O Brasil vive tempos estranhos. Enquanto empresas nacionais e multinacionais instaladas no País fortalecem o respeito humano como um valor corporativo, uma parte da sociedade vem erguendo bandeiras pelo retrocesso de costumes. Há muitos anos, companhias como a IBM, o HSBC e o Itaú Unibanco estimulam políticas de diversidade, respeitando os funcionários homosse­xuais, garantindo-lhes, por exemplo, a extensão de seus planos de saúde aos parceiros do mesmo sexo. Uma pesquisa divulgada no ano passado pela consultoria Tower Watson mostrou que havia passado de 41%, em 2010, para 66% o número de empresas preocupadas em conceder esse benefício a seus funcionários. 

 

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Um abissal contraponto a personagens como o pastor Marco Feliciano, deputado federal pelo PSC de São Paulo, eleito para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara, que ganhou os holofotes por suas declarações grosseiras contra os homossexuais. O pastor, que é renegado até por grupos evangélicos, teve, ainda, a baixeza de declarar, em certa ocasião, que pessoas aidéticas não tinham alma. Na contramão desse tipo de pensamento obtuso, empresas, como a mineradora Anglo American, criam comitês de apoio a funcionários portadores de Aids. Por sinal, uma das funcionárias brasileiras da Anglo American, contaminada com o vírus, teve de abrir o jogo, em 1998, para explicar suas faltas e sua queda de desempenho. 

 

Para garantir-lhe apoio num momento tão difícil, a empresa lhe deu a assistência necessária, com recursos extras para o tratamento, por exemplo. O retorno desse gesto foi mais do que positivo: atualmente, essa funcionária exerce a função de assistente de responsabilidade social, para ajudar a elaborar ações de prevenção a doenças sexualmente transmissíveis a todos os funcionários. O setor corporativo tem ajudado a promover mudanças de paradigmas importantes na sociedade, como a inclusão de pessoas com deficiência. Uma lei, aprovada em 2004, obrigou as empresas a reservar-lhes de 2% a 5% dos postos de trabalho – de paraplégicos a deficientes visuais e auditivos, entre outros. 

 

Outra vez, o mundo empresarial acabou liderando uma evolução de costumes, que não se vê da porta para fora do mundo corporativo. Bas­ta constatar o número ínfimo de rampas em lugares públicos. Para facilitar a vida dos cadeirantes, as companhias fizeram adaptações em sua arquitetura. A lei acabou beneficiando a contratação de pessoas que jamais teriam oportunidade de trabalho. A rede de farmácias Droga Raia, por exemplo, chegou a ter balconistas com síndrome de Down em unidades de São Paulo, o que despertava surpresa e simpatia de sua clientela. Iniciativas como essa vêm integrar essas pessoas especiais, a ponto de um dos filmes mais vistos nas últimas semanas nas salas de cinema, Colegas, ter como protagonista um trio com síndrome de Down.

 

Há uma gama de ações empresariais que constrastam com a realidade do País. Enquanto se debate como tratar os viciados em crack nas ruas, diversas companhias contam com projetos de apoio a funcionários adictos, que ganham suporte psicológico para que mantenham a produtividade. Iniciativas do gênero confirmam que é preciso exercitar o respeito ao outro para que se torne um hábito no País. O pastor Feliciano deveria ouvir não só a voz das ruas que o rejeitou em atos públicos, mas prestar atenção em como algumas empresas são valorizadas por cumprir seu papel social, além de visar ao lucro.