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O dia 15 de setembro se destaca no calendário do mercado financeiro mundial desde o ano passado. Foi nesta data que o Lehman Brothers, o quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos, escancarou uma crise que já incomodava desde o segundo semestre de 2007. Sua ação despencou 94% e fechou cotada a irrisórios US$ 0,21 no final do pregão daquela segunda-feira, na bolsa de Nova York. A falência desse gigante, que deixou um passivo calculado em US$ 100 bilhões, fora decretada.

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15 de setembro de 2008 A falência do Lehman Brothers contamina todas as bolsas pelo mundo. O Ibovespa fecha com queda de 7,9% e o Dow Jones perde 505 pontos

 

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18 de setembro de 2008 Cresce a ansiedade na Bolsa de Nova York. Ações oscilam fortemente e a queda do índice Dow Jones na crise reduz-se a 402 pontos

 

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7 de outubro de 2008 Wall Street vira símbolo do desespero dos mercados. A queda do Dow Jones é a maior em cinco anos e chega a 1.975 pontos

 

O pânico se espalhou, os governos foram chamados a intervir e os investidores viraram passageiros que assistiam a seus bens voarem pela janela. Um ano depois da tormenta, a recuperação econômico-financeira impressiona. O Ibovespa, o principal índice da BM&FBovespa, subiu mais de 100% desde o piso de 29 mil pontos, que aconteceu há menos de 12 meses. Na quarta-feira 16, ultrapassou a barreira dos 60 mil pontos. Se tudo parece indicar a volta da bonança, quais foram as lições que não podem ser esquecidas?

 

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Retrato rabiscado de Dick Fuld, ex-CEO do Lehman Brothers, que lamentou não ter sido salvo pelo Tesouro dos EUA e deixou um passivo de US$ 100 bilhões

Os economistas fazem seus exercícios. Querem entender quais foram os principais erros que impediram o sistema de prever e evitar essa bolha. Richard Berner, do Morgan Stanley, listou suas cinco sugestões: regulação forte, supervisão rigorosa, flexibilidade no câmbio, maior equilíbrio econômico entre os países e criação de saídas eficientes para momentos de tensão. E o que você precisa saber para se proteger e evitar que seu patrimônio vire pó do dia para a noite? DINHEIRO foi em busca desta resposta e destaca cinco lições que podem ajudá-lo a manter-se menos exposto no futuro.

1 Diversificação
O otimismo exagerado é inimigo do bom investidor. Ele perde a cautela, engole o medo e apaga qualquer risco que aparece pela frente. Age mais pela emoção do que pela razão. “Quando tudo vai bem, as pessoas tendem a concentrar seus investimentos. A diversificação é sempre importante, no cenário bom e no ruim”, diz Luiz Fernando Figueiredo, sócio da Mauá Investimentos. Porém, não basta apenas dividir seus recursos em diferentes cestas. A verdadeira diversificação é mais difícil de se atingir do que realmente parece. Para buscar o equilíbrio, analise sua carteira e veja se existem ativos que estão correlacionados. Por exemplo, comprar ações e ter uma parte do dinheiro em um fundo de ação é um mau sinal. É bem provável que, se a bolsa cair, você fique com uma tremenda dor de cabeça. “Uma carteira equilibrada é a chave para retornos positivos”, afirma Arturo Bris, professor de finanças do Instituto Internacional de Desenvolvimento de Gestão (IMD, em inglês).

 

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2 Recomendação
As análises de compra e venda de ações são muito sensíveis aos períodos de euforia e depressão. Era difícil ouvir de um analista a sugestão de compra quando o Ibovespa estava abaixo dos 30 mil pontos, porque a tendência ali era ir para o fundo do poço. “O sangue-frio é importante para transformar o vestígio de pânico em racionalidade na hora da compra”, diz Frederico Mesnik, sócio da Humaitá Investimentos. Por outro lado, era raro escutar alguém pedir cautela com a bolsa acima de 55 mil pontos e a previsão de que vai continuar subindo. “O medo de ficar de fora da bolsa quando ela está em alta faz o investidor comprar ações sem olhar o risco e a liquidez. É isso que leva ao desespero nos reveses”, diz Inácio Ponchet, sócio da Duna Asset Management. Neste momento, muitas empresas brasileiras planejam ir ao mercado de capitais, como o Santander e a Brazilian Finance and Real Estate. Mas a volta das aberturas de capital (IPOs, em inglês) deve ser analisada com cautela. Não são todas as empresas que se tornam investimentos interessantes no longo prazo. O histórico recente mostra que o investidor mais perdeu do que ganhou. “Pense: se o dono entende e confia no negócio, por que ele está vendendo parte da empresa com tanta velocidade?”, questiona Ponchet. Fique atento a toda a indicação recebida. Você pode estar entrando em uma furada. Analise todos os pontos positivos e negativos antes de decidir pela compra de uma ação. “Invista sempre em empresas com ativos tangíveis”, diz Bris, do IMD.

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3 Liquidez
Durante muito tempo, o investidor brasileiro se acostumou com os fundos de renda fixa que tinham baixo risco, alto retorno e liquidez diária. O mundo está mais arriscado e vai ficar assim daqui em diante, lembra a revista Money. Este parece um recado direcionado ao Brasil, que experimenta uma novidade na sua história econômica. A taxa Selic, que remunera os títulos públicos do governo, está na casa de um dígito – atualmente em 8,75% ao ano. O investidor que quer uma rentabilidade maior precisa abrir mão da liquidez e colocar um pé no risco. “Fundos com maior carência ou ações com menor liquidez não são um erro do investidor, desde que ele se lembre do maior risco e não pense apenas no retorno”, diz Alexandre Póvoa, sócio do Modal Asset Management. Quem não se sentir confortável com essa nova realidade deve se lembrar da fase pré-Lehman Brothers, quando houve uma corrida para comprar papéis de segunda e terceira linhas, especialmente em IPOs na Bovespa. Buscava-se a prometida valorização dessas ações sem preocupação se haveria interessados em recomprá-las depois. “A liquidez é vantajosa, pois dá agilidade para montar e desmontar os investimentos”, afirma Mesnik, da Humaitá.

 

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4 Globalização
A boa e a má notícia que podem influenciar a alta ou a queda do mercado de capitais são recebidas ao mesmo tempo em todas as partes do mundo. É essa rapidez na comunicação que faz tudo se transformar de uma hora para outra. E a bolsa dos países emergentes é um prato cheio para os resgates dos investidores estrangeiros. O investidor não domina o tempo de mercado. E o que significa isso? O pequeno poupador não é um especialista, por isso não deve tentar acertar o melhor momento para comprar ou para vender uma ação. Quem opta por negociar via home broker precisa olhar as principais notícias mundiais. A queda no preço do minério afeta o papel da Vale, assim como o consumo de óleo pelos países do Norte atinge a Petrobras. “O investidor precisa ficar mais esperto e ser mais ágil nas suas decisões”, afirma Póvoa, do Modal.

 

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5 Alavancagem

O exagero no tamanho da alavancagem levou o sistema financeiro ao colapso. DINHEIRO revelou no ano passado uma série de exemplos de investidores que, apoiados na autoconfiança, se desfizeram de bens pessoais, como o imóvel, para aplicar no mercado financeiro em instrumentos complexos como os derivativos ou compras nos mercados de opções (sem garantia) e a termo (pagamento no futuro). Não foram poucos os exemplos dos que perderam boa parte de suas economias. Cuidado ao querer inflar seus ganhos. É como ganhar músculos com a ajuda de anabolizantes. Quando o problema estoura, ele é mais difícil de ser administrado. Como é difícil visualizar o que vem pela frente, fica o recado de Armínio Fraga, sócio da Gávea Investimentos, no 4º Congresso BM&FBovespa, em agosto. “É difícil prever as crises e preveni-las. Por isso, a tendência é uma segurança maior para os investidores, limitando os espaços para a alavancagem excessiva.” No final, a principal lição é que é importante esperar o melhor, desde que se esteja preparado para o pior.

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