24/04/2002 - 7:00
Existem duas Black & Decker no mundo. A nave-mãe americana é sinônimo de ferramentas elétricas (furadeira, cortador de grama, parafusadeira e plaina, entre outros). Tem filiais espalhadas por 50 países e fatura US$ 4,4 bilhões. Um de seus filhotes, a subsidiária brasileira, aparece como honrosa exceção. Por aqui quem dá as cartas são os eletroportáteis (ferro elétrico, batedeiras, liquidificadores e grill, por exemplo), que respondem por 65% das receitas. Não foi por outro motivo que a Black & Decker decidiu manter intocável essa linha no País, quando vendeu suas fábricas de eletroportáteis em 1998. O prestígio da divisão frente à matriz continua elevado. Na última semana, Paul McBride, presidente mundial da Black & Decker, veio ao Brasil avaliar o desempenho da filial e traçar as metas para este ano. Gostou do que viu e ouviu em sua rápida passagem por aqui: ?A equipe local está fazendo um excelente trabalho?, elogiou. E não é para menos. Apesar de competir com rivais do porte da Philips e Arno, a B&D vem conseguindo impor-se neste mercado. No ano passado, sua participação no segmento de eletroportáteis pulou para 28%; crescimento de quatro pontos percentuais em relação a 2000. As receitas também aumentaram (5,8%), atingindo a cifra de R$ 180 milhões. Para este ano, a expectativa é cravar R$ 190 milhões.
O bom momento vivido pela Black & Decker não é fruto do acaso. Deve-se a um profundo processo de ajustes, iniciado em meados de 2001. A subsidiária foi praticamente virada de ponta-cabeça. A construção de uma fábrica em Cruzeiro (SP) foi suspensa e as operações concentradas em Uberaba (MG). Com isto, foi possível reduzir os custos fixos em R$ 4,5 milhões. Para escapar dos sobressaltos do mercado cambial, a direção da companhia ampliou os investimentos no programa de nacionalização dos eletroportáteis e ferramentas. Atualmente, a empresa trabalha com patamares de 98% e 95%, respectivamente. A meta é chegar a 100% até o final de 2003. Para atingir tal objetivo, a direção da Black & Decker vai investir US$ 12 milhões no período 2001-2003. Itens com baixo volume de vendas, como facas elétricas, por exemplo, vão continuar sendo adquiridos de parceiros instalados no Sudeste Asiático.
Apesar do inabalável prestígio dos eletroportáteis, o segmento de ferramentas das linhas hobby (usadas em serviços domésticos) e profissional ? que leva a marca DeWalt ? não foi esquecido. ?Vamos ampliar nossa linha de produção nessa área?, conta Oswaldo Vitoratto Júnior, executivo que responde pelas operações na América Latina e Caribe. Os planos contam com total aval do chefão McBride, que tem um carinho especial pelo chamado segmento ?faça-você-mesmo?, intimamente ligado à origem da Black & Decker. A dupla Vitoratto-McBride está mesmo de olho no grande potencial deste filão cujas vendas já atingem R$ 1,6 bilhão no Brasil.