10/09/2003 - 7:00
Rogério Fasano está ansioso. O rei da gastronomia de São Paulo balança as mãos, ajeita a cadeira e, a cada passo, arruma um objeto fora do lugar. O telefone toca sem parar. ?Alô!?, diz com leve acento italiano. ?Já vou resolver?, completa. ?Os detalhes são fundamentais, eles farão a diferença?, explica. Ele parece repetir uma máxima do arquiteto alemão Mies van der Rohe (1886-1969), o mestre da Bauhaus: ?Deus está nos detalhes?. Na segunda-feira, 8 de setembro, Rogério mostrará o quão cruciais eles são. O Hotel Fasano, no bairro dos Jardins, área nobre de São Paulo, abrirá suas portas. Resultado de uma parceria com João Paulo Diniz, herdeiro do Pão de Açúcar, é o empreendimento hoteleiro mais esperado do ano. Primeiro porque leva o nome de um ícone da comida de qualidade e, depois, porque o Fasano, restaurante que fez a fama de Rogério, também mudou-se para lá.
Projetado pelos arquitetos Isay Weinfeld e Márcio Kogan, a um custo de R$ 50 milhões, o hotel foge do convencional. O lobby é uma espécie de sala de estar com poltronas francesas e bar. A recepção fica na parte de trás sem interferir no ambiente. À direita encontra-se o restaurante Fasano e, à esquerda, o bar Baretto. As paredes do novo Fasano são em ipê, o chão é de mármore. Uma imensa clarabóia no teto oferece iluminação natural. Livros de culinária, com mais de 200 anos, completam a decoração. ?Pretendo dar um salto na gastronomia com menus regionais da Itália?, diz ele. Isso se traduz em um salão com capacidade para 90 pessoas ? metade do antigo endereço. Haverá quatro tipos de pratos em cada refeição. O chef Salvatore Loi e o próprio Rogério Fasano viajarão freqüentemente à Itália e trarão receitas e ingredientes de lá, como a polenta mais granulada produzida apenas em Bergamo. O Baretto, considerado pela revista inglesa Wallpaper como um dos 20 melhores bares do mundo, será o local mais descontraído, com vida noturna agitada. ?Teremos shows de grandes músicos como o pianista Bobby Short?, diz Rogério. A opção gastronômica mais palatável aos bolsos é a Trattoria do Nonno Rugero, em memória ao avô de Rogério, no 1º andar.
Hoje a cidade de São Paulo tem 22,3 mil apartamentos de hospedagem, mas a taxa de ocupação é de apenas 35%. O Fasano nasce em um setor saturado. Mas para Rogério isso também é um mero detalhe. Como vencê-lo? A idéia é transportar toda a experiência gastronômica à hotelaria. ?Queremos levar calor humano e a delicadeza do serviço?, diz. ?Requinte não é ter o melhor sommelier do mundo, requinte é o dono do restaurante trocar o cinzeiro da mesa?, resume. O sócio João Paulo Diniz assina em baixo. ?Teremos um atendimento mais personalizado?, afirma Diniz.
Plaza Athenée. A excelência no atendimento será mantida por um batalhão de 180 funcionários. Alguns deles trazidos dos quadros dos principais hotéis do mundo, como o gerente geral Marco Vazzoler, do Four Seasons de Milão, e Hans Wegner, do Plaza Athenée de Paris. O serviço será coordenado sob os rigorosos olhos de Fabrizio Fasano, o patriarca da família. Os cuidados com hóspedes darão, na verdade, o tom a um ambiente especial.
Os tijolos aparentes foram importados da Inglaterra. No melhor estilo anos 30, o piso de cada um dos 64 quartos foi confeccionado em tacos de madeira. Os móveis foram garimpados em antiquários na França e na Inglaterra. Não há quadros nas paredes, apenas livros e mapas antigos comprados em Nova York. A hospedagem mais cara, a da suíte com dois quartos, terá diária de R$ 2,65 mil. O mais barato: o apartamento superior, por R$ 944. Os hóspedes também terão ao seu dispor um centro de fitness e relaxamento, com ofurôs e saunas, no último andar. Até a rua sofreu alteração para abrigar o hotel. Rogério Fasano e João Paulo Diniz investiram R$ 700 mil para retirar os fios de eletricidade aparentes e aumentar o número de árvores no local. Em troca, a Prefeitura de São Paulo mudou o nome da antiga Rua Taiarana para Rua Vittorio
Fasano. Uma homenagem ao bisavô de Rogério, imigrante italiano
que desembarcou no Brasil em 1902 e fez de seu sobrenome o sinônimo da boa mesa. Agora, seu bisneto quer transformá-lo em símbolo máximo da hospedagem.