06/06/2012 - 21:00
A Conferência Rio+20 está cercada por uma onda de ceticismo, especialmente no que se refere à capacidade de os governantes das principais potências do planeta chegarem a um entendimento em relação às medidas necessárias para deter o avanço do aquecimento global. Trata-se de uma situação oposta à vivida na Conferência Rio 92, que deixou como um de seus principais legados o acordo que deu origem à Convenção da Biodiversidade. Hoje, na falta de uma agenda capaz de unir os entes governamentais, o único protagonista que poderá dar o tom na conferência, que será realizada entre os dias 13 e 22 de junho na capital fluminense, é o setor privado.
A Rio 92 colocou o Brasil no centro do debate mundial sobre a sustentabilidade. O desafio,
20 anos depois, é fazer da nova conferência, em junho, um espaço relevante de debates.
No período de 20 anos que separa os dois encontros, os conceitos de sustentabilidade e economia verde mexeram com as corporações, alterando sua atuação em diversas áreas. Desde a forma como elas produzem, até o modo como apresentam seus resultados. Além de prestar contas aos acionistas de suas estratégias e ações no campo financeiro, os gestores também são obrigados a contar qual foi seu desempenho na seara socioambiental. A sustentabilidade, atualmente, é parte integrante da estratégia de um número crescente de empresas. Esse fenômeno vem sendo capturado por diversas pesquisas e estudos realizados por consultorias globais. Uma delas, feita pela britânica Grant Thornton, mostra que 52% das companhias ouvidas adotaram tecnologias limpas com o intuito de reduzir seus custos de operação.
Outras 45% optaram por essa via como forma de ampliar sua lucratividade. Aqui no Brasil, essa onda também é cada vez mais forte. Os estádios que serão os principais palcos da Copa do Mundo de 2014, como o Maracanã, no Rio de Janeiro, estão sendo construídos e reformados levando em conta os princípios da sustentabilidade. Mais. O BNDES está comercializando o Fundo Ecoo11, destinado a investir em ações de empresas de primeira linha que divulgam suas emissões de carbono. É bem verdade que essa mudança de postura não ocorreu da noite para o dia nem foi fruto de um voluntarismo empresarial. Além da cobrança dos acionistas, a sociedade vem se mostrando cada vez mais vigilante em relação ao mundo corporativo.
Na linha de frente estão ONGs, como o Greenpeace e a Peta, que prega o fim da crueldade contra os animais por meio da adesão ao vegetarianismo. Vigilantes, elas já desmascararam inúmeras empresas quem tentaram surfar na onda do ambientalmente correto com o intuito de “lavar sua imagem”. As corporações são, de fato, mais sensíveis à pressão da sociedade. Mas os governos não ficam atrás. Alguns exemplos recentes indicam que mais que um fórum como a Conferência Rio+20, espaço importante do ponto de vista político-institucional e como arena privilegiada de debates de alto nível, a mobilização da população pode, em muitos casos, apressar o ritmo da marcha rumo à economia verde.
Exemplos recentes ocorreram tanto no Brasil, com a campanha maciça de veto a alguns artigos do novo código florestal, como no caso do fechamento de usinas nucleares, na Europa. Na Alemanha, onde esse programa está mais adiantado, acaba de ser batido o recorde de geração de energia solar. Essa modalidade mostrou, na prática, que é capaz de garantir metade das necessidades energéticas do país. A Rio+20 pode não ser um fim em si mesma. Mas o início de um novo processo de conquistas em prol da preservação do planeta. E nessa onda, empresas, governos e a sociedade, devem surfar juntos.