Não há cirurgia plástica ou botox que faça a Barbie rejuvenescer. Desde 2001, a boneca que acompanhou gerações e gerações de meninas americanas vem perdendo espaço para Cloe, Yasmin, Jade e Sasha, conhecidas como as Bratz. O quarteto tem vendas anuais estimadas na casa dos US$ 500 milhões – praticamente a metade do faturamento de sua fabricante MGA enquanto a Barbie vende US$ 1,25 bilhão. Até aí, a liderança da Barbie não parece ameaçada. Mas o problema é que suas vendas declinaram 12% no primeiro trimestre, só na terra do Tio Sam. Segundo estimativas de especialistas, sete em cada dez bonecas vendidas são Bratz. A queda ocorreu porque o mundo encantado de Barbie envelheceu. Segundo analistas, o estilo dondoca da Barbie ainda é preferência entre as mais novas, até sete anos de idade. “Mas à medida que essas crianças crescem, se transformam em pequenas consumidoras mais descoladas e pouco se identificam com o jeito Barbie de ser”, explica Luis Dix, diretor de atendimento da agência Energy. É nesse cenário que surgiu a nova febre do momento, as Bratz, fabricadas pela MGA Entertainment e licenciadas no Brasil pela ITC Licensing.

Durante certo tempo, a Mattel, fabricante da Barbie, tentou ignorar a ascensão das rivais. Mas, em 2004, foi à Justiça, ao descobrir que seu criador, o designer norte-americano Carter Bryant, era funcionário da Mattel. A informação chegou em uma carta anônima e a pendenga judicial se arrasta até hoje. No jogo do disse-me-disse, a Mattel alega que Carter estava vinculado à empresa ao conceber sua criação. Já o designer e a própria MGA afirmam que ele estava afastado da Mattel naquele período. Recentemente, Mattel e Carter assinaram um acordo, no qual a empresa retira o pedido de indenização no valor de US$ 35 milhões referente ao direito de propriedade industrial. O tratado rendeu reclamação por parte da MGA. A empresa alega que o acordo prova sua inocência no caso e, por isso, entrará com pedido de indenização de US$ 1 bilhão para que a gigante de brinquedos “não volte a fazer isso na próxima vez que quiser competir com eles”, segundo as próprias palavras do presidente da MGA, Isaac Larian.

A BARBIE VENDE US$ 1,25 BILHÃO, ENQUANTO AS BRATZ ATINGEM US$ 500 MILHÕES POR ANO EM VENDAS

Fora dos tribunais, a Mattel tenta recuperar o coração das meninas. Lançou as Barbie My Scene e as Divas, mas nenhuma delas alcançou o sucesso das Bratz. “Elas são mais descoladas, mas continuam com aquele perfil pueril e interiorano de Cinderela que a Barbie tem”, acredita Dix. No Brasil, a Mattel não revela números das vendas da boneca. E a ITC Licensing não se manifestou. De acordo com a Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), as bonecas representam 55% do volume de negócios do setor de brinquedos, que no ano passado bateu em R$ 1,2 bilhão. Para este ano, a previsão de crescimento é de 8%. De qualquer forma, a situação no País também não é favorável para a Mattel, já que, no ano passado, 850 mil unidades das linhas Barbie, Polly e Batman foram recolhidas para recall por conter acessórios de ímãs que poderiam descolar e tornar-se um perigo para as crianças que manuseiam estes brinquedos. A briga judicial soma-se a este fato negativo do recall. “A ida aos tribunais, mesmo que não respingue em território nacional, nunca é um bom sinal para a marca”, explica a diretora relatora da Associação Brasileira de Propriedade Industrial (ABPI), Maitê Moro. Enquanto não há decisão judicial, a Mattel terá de usar a criatividade de seus designers para atrair o antigo público. Desde que não seja Carter Bryant.