Que a agenda ESG se tornou um pilar estratégico para o crescimento das empresas já não é novidade. O que talvez nem todos saibam é que a gestão de pessoas, uma das bases da governança corporativa, passou a ser um indicador não apenas do sucesso da gestão como também um dos critérios para que as companhias tenham acesso a investimentos. Colocar as pessoas no centro do negócio nunca foi tão vital. Isso pôde ser comprovado na noite da segunda-feira (26), durante a cerimônia de premiação do Great Place to Work (GPTW) Instituições Financeiras 2022, do qual a DINHEIRO é parceira. Foram premiadas 50 empresas, em cinco categorias: bancos, cooperativas de crédito, financeiras, seguradoras e serviços financeiros. Elas se destacaram entre as 164 inscritas que somam 329.536 funcionários. O que as vencedoras têm em comum é a percepção de que sem boas práticas de ESG não haverá futuro.

Foi dessa visão que surgiu o Índice GPTW B3, uma carteira teórica de ativos elaborada a partir do ranking nacional do Great Place to Work e adotada pela B3 como ferramenta para apoiar a tomada de decisão de investimento em companhias de capital aberto sob a perspectiva da gestão de pessoas. Para o sócio-diretor de relacionamento do GPTW, Victor Garcia, o fato de o ambiente de trabalho ter se tornado um critério de investimento demonstra que a sustentabilidade das empresas envolve um olhar genuíno para cada colaborador. “Estamos falando de inclusão e de desenvolvimento”, disse Garcia. “As pessoas querem trabalhar onde sintam-se cuidadas.”

Outro ponto que tem merecido destaque na avaliação que o GPTW faz das empresas do setor financeiro é a saúde emocional. Pela primeira vez nos quatro anos da premiação Instituições Financeiras foi incluída uma análise específica desse fator. “Novas habilidades e competências estão sendo exigidas dos líderes e uma delas é a compreensão da saúde emocional”, afirmou Garcia. Para medir essa capacidade, o GPTW fez uma parceria com a Jungle Medical Science, empresa criada por médicos para levar o tema às organizações.

“As pessoas querem trabalhar onde sintam-se cuidadas. Estamos falando de inclusão e de desenvolvimento” Victor Garcia sócio diretor de relacionamento do GPTW.

ACOLHIMENTO A diretora de relacionamento da Jungle, Cláudia Coragem, entregou prêmios especiais a cinco empresas que se destacaram nesse quesito. “Fizemos uma análise baseada em algoritmos e Inteligência Artificial para mapear os estágios de desenvolvimento das empresas inscritas”, afirmou Cláudia. No primeiro estágio, denominado básico, o tema ainda precisa ser desenvolvido. No segundo, convencional, o tema está presente, mas os líderes ainda não são capacitados para acolher os colaboradores que sofrem com problemas de saúde emocional. No terceiro, estratégico, há acolhimento, mas também o desafio de aprimorar o ambiente de segurança psicológica. Duas empresas alcançaram esse estágio. O quarto, saudável, no qual foram premiadas duas companhias, o trabalho é exemplar e o desafio é manter o olhar atento aos colaboradores para lidar com situações do dia a dia. “A saúde emocional deve fazer parte da cultura da empresa”, afirmou a diretora da Jungle.

A receita para uma empresa ser reconhecida como o lugar perfeito para trabalhar não existe. O motivo é simples. Ela muda tão rapidamente quanto as necessidades do colaborador. Companhias que incorporam à cultura mecanismos de escuta e proatividade na área de pessoas conseguem engajar seus funcionários. Algumas definem as tendências de boas práticas para o mercado. Esse é o caso das vencedoras dos rankings de Melhores Empresas para Trabalhar — Instituições Financeiras 2022, estudo realizado pelo Great Place to Work (GPTW) que tem a DINHEIRO como parceira. Aqui, elas aparecem representadas pelas grandes empresas que conquistaram o primeiro lugar em cinco categorias. São elas Itaú Unibanco (Bancos), Viacredi (Cooperativa de Crédito), Tokio Marine (Seguradora), Santander Financiamentos (Financeira) e B3 S.A (Serviços Financeiros).

As cinco campeãs mostram caminhos já consolidados, como a busca pela diversidade do time, e também demandas mais recentes, caso do lifelong learning, que pode ser traduzido como a necessidade do funcionário de aprender continuamente durante toda a sua vida profissional. As empresas que perceberam esse anseio passaram a oferecer soluções por meio de plataformas de ensino a distância ou universidades corporativas. O resultado se expressa em ganhos para as duas partes. De acordo com o LinkedIn Workplace Learning Report 2022, 72% dos executivos ouvidos globalmente afirmam que programas de aprendizado contínuo se tornaram uma função mais estratégica em sua organização. Do lado do colaborador, a oportunidade de crescimento é o principal motivo para permanecer na empresa. Segundo a pesquisa GPTW, 47% apontaram que essa é a razão para estar em uma Instituição Financeira. Apenas 14% citaram remuneração e benefícios.

“Temos o compromisso em tornar nossos colaboradores protagonistas em suas respectivas áreas dentro da companhia” Luciana Amaral diretora de Pessoas, Planejamento e Sustentabilidade da Tokio Marine.

Vencedor em sua categoria, o Itaú Unibanco oferece como solução para essa demanda uma plataforma digital batizada iOX. Nela o colaborador tem acesso a trilhas de autodesenvolvimento, como afirmou a sócia e business owner da Comunidade de Pessoas Tatyana Montenegro. “Ele pode, a partir das suas necessidades, escolher conteúdos que considere mais relevantes”, disse. Mas há também programas direcionados pelos interesses da instituição, como os que tratam do conceito de líder do futuro com um modelo de gestão mais humano e aliado ao modelo ágil de gestão característico das startups. Cerca de 16 mil colaboradores, dos mais de 99 mil que trabalham no Itaú Unibanco, já receberam treinamento para atuar no modelo ágil.

PROTAGONISMO A experiência digital também foi escolhida pela Tokio Marine Seguradora em sua Universidade Tokio Saber. O programa de educação continuada oferece mais de 150 cursos on-line com diferentes focos: Escola de Carreira e Performance; de Líderes; de Inovação; de Seguros; de Relacionamento e Negócios; de Bem-Estar; de Ética e Governança Corporativa; de Engajamento; do Contact Center e de Corretores. Também há subsídios de até 80% do valor de cursos de idiomas, graduação, pós-graduação ou MBA. O programa faz parte de um dos três pilares estratégicos da gestão de pessoas da companhia, o do Protagonismo, segundo a diretora de Pessoas, Planejamento e Sustentabilidade Luciana Amaral. “Temos o compromisso em tornar nossos colaboradores protagonistas em suas áreas, oferecendo todos os subsídios necessários para seu desenvolvimento”, afirmou. Os outros dois pilares são Diversidade e Inovação.

Uma terceira solução está em curso no Santander Financiamentos, vencedor na categoria Financeira. Na instituição, os colaboradores têm a opção de cursos presenciais e a distância.

“São reconhecimentos como esse que nos dão a mais absoluta certeza de estarmos trilhando o caminho certo” André Novaes diretor do Santander Financiamentos.

No portfólio presencial destaque para certificações relevantes, como Lean Six Sigma, metodologias para desenvolvimento e gerenciamento de projetos, metodologias como Product Owner e Squads Ágeis e também cursos como liderança e diversidade. O foco em tecnologia não é mero acaso, segundo o diretor André Novaes. “Ao longo dos nossos 59 anos de história a inovação foi um ponto forte do nosso DNA”, afirmou. Outra maneira de capacitar os colaboradores é por meio da Academia Santander, universidade corporativa criada para apoiar o grupo na transformação que o mercado financeiro está vivendo. A plataforma tem um portfólio de mais de 2 mil cursos, com acesso aos conteúdos de outros países em que o Santander está presente. O projeto já foi reconhecido como A Melhor Universidade Corporativa do País pela Educorp e recebeu o prêmio internacional do Global Council of Corporate Universities (GlobalCCU) na categoria de Best Corporate University Culture. Coloque na lista, o GPTW 2022.

As empresas vencedoras parcem ter entendido que não basta buscar a diversidade apenas no momento da contratação. É preciso criar condições internas para que representantes de grupos minorizados se sintam acolhidos e cresçam. Nos questionários respondidos pelas equipes das instituições financeiras do GPTW, 98% concordam com a seguinte afirmação: as pessoas aqui são bem tratadas independentemente de sua cor ou etnia, orientação sexual, gênero e idade. Esse é o caso da Viacredi, conforme disse a gerente de Gente, Cultura e Comunicação Leticia Liene Pasold. “Nossa cultura busca a valorização, a inclusão e a felicidade das pessoas, além de estimular o protagonismo de todos.” A cooperativa coordena ações como o Programa Somar, Incluir e Mover, que atua na compreensão das necessidades de todos, na promoção de debates para que todos sempre tenham oportunidades, além de trazer um olhar de respeito e acessibilidade no trabalho. “As ações se estendem a diversidades étnicas raciais, gênero, orientação sexual, idade, cultura, estilo, pessoas com deficiência e outros”, disse a executiva da instituição que em 2022 atingiu 62% de participação feminina e 54% de mulheres em cargos de liderança. Tudo feito por um time que celebrou a vitória do GPTW na categoria Cooperativa de Crédito. “Quando pensamos de forma colaborativa, ouvimos as pessoas e definimos juntos os caminhos, fazemos com que todos se sintam acolhidos e respeitados”, afirmou.

AMBIENTE COLABORATIVO Outra vencedora que vem investindo amplamente em diversidade é a B3. Com 2.669 colaboradores no ano passado, a bolsa de valores brasileira registrou aumento de 57,4% de presença de pessoas negras no seu time em comparação com 2020, além de maior participação de mulheres em cargos de liderança, que alcançou 28,2%. Somam-se outros resultados, como a adesão ao Pacto de Promoção de Equidade Racial; mais de 4 mil inscritos no aberto ao público externo curso de Mercado Financeiro gratuito voltado a pessoas negras; e crescimento de cinco vezes do Programa de Estágio com Ênfase em Jovens Negros. Em agosto, a B3 comunicou que exigirá mais mulheres, negros e LGBTQIA+ nas empresas listadas. Não por acaso essa é a terceira vez que a instituição foi eleita uma das Melhores Empresas para Trabalhar do setor Financeiro, motivo de celebração para a diretora de Pessoas da B3, Renata Caffaro. “Conquistar essa posição novamente é uma grande honra. É também o reflexo das nossas iniciativas para tornar o nosso ambiente cada vez mais colaborativo, diverso, inclusivo, com oportunidades para todos.”

Por mais que não haja uma receita certa, ouvir um time diverso composto por pessoas que buscam atualização constante é o ponto de partida para um ambiente de trabalho próspero. Com reportagem de Anna França