Não foi por falta de aviso. A presidente Dilma, contrariando recomendações do próprio ministro da Fazenda, Joaquim Levy, teimou em enviar ao Congresso um orçamento para 2016 com déficit nas contas e antecipou, dessa maneira, algo que já se vislumbrava no horizonte: o rebaixamento do grau de investimento do Brasil por uma agência de risco, com a avalanche de dificuldades que o quadro provoca. Durma-se com um problema desses! Empresários já preocupados com a paralisia do mercado interno e a fuga de capitais têm de se preparar agora para mais uma tungada nos seus resultados.

O Governo quer aumentar impostos. Uma rebelião contra a proposta está em curso. Os gastos oficiais desmedidos são consequência exclusiva dos descalabros no setor público. É a opinião geral. E o governo só pode culpar a ele mesmo pelos erros. A agência Standard & Poor’s, que retirou o selo de bom pagador do País, foi clara em apontar na sua exposição de motivos que “faltou vontade e habilidade” ao Governo. Atribuiu a pouca “coesão” do ajuste fiscal e da peça orçamentária parte da responsabilidade pela revisão da nota.

Resultado: o Brasil mergulha daqui para frente em um turbilhão de instabilidade financeira, sem prazo para acabar. A variação cambial atingiu picos inéditos e, numa só toada, fez disparar a dívida de uma infinidade de empresas que dependem de importações e crédito externos. Um levantamento da Economática com 107 companhias revela que a desvalorização cambial provocou por esses dias um custo extra de mais de R$ 43 bilhões na dívida em moeda estrangeira das empresas de grande porte. Só na Petrobras (que não foi contabilizada nesse universo) o salto do dólar representou um peso adicional da ordem de R$ 74,8 bilhões, fazendo disparar sua dívida e exigindo, por tabela, a venda de mais ativos.

Nesse caminho de enfraquecimento do parque industrial é possível dimensionar o tamanho da encrenca herdada pela economia brasileira. Por enquanto, o ambiente recessivo e os altos estoques têm suavizado o repasse cambial ao consumidor final. Mas os reajustes vão chegar. E no perverso ciclo de oferta/demanda em declínio devem retardar ainda mais a retomada do desenvolvimento. E há, dentro do Governo, quem ainda considere a situação como passageira.

(Nota publicada na Edição 933 da Revista Dinheiro)