O braço direito é financeiro. Reúne o Banco Espírito Santo Investment (Bes), a corretora BES Securities e uma participação de 3,8% no Bradesco. O esquerdo é agropecuário e controla fazendas de café na Bahia, soja no Tocantins, limão em Botucatu (SP) e gado no Paraguai. Mas não é só isso. O conglomerado tem ainda um ramo de negócios imobiliários ? com sociedade no Shopping e no Condomínio Villa-Lobos, em São Paulo, e na Quinta da Baroneza, no interior do Estado ? além de participações na rede Accor Brasil, na Bradespar e no Grupo Monteiro Aranha. No topo de tudo isso, há uma só cabeça. É o grupo familiar português Espírito Santo, dono de um império luso-brasileiro sustentado por dois pilares: a discrição e o faro para bons negócios. ?Somos reservados por natureza, mas nunca estamos satisfeitos com o que já temos?, admite Ricardo Espírito Santo, presidente do Espírito Santo Investment.

Sem alarde, como é de seu feitio, o banco acaba de se mudar para uma nova e elegante sede na Zona Oeste de São Paulo e inaugurar uma divisão para gerir recursos de investidores institucionais. Em seu quartel-general zero quilômetro, o principal executivo do grupo no Brasil acerta detalhes para o início de mais uma atividade. ?Estamos em fase de aquisição de um terreno para construção de um hotel perto de Salvador nos próximos dois anos.? A família Espírito Santo é dona da cadeia Tivoli, em Portugal, com 14 hotéis de quatro e cinco estrelas. Tem também a maior agência de turismo lusa e a companhia aérea Portugalia. ?Chegou a hora de entrar no turismo no Brasil?, diz Ricardo. Que não se imagine, porém, que falta foco ao Grupo. ?Nosso core business é financeiro?, garante. Dona do segundo maior banco privado de Portugal, a família Espírito Santo sabe que tem muito o que avançar no Brasil. ?Aqui só temos um pequeno banco de investimentos?, reconhece Ricardo. O Bes trabalha com fusões e aquisições, tesouraria, bolsa e fundos. O banco ? fundado em 2000 ? tem R$ 82 milhões de patrimônio líquido e R$ 700 milhões em ativos.

Seus grandes momentos foram a intermediação da compra do BBV Brasil (subsidiária brasileira do banco espanhol Bilbao Vizcaya) pelo Bradesco e da aquisição da Tele Centro-Oeste Celular pela joint-venture Telefónica-Portugal Telecom. Não por acaso, os dois negócios ? que, somados, chegam a US$ 2 bilhões ? envolvem empresas espanholas, portuguesas e brasileiras. Bem posicionado dos dois lados do Atlântico, o Bes ambiciona ser o principal intermediário no eixo ibero-americano. E tem boas credenciais. ?Eles são uma referência. Quando se fala em Espírito Santo, as portas se abrem?, atesta Carlos Vasconcellos Cruz, presidente da Portugal Telecom Investimentos Internacionais. Para o executivo do maior grupo português, a empresa conterrânea é um fenômeno de recuperação. ?Eles reconstruíram um império em tempo recorde?, diz.

Cruz se refere à estatização do Grupo Espírito Santo, em 1974, na Revolução dos Cravos. Destituída de suas empresas, a família imigrou para o Brasil capitaneada pelo pai de Ricardo Antônio Espírito Santo. Logo de cara, o clã montou o Banco Interatlântico. A partir daí os negócios e os parceiros se multiplicaram. Monteiro Aranha, JP Morgan e Credit Agricole na área financeira; os franceses da Accor na criação da Ticket; o construtor Oscar Americano e, mais recentemente, o Bradesco, que comprou do Espírito Santo o Banco Boavista no ano 2000, numa operação de troca de ações que resultou em participações cruzadas. Em 1990, a família recomprou o Banco Espírito Santo em Portugal e, desde então, passou a investir nos dois países. Hoje, a organização portuguesa é acionista da NET, Vale, CPFL, VBC, Ultra, Klabin e Cisper, além dos empreendimentos imobiliários. ?Gestão ativa, só no banco e nas fazendas. No resto, somos só investidores?, enfatiza Ricardo.