05/05/2016 - 19:17
Eliana Finkelstein, uma das fundadoras da Galeria Vermelho, referência em arte contemporânea brasileira, não esconde o sorriso. As exportações de sua galeria vão de vento em popa. Sem revelar números, Finkelstein diz esperar que elas respondam por 30% do faturamento neste ano. Para isso, a paulistana Vermelho deve participar de pelo menos dez feiras no exterior, além de duas no Brasil. Os números provam isso. As exportações de arte brasileira contemporânea foram de US$ 66,9 milhões em 2015, uma alta de 97,4% ante 2014.
Os dados vêm de um levantamento junto a 45 galerias, uma fração das mais de mil em atividade no Brasil, realizado pela Associação Brasileira de Arte Contemporânea (Abact), em parceria com a agência governamental Apex-Brasil. Apenas as vendas de quadros, pinturas e desenhos somaram quase US$ 62 milhões. Espera-se novo salto em 2016, pois as galerias perceberam o interesse internacional. A Vermelho é um bom exemplo. Neste ano, o time de Finkelstein deve realizar mais de cem exposições de artistas no exterior, especialmente na Europa e nos Estados Unidos, os maiores compradores de arte contemporânea brasileira.
“Existe uma aposta mais forte em vendas fora do Brasil até por conta do câmbio favorável, e também pelo ambiente interno mais desafiador”, explica a galerista. Ela reajustou os preços das obras em 25% no início de abril, alinhando os valores aos do mercado internacional. “Os compradores querem menos riscos”, diz Finkelstein. “O fato de um artista, ainda que jovem, já ser conhecido no exterior, o valoriza.” Como ganhar com isso? Arte é um investimento de longo prazo, de retorno incerto e liquidez baixa.
Mesmo assim, quem conhece o assunto diz que neste momento é possível encontrar bons negócios. Por aqui, os números mostram um cenário incerto. Em abril, a SP-Arte, a maior feira de arte contemporânea do País, realizada em São Paulo, registrou vendas de R$ 180 milhões, queda de 28% em relação aos R$ 250 milhões de 2015. Mesmo assim, e apesar dos preços mais salgados, a Vermelho vendeu todas as suas obras no primeiro dia. Conhecedor de números, o empresário Selmo Nissenbaum, fundador da gestora de fundos Órama e colecionador de arte contemporânea, avalia que o mercado mundial desse tipo de arte continua aquecido.
“É um bom momento para comprar, especialmente no exterior, devido à ausência de burocracia para investimento em arte”, diz ele. O interesse vem de fora. O público da SP-Arte é majoritariamente de brasileiros, mas os participantes que carimbam passaporte para o evento são nomes que fazem qualquer galerista sorrir. Caso, por exemplo, da colecionadora Ella Fontanals-Cisneros, fundadora da Cisneros Art Foundation, patrocinada pelo conglomerado de mídia e bens de consumo de origem venezuelana. Ou dos colecionadores americanos Betty e Brack Duker. Pouco conhecido no Brasil, o empresário do setor de alumínio é um entusiasta da arte contemporânea, além de curadores de museus e de coleções particulares.
Todos comentaram o bom momento do mercado para os estrangeiros. Pela primeira vez, Sue Stoffel, ex-professora da escola de investimento em arte da casa de leilões Sotheby’s, e atualmente conselheira do Brooklyn Museum, participou da SP-Arte. O que a fez encarar as longas horas de avião foram visitas a estandes de galerias brasileiras em feiras americanas como Armory, Frieze e Art Basel. “Foi minha primeira visita ao Brasil e fiquei muito impressionada com a produção dos artistas brasileiros”, disse Stoffel à DINHEIRO. Ela não revelou, porém, se comprou alguma obra para fazer companhia às duas esculturas de Ernesto Neto em seu apartamento do Upper West Side, em Nova York.