13/02/2015 - 17:00
O megabilionário americano Warren Buffett, terceiro homem mais rico do mundo, e o empresário de origem húngara, George Soros têm algo em comum além das contas bancárias com nove dígitos. Diferentemente da maioria dos investidores, eles não se intimidam nos momentos de crise. Ao contrário. Eles, e outros bilionários, aproveitam essas horas de incerteza para ampliar suas fortunas. Essa capacidade vem sendo comprovada com números. Desde o início da crise financeira internacional, em outubro de 2008, o número de bilionários no mundo duplicou.
A fonte é a organização não governamental inglesa Oxfam, que se dedica à erradicação da miséria e analisa sistematicamente dados sobre a riqueza. Assim, a turbulência esperada para 2015 deverá estimular os muito, muito ricos a abrir suas carteiras e investir. Para três casas de investimentos consultadas por DINHEIRO, a estratégia a ser usada pelos bilionários neste ano terá duas partes. “O primeiro semestre será, para eles, um período de proteção, mas, a partir da segunda metade do ano, a tendência é que esses investidores passem a adotar uma estratégia mais agressiva”, diz Leonardo Bortoloto, sócio da consultoria financeira paulista Aditus.
Sua empresa presta serviços para 27 familly offices que, em conjunto, acumulam recursos da ordem de R$ 20 bilhões. Segundo Bortoloto, a busca por defesa começou antes da eleição presidencial de 2014, com um movimento amplo de transferência de dinheiro para o exterior. A parcela destinada aos ativos internacionais cresceu de 15%, no início do ano passado, para 30%, em dezembro. “Esses clientes também começaram a comprar ações americanas, pois a bolsa de Nova York vai muito bem”, diz ele. O dinheiro que ficou no Brasil foi colocado a salvo do Leão, em Letras de Crédito Imobiliário (LCI), em títulos pós-fixados e em debêntures incentivadas.
Já os fundos imobiliários e os multimercados deixaram de ser uma boa opção, devido à turbulência econômica e à deterioração do mercado imobiliário. As incertezas da economia brasileira deverão manter a demanda por proteção em níveis elevados, acredita Mauro Rached, diretor de gestão de fortunas da filial brasileira do banco francês BNP Paribas, que tem ao redor de € 300 bilhões sob gestão no mundo (o equivalente a US$ 341,10 bilhões). De acordo com Rached, os clientes têm perfis de risco distintos e agem de maneiras diferentes diante da crise. “Alguns, mais tensos, chegam a entrar em pânico, outros são muito sossegados e há os que ficam no meio-termo, que é o perfil ideal”, diz ele.
“Esse último grupo pensa de forma mais pragmática e tem noção de que boas oportunidades devem surgir neste ano.” Em outras palavras: bilionário que permanece bilionário age com antecedência, exemplo de Joseph Safra que fechou, ainda em 2014, a compra da Chiquita Brands por US$ 1,3 bilhão, ao lado de José Cutrale. Rached revela que as mudanças nas carteiras começaram já em 2013. “Tivemos uma grande migração dos ativos para o exterior e agora o investidor que protegeu seus investimentos está esperando o segundo semestre para decidir o que vai fazer.” As oportunidades podem aparecer antes disso, diz José Eduardo Martins, sócio da GPS, gestora controlada pelo grupo financeiro suíço Julius Baer, com R$ 19 bilhões sob gestão.
Segundo Martins, em 2015 os bilionários deverão mirar o mercado imobiliário e o investimento direto em empresas, através dos fundos de private equity. Muitos imóveis novos deverão ser lançados com desconto em relação aos preços anteriores à crise, e comprar participações em empresas está mais barato. “Neste momento, nossos clientes estão com a maior parte de seu patrimônio em ativos financeiros de curto e de médio prazos e 20% em fundos de private equity e incorporações imobiliárias”, diz ele. Em momentos de crise, os preços baixos seduzem os bilionários, atraídos pela possibilidade de comprar barato e vender caro mais adiante. Nesse time, ao contrário do futebol, o Brasil vai bem.
O País conta com 65 representantes, que acumulam US$ 122 bilhões, em uma lista encabeçada por Jorge Paulo Lemann, o fundador do extinto Banco Garantia, dono de uma fortuna de US$ 24 bilhões. Além de banqueiros como Safra (US$ 14, 4 bilhões), a lista traz empreendedores tecnológicos como o co-fundador do Facebook Eduardo Saverin (US$ 4,1 bilhões). Saverin, hoje vivendo em Cingapura, é um ávido investidor em empresas de internet. Também há empresários que fizeram fortuna com ações, como Lírio Parisotto (US$ 1,8 bilhão). Todos, sem exceção, seguem a recomendação de Buffett, o mais famoso caçador de pechinchas. “Seja audacioso quando as pessoas têm medo”, afirma o dono da Berkshire Hathaway.