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A alta da bolsa, que chegou a 53 mil pontos, é sustentável ou eufórica? Fernando Penido, 22 anos

 

Não é eufórica. O Brasil é bem menos dependente do mercado externo do que outras economias emergentes, e temos setores que foram pouco afetados pela crise. É compreensível que haja uma recuperação mais rápida. Além disso, com o aumento de dólares no mercado, o saldo comercial subiu. E, fora do Brasil, nem todos os investidores quebraram. Quem tem dinheiro está procurando bons retornos e maior estabilidade e o Brasil oferece justamente isso. A intensidade da alta das últimas semanas pode diminuir e pode haver uma correção, mas nada brusco. É improvável que aconteça uma tragédia, como ocorreu com a bolsa no final do ano passado.

Tharcisio Souza Santos, professor e vice-diretor da Faculdade de Administração da Faap

ELES NASCERAM NA ERA da hiperinflação, da moeda instável, da transição democrática – mas não se lembram de nada disso. Desconhecem a época dos planos econômicos mirabolantes e os sacrifícios que os brasileiros fizeram para chegar até aqui. Mas é essa massa de 32.659 investidores com idade entre 16 e 25 anos que investe em ações diretamente na BM&FBovespa e enfrenta agora uma das maiores crises da história do capitalismo. Esses jovens acreditam que investir 100% das economias em ações não é tão arriscado assim. Afinal, possuem toda uma vida para acumular ativos. E é nas mãos deles e de seus colegas de geração que estará a bolsa dentro de algumas décadas.

DINHEIRO procurou alguns deles para conhecer suas dúvidas e angústias sobre o mercado financeiro e a economia. Confira as mais importantes e as respostas dos especialistas. As universidades são potentes aglutinadoras de jovens interessados no mercado de capitais. Somente em 2008, a BM&FBovespa esteve em 150 escolas de ensino superior e recebeu outras 620 para mostrar aos alunos o que é um pregão eletrônico. No total, mais de 24 mil universitários visitaram a bolsa no ano passado. Entre as pessoas físicas donas de R$ 72 bilhões em ações, as com idade entre 16 e 25 anos detêm R$ 660 milhões.

Nada mal para indivíduos recém-ingressados no mercado de trabalho e que conseguem poupar em meio ao turbilhão de alternativas de consumo que os cercam. Rafael Furlan, 20 anos, é um deles. Aos 16, começou a ler com voracidade publicações relacionadas à economia. Não demorou a pegar o dinheiro de sua caderneta de poupança e “brincar” na bolsa. Ele prefere as small caps, empresas com menor valor de mercado. “Os preços das blue chips já voltaram a um patamar próximo ao de antes da crise. As small caps, não. Têm mais oportunidade de alta”, diz.

 

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A bolsa prevê a revisão nas regras do Novo Mercado para que se tornem mais rígidas Diego Rodriguez, 24 anos

 

A BM&FBOVESPA já está revisando as regras do Novo Mercado pela quarta vez. Esta revisão não pretende relaxar ou endurecer as regras. Foi motivada pelo fato de tanto o mercado quanto a legislação que regula as companhias abertas terem chegado rapidamente a um nível de sofisticação que criou novas situações não previstas. A crise financeira gerou inúmeros questionamentos sobre a eficácia das estruturas de governança das empresas. A atualização tem por objetivo assegurar a eficácia, o valor e a atratividade do Novo Mercado para investidores e empresas.

Cristiana Pereira, diretora da BM&FBovespa

Hoje, Furlan é aluno do quarto ano de administração de empresas na FGV, em São Paulo, e não se cansa de fazer questionamentos sobre os melindres do mercado. “As fontes de informação são o maior problema. Os RIs jamais vão falar mal da própria empresa e as carteiras recomendadas por analistas são confusas. Uns dizem para vender e outros dizem para comprar a mesma ação”, constata o estudante. O comportamento dos analistas, segundo Furlan, é um dos principais focos de dúvida.

“Todos falavam para comprar ações da Magnesita, e ela só caiu. E Aracruz e VCP, que todos diziam para vender, são as empresas que mais sobem. Não dá para entender”, rende-se o rapaz. As dúvidas de Furlan são compartilhadas por milhares de investidores que acompanham com perplexidade o salto e a queda de determinados papéis. É da vida. “O mercado está baseado em fundamentos, sensibilidade e percepção. Por isso está sujeito a tantas opiniões distintas e avaliações que nem sempre são legitimadas”, diz Tharcisio Souza Santos, vice-diretor da Faculdade de Administração da Faap.

OS JOVENS ATÉ 25 ANOS TÊM R$ 660 MILHÕES INVESTIDOS EM AÇÕES NA BOVESPA

A recente alta da bolsa, que subiu mais de 40% em 2009, também é fonte de dúvida para os estudantes que investem. Apesar da impulsividade comum da idade, a preocupação com os bons resultados do Ibovespa é uma constante entre eles. “A bolsa subiu muito e não se sabe se todo esse aumento vai gerar uma busca por realização nas próximas semanas”, indaga o estudante de economia Fernando Penido, 22 anos, aluno da Faap. Na carteira de Penido, que investe desde os 20 anos, estão ações como Petrobras, Randon e Vale. Ele prefere as blue chips pela segurança, mas anda com dúvidas em relação aos papéis da Petrobras.

“Tenho medo de que a CPI contra a companhia revele alguma buraqueira que tenha um impacto negativo no preço da ação”, admite. A expectativa dos analistas é um pouco mais branda que a do estudante. Na Ágora Corretora, nenhuma reavaliação do papel será feita antes de serem comprovados fatos prejudiciais à empresa. “Os fundamentos da Petrobras continuam os mesmos e não vamos alterar nada com base em especulação”, afirma o analista Luiz Otávio Broad. Enquanto a maioria dos jovens investe quantias pequenas e aprende entre tombos e acertos, alguns podem se dar ao luxo de terceirizar as preocupações.

É o caso do estudante de direito da PUC-SP, Diego Rodriguez, 24 anos, que investe desde os 19. No início, Rodriguez aplicava quantias pequenas, resultado de suas economias. “Comecei a trabalhar muito cedo, aos 17 anos, e tinha aquela ilusão de que a bolsa ia me deixar rico rápido”, relembra o estudante, que optava por papéis da Vale, Petrobras e Itaúsa. Ao assumir os negócios de sua família (uma corretora imobiliária), Rodriguez passou a ter somas maiores de dinheiro para investir e optou por atribuir o trabalho à gestora de recursos Verax. Apesar disso, as dúvidas continuam rondando seu bolso. “Nunca entendi qual é o peso dos fatos no valor de uma ação. Se uma notícia ruim cai sobre uma companhia, a ação despenca.

E quando algo bom ocorre, nem sempre o papel sobe. Essa dinâmica é incompreensível”, afirma o futuro advogado. Mesmo investidores com décadas de experiência também buscam explicação até hoje. Fábio Gallo, professor da FGV, replica a dúvida do estudante com uma máxima reconfortante. “O mercado é formado por decisões tomadas por seres humanos. E seres humanos não são guiados essencialmente pela razão. Então, como esperar do mercado um comportamento racional?” Algumas perguntas jamais terão uma resposta precisa.

 

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Responde Luiz Fernando Figueiredo, sócio da Mauá Investimentos e ex-diretor do Banco Central

 

A crise pode estar próxima do fim? Até que ponto vale a pena ser otimista?
Márcio Lima, 3º ano de administração de Empresas,
Mackenzie

Afastados os riscos de uma quebra generalizada do sistema financeiro e com o acúmulo dos efeitos das políticas expansionistas adotadas pelos países no mundo inteiro, o pior da economia mundial parece ter ficado para trás. Por outro lado, a necessidade de ajustes estruturais (como a redução do endividamento do consumidor norte-americano) devem fazer com que a economia mundial demore mais a voltar a crescer próxima ao seu nível potencial. Hoje, os riscos são menores, mas ainda é necessário muita cautela na hora de tomar decisões de investimentos.

O Brasil no qual investimos é melhor do que 20 anos atrás?
Rafael Mendonça, 4º ano de relações internacionais, UnB

Muito melhor. Hoje, a transparência do sistema, a previsibilidade macroeconômica e a regulação são melhores. Há 20 anos estávamos no auge da hiperinflação. Em 1989, a média mensal da inflação no Brasil foi de quase 30%, mais que o acumulado nos últimos cinco anos. Era muito difícil ter qualquer previsibilidade sobre preços de ativos. Imagine como era investir em ações neste cenário! O tripé macroeconômico que permitiu a evolução dos últimos anos – metas inflacionárias, (alguma) responsabilidade fiscal e câmbio flutuante – não passava de um sonho distante. Avançamos com as privatizações, a reforma da lei das S.A., a reformulação da CVM e a criação do Novo Mercado da Bovespa.

Responde Fabio Barbosa,
presidente do Grupo Santander e da Febraban

Por que devemos acreditar tanto na economia brasileira?
Juliano Silva, 3º ano de economia, FEA-USP

A inadimplência, apesar de ter se elevado nos últimos meses, não chega a níveis que possam comprometer a saúde do sistema bancário. Ainda mais num cenário em que os juros estão caindo e tendem a cair mais. O Brasil deve ser menos afetado pela crise e sair antes dela do que a maioria dos demais países. Isso é fruto do nosso desenvolvimento institucional dos últimos vinte anos, da nossa estabilidade macroeconômica e da solidez do nosso sistema financeiro. Mas sem ilusões: nem o mundo, nem o Brasil serão como antes.

Como confiar no sistema bancário do Brasil?
Mariela Degreas, 4º ano de administração de empresas, PUC-RJ

As características do sistema bancário brasileiro são bem diferentes das do norteamericano. Aqui, os bancos são mais conservadores, menos alavancados e têm uma carteira de crédito pulverizada, não exposta a risco do tipo subprime ou derivativos em geral. O Banco Central do Brasil tem um poder de regulamentação, de fiscalização e de supervisão maiores. Não temos a figura do banco de investimento “independente”, que nos EUA atuava praticamente sem supervisão e acabou sendo um dos pivôs da crise. O crédito imobiliário, base da crise nos EUA, aqui ainda representa 2% do PIB. Em resumo: nosso sistema é mais capitalizado, menos alavancado, mais regulado e pouco exposto aos setores mais problemáticos.

 

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Até que ponto a análise fundamentalista influencia no preço de um papel? Rafael Furlan, 20 anos

 

Se todos levassem a análise fundamentalista a ferro e fogo, elas ditariam o preço de um papel. Mas as pessoas acabam tomando decisões influenciadas pelo aspecto emocional: se uma ação está barata demais, compra-se, pois a subida poderá proporcionar bons ganhos. Ou compra-se uma ação apenas por se tratar de uma grande empresa e não porque ela tenha os melhores fundamentos. O efeito psicológico é muito forte e as pessoas não são totalmente racionais. Se uma empresa mantém fundamentos positivos por um longo período, certamente terá um bom desempenho no longo prazo.

Fábio Gallo, professor de Finanças da FGV