13/03/2013 - 21:00
O que dar de aniversário para o homem mais rico do mundo? Os filhos do magnata mexicano Carlos Slim resolveram esse dilema com uma viagem a Miami. Desembarcaram em um amplo (mais de cinco mil metros quadrados) e colorido estúdio em Miami Beach e fizeram a encomenda: um retrato da artista Frida Kahlo, uma das favoritas de Slim. Para produzi-lo, escolheram outro dos preferidos do bilionário, Romero Britto, pernambucano radicado nos Estados Unidos e com obras espalhadas por coleções, museus, galerias ou simples objetos em todos os cantos do globo.
Romero Britto: ”Sempre sonhei em ser como Andy Warhol e, como ele,
acredito que arte não é só para ser pendurada na parede”
Presente entregue, o aniversariante – amante das artes capaz de investir mais de US$ 800 milhões para erguer na Cidade do México um museu para abrigar sua coleção de mais de 66 mil peças, com direito a mestres como Rodin, Van Gogh e Picasso – não se conteve e escreveu ao artista. “Sua arte é repleta de cores e felicidade. Você é universal.” O elogio serve como precisa definição do trabalho de Romero Britto. Desde que largou a faculdade de direito no Recife e mudou-se para Miami, em 1986, ele desenhou e coloriu uma das mais impressionantes trajetórias da pop art contemporânea. O termo é inglês, mas traduzi-lo para arte popular não lhe faz desfeita.
O alegre grafismo de suas obras e a liberdade para ir além das telas o levaram a romper fronteiras, sejam geográficas, sejam comerciais. Chegou ao Louvre, em Paris, tem esculturas suas em aeroportos como os de Nova York, Moscou e Miami, mas também está em embalagens de panetone em supermercados brasileiros. “Sempre sonhei em ser como Andy Warhol e, como ele, acredito que arte não é só para ser pendurada na parede”, disse ele na semana passada à DINHEIRO. Conquistou colecionadores como Slim ou Eileen Guggenheim, presidente do conselho da Academia de Arte de Nova York, e tem seus trabalhos avaliados em até US$ 2 milhões.
Da mesma forma, é reconhecido como uma celebridade e faz questão de ver sua arte circulando pelas mãos de crianças e de gente que jamais teria condições de adquirir o mais barato de seus originais. No sábado 2, por exemplo, fez uma oficina para filhos de empresários e executivos durante o Family Workshop, que reuniu CEOs de grandes companhias brasileiras no Guarujá, em São Paulo. Repetiu, ali, uma experiência que realiza por onde passa, não importa o país ou a classe social da plateia. Em 2007, em Londres, lambuzou a mão de tinta com mais de 1,5 mil crianças de escolas públicas, em um evento no Hyde Park. Na terça-feira 5, na condição de embaixador do Mundial de 2014, circulava ao lado do secretário-geral da Fifa, Jérôme Valke, e do ex-jogador Ronaldo, entre operários que constroem a Arena Pernambuco, estádio que receberá jogos no Recife.
Amplia, assim, o gosto pela arte e o mercado para seu trabalho. Romero Britto é artista e empresa e não vê, como alguns críticos, contradição nisso. Sua arte lhe rende cerca de US$ 50 milhões por ano e dezenas de contratos corporativos. Está estampada em mais de mil produtos licenciados com algumas das mais importantes marcas do mundo. É possível ver a assinatura de Britto em automóveis Bentley, Porsche, Volvo, Audi ou Mini, em sapatos da grife Fernando Pires, em relógios Movado, em baralhos Copag, em garrafas da Coca-Cola, em rótulos da água Evian e de Campari, em eletrônicos da LG, em caixas de sabão Omo e até em artigos oficiais da Disney.
“Sou o único artista autorizado a interferir na imagem do Mickey”, relata. Atualmente, mantém mais de 40 parcerias corporativas. Com elas, o pernambucano quebrou o paradigma de que a arte de qualidade é produto para poucos. Britto gosta das multidões tanto quanto dos salões nobres. Para ele, nenhuma delas foi tão impressionante quanto a do Superbowl (final do campeonato de futebol americano) de 2007, espetáculo assistido ao vivo, pela tevê, por mais de um bilhão de pessoas ao redor do mundo. Escolhido para produzir a abertura do evento, viveu ali a perfeita expressão da universalização de sua obra.
Para quem o critica por ser tão comercial, Britto tem resposta pronta: “Que arte não é comercial? Durante séculos a Igreja pagou artistas como Michelângelo para retratarem e difundirem suas ideias.” A primeira grande marca a contratar seu traço foi a vodca Absolut, quando Britto ainda buscava seu espaço em Miami. Começava ali a girar uma roda da fortuna que o aproximou de celebridades, abriu portas e trouxe novas encomendas. O ex-tenista Andre Agassi, por exemplo, pediu a ele um retrato da mulher, a também campeã Steffi Graff. Tempos depois, em um evento em Las Vegas, apresentou Britto a um executivo da companhia de cruzeiros Royal Caribbean. Do encontro saiu a ideia de entregar ao artista a decoração do deque de um dos transatlânticos da empresa, o Mariner of the Seas.
E evoluiu para a instalação de uma loja-conceito com produtos assinados por Britto no Allure of the Seas, maior navio de passageiros do mundo. A infinidade de produtos e contratos exigiu do artista o domínio da arte gerencial. Sua empresa conta hoje com mais de 80 funcionários. Desses, 15 operam uma verdadeira linha de produção artística, dando forma às criações de Britto. No desenho das peças, ele usa elementos e cores que identificam sua marca em qualquer parte do mundo. Na equipe há também advogados tratando do lado negro do sucesso: a pirataria, vinda principalmente da China. “Hoje temos mais de 300 processos contra piratas em cinco continentes”, revela. Paga, assim, o preço de fazer uma arte popular e universal.