06/09/2013 - 5:30
Luis Stuhlberger dispensa apresentações, mas vamos lá. Em julho de 1996, ele criou o fundo Verde, um dos primeiros multimercados que podem apostar em ações, moedas, renda fixa e derivativos. Atualmente, o Verde está fechado à captação e seu patrimônio de R$ 3,3 bilhões pode até ser considerado modesto. No entanto, nos últimos cinco anos, quando o mercado financeiro enfrentou a mais profunda crise desde os anos 1930, o rendimento acumulado do Verde superou 125%, segundo o sistema de informações financeiras Economática. Não por acaso, a Credit Suisse Hedging Griffo, dirigida por Stuhlberger, é a maior gestora independente do mercado, com mais de R$ 51 bilhões em fundos no fim de julho, segundo a Anbima, associação que representa o setor.
Evite a pechincha: uma ação que está barata há muito tempo deve ser de uma empresa ruim
Boa parte dessa rentabilidade é creditada aos tiros certeiros de Stuhlberger, que, cioso de seus segredos, raramente conta como trabalha. O gestor paulista de 59 anos abriu uma exceção em uma palestra no VI Congresso do Mercado de Capitais, realizado em Campos do Jordão, no fim de agosto, pela BM&FBovespa. DINHEIRO esteve lá.Stuhlberger e sua equipe avaliaram cerca de 130 empresas e compararam seus desempenhos, incluindo a variação das cotações e o pagamento dos dividendos, entre o início de 2008 e agosto de 2013. A pesquisa derrubou alguns mitos do mercado. Em primeiro lugar, os tipos de companhias cujas ações se deve evitar:
1- empresas pré-operacionais, chamadas por Stuhlberger de ?dream cap?. Ele evitou cuidadosamente citar nomes, mas o exemplo mais evidente são as companhias X, do empresário Eike Batista. As ?dream caps? formaram o grupo que apresentou o pior desempenho, com uma perda acumulada de 38% em cinco anos. Independentemente da qualidade da empresa, estabelecer um preço justo para as ações é difícil, o que amplia os riscos.
2- empresas reestruturadas. Vendidas pelos consultores como uma panaceia, as reestruturações não têm agregado valor aos acionistas. Seu desempenho médio, em cinco anos, foi uma perda de 14%, o segundo pior resultado.
3- empresas conhecidas como ?deep value?, nome bonito para as pechinchas. São ações negociadas a preços inferiores ao valor patrimonial. Teoricamente, se a empresa for liquidada, a venda de seus ativos cobre o desembolsado com a ação. Na prática, não é assim tão simples. A rentabilidade média dessas ações em cinco anos foi de 18%, o que representa um ganho de pouco mais de 3% ao ano. Essa conclusão vai de encontro à sabedoria tradicional de mercado. ?Se uma ação vem sendo negociada persistentemente abaixo de seu valor patrimonial, isso pode ser uma indicação de que a companhia não é boa?, diz Stuhlberger.
Warren Buffett: no longo prazo, vale a pena pagar mais caro
por papéis de empresas de excelente qualidade
4- estatais. Não fizeram uma figura tão ruim quanto as pré-operacionais e as pechinchas. Em média, renderam 37% em cinco anos. Cabe aqui um alerta de que essa é uma média simples, ou seja, empresas menores são comparadas com Petrobras e Banco do Brasil, alguns dos papéis mais negociados do mercado.
Em seguida, Stuhlberger tratou dos dois grupos de ações com bons desempenhos.
5- oligopólios, empresas que possuem uma participação relevante nos segmentos em que atuam. Não por acaso, a capacidade de influenciar nos preços de mercado e a possibilidade de impor barreiras fortes à entrada de novos concorrentes são um bom negócio. Na média, as ações de empresas classificadas como oligopolistas foram as de melhor desempenho, com um ganho acumulado de 138% em cinco anos.
6- empresas de qualidade. Termo difícil de definir, qualidade, na pesquisa da Credit Suisse Hedging Griffo, é a capacidade de uma empresa de oferecer uma rentabilidade de investimentos consistentemente superior a seu custo de capital, a famosa geração de valor para o acionista. Empresas assim reconhecidas são as queridinhas do mercado, e suas ações são muito valorizadas. O surpreendente é a confirmação de que, mesmo sendo papéis caros, eles costumam ter um desempenho muito bom. Em cinco anos, esse grupo rendeu 128%, superando com folga os 35,3% de inflação e os 70,4% de juros acumulados no período. ?Aqui temos a confirmação de que vale o ensinamento de Warren Buffett?, diz Stulhberger. ?É muito melhor comprar uma empresa maravilhosa por um preço justo do que comprar uma empresa justa por um preço maravilhoso.?