. Tanto que, três anos após a abertura do Malba, voltou a colecionar obras de arte. “Elas estão por minha casa, meu escritório, não consigo viver sem”, diz o empresário. “Colecionar arte é como um vício em álcool ou drogas, é difícil de parar.” No caso, pode-se afirmar que Costantini é um adicto irrecuperável. Mesmo depois de ter doado todas as suas obras para o museu de Buenos Aires, em 2005, em menos de uma década conseguiu reunir mais de 400 peças privadas, inclusive de artistas do País, como Beatriz Milhazes e Anna Maria Maiolino.