Ricardo Amaral não para. No seu escritório com uma vista de tirar o fôlego para o Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, o empresário, paulistano de nascimento, carioca por opção, dedica 12 horas por dia para cuidar de todos os seus negócios, que vão desde um bar para degustação de charuto até o lançamento de um novo selo editorial, passando por um megaprojeto turístico no litoral fluminense. A entrevista, confirmada com duas semanas de antecedência por conta da agenda lotada, foi interrompida algumas vezes, ora por ligações telefônicas inadiáveis, ora pela chegada da secretária com cafezinhos (três, no total). 

 

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Curioso e incansável: o paulistano de nascimento e carioca

por opção afirma que vai trabalhar até o último dia de sua vida

 

?Já fiz tanta coisa nessa vida que muitas vezes atribuem a mim feitos que nem são meus?, diz, sorrindo, o homem que por 30 anos foi agraciado com o título de ?Rei da noite carioca?. Nascido no bairro de Perdizes, em São Paulo, Amaral, que já vive há 50 anos no Leblon, no Rio, tornou-se conhecido no meio social pelo jeito amigável com que trata as pessoas que acaba de conhecer. ?Se eu fosse uma pessoa fechada, provavelmente não teria chegado aonde cheguei?, afirma ele, que aos 72 anos ainda sai quase todas as noites para bares e restaurantes da cidade, sempre acompanhado por sua mulher, Gisella, com quem está casado há 48 anos. 

 

Entre seus amigos figuram o cirurgião plástico Ivo Pitanguy e os empresários Alexandre Accioly e José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, o ex-todo-poderoso chefão da TV Globo. São esses mesmos amigos influentes que apoiam a mais nova investida de Amaral no mundo dos negócios. O empresário estreia em breve o selo de publicações Rara, em parceria com o grupo Leya, já experiente no mercado editorial. Só neste ano, ele pretende lançar 25 livros, em sua maioria autobiografias, como as assinadas por Pitanguy, Accioly e o produtor de cinema Luiz Carlos Barreto. Em março, será a vez da biografia de Chacrinha, cujos direitos autorais já foram vendidos para uma adaptação para o cinema. 

 

?O que eu quero é gerar conteúdo, independentemente do formato impresso, digital ou audiovisual.? Amaral acredita que a sua influência é um ponto positivo no mercado editorial. ?Não adianta querer escrever um livro sobre o Pitanguy e não ter acesso a ele?, afirma. O médico, por sua vez, reconhece que a amizade de longa data inspira confiança para realizar tal projeto. ?O Ricardo é confiável e um grande empreendedor. Quando ele se propõe a fazer algo, coloca todas as suas fichas nisso?, afirma Pitanguy. Mas não é só ao mercado editorial que Amaral tem se dedicado. Um projeto bilionário que compreende os mercados de turismo, lazer e imobiliário na Costa do Peró, entre Búzios e Cabo Frio, ocupa grande parte de seu tempo. 

 

?Será um megaempreendimento com vários parceiros. Só a extensão do lugar é de mais de quatro milhões de m²?, diz. No projeto, orçado em R$ 1,1 bilhão, serão abrigados um resort Club Med, mansões assinadas por arquitetos como Luiz Eduardo Indio da Costa, restaurantes e lojas de grife. Com a ajuda de diversos parceiros, o projeto, idealizado e capitaneado pelo próprio empresário, ocupará 8% da praia preservada com vegetação nativa e dunas, que nos anos 1990 pertencia ao extinto Banco Boa Vista. Apesar dos projetos paralelos, Amaral não descarta voltar para a noite e fazer jus ao título pelo qual ainda é lembrado por muitos. 

 

Mesmo bem-sucedido no jornalismo, foi como proprietário de clubes noturnos que ele realmente se consagrou. Amaral foi dono de bares e boates que fizeram sucesso no Brasil e lá fora, entre os 1970 e 1990, como Sucata, Hippopotamus, Mamão com Açúcar, Resumo da Ópera, Sal & Pimenta e Metropolitan, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Suas aventuras no Exterior, como o Le 78, em Paris, e o Alô Alô, em Nova York, também deram o que falar e atraíram celebridades e socialites da época. No ramo editorial, ele ajudou a implantar revistas badaladas como Vogue, com Luis Carta, e Status, com Domingo Alzugaray, fundador da Editora Três, que edita a DINHEIRO. 

 

Na Status, inclusive, posou de Papai Noel ao lado da atriz e modelo catarinense Magrit Siebert nua para a capa da publicação, em 1975. ?Foi um porre?, diz ele, em tom jocoso. ?A minha história é comprida demais para contar em uma entrevista.? De fato, ele tem muitas histórias para contar. Lá pela primeira metade dos anos 1960, no início de sua vida profissional, Amaral teve a sorte, por exemplo, de conhecer a atriz francesa Brigitte Bardot em sua passagem pelo Brasil e jantou com ninguém menos do que o diretor de cinema italiano Federico Fellini. 

 

Como colunista social, organizou e participou das festas mais badaladas da época e cultivou uma inimizade declarada com o ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros, por conta de notas apimentadas sobre as aventuras extraconjugais da autoridade. O que chegou a provocar uma mudança temporária (e forçada) para Roma, até que ?os ânimos se acalmassem?. Por essas e por outras, é impossível entrevistá-lo e não se lembrar do filme Peixe grande e suas histórias maravilhosas, do diretor Tim Burton, com título autoexplicativo. A diferença é que as histórias de Ricardo Amaral aconteceram de verdade, nos mínimos detalhes, por mais inverossímeis que pareçam. ?Eu acho que já fiz mais coisas do que deveria fazer nesta vida, mas, se depender de mim, trabalho até o dia da minha morte?, afirma. 

 

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