20/12/2013 - 21:00
O mercado de trabalho no País vive uma realidade inédita, para o bem e para o mal. No campo das boas notícias está a menor taxa de desemprego da história. Pelos cálculos do IBGE, o índice ficou em 4,6% no mês passado, o mais baixo da série histórica, iniciada em 2002. Palmas para o governo. Graças a isso, o consumo segue em alta e a inadimplência em baixa, garantindo o crescimento do PIB – embora anêmico – e, consequentemente, o próprio emprego da equipe da presidenta Dilma Rousseff. Pode parar de aplaudir. Sem tirar o mérito da conquista, não se pode esconder o fato de que ainda há muito para melhorar. Por várias razões.
Os estudos mensais do IBGE expõem apenas a realidade das regiões metropolitanas das principais capitais, e não o que se passa no interior do País. Fora dos grandes centros, a informalidade é gigantesca, os rendimentos médios são baixos e o cumprimento das leis trabalhistas é artigo de luxo – cenário que, nem de longe, condiz com uma situação de pleno emprego. Mesmo nos principais centros produtivos do País, como São Paulo e Rio de Janeiro, o desemprego em patamares mínimos tem criado grandes desafios para as empresas. Não pela falta de candidatos, mas pela escassez de mão de obra qualificada.
Um recente levantamento realizado pela Fundação Dom Cabral com 130 executivos de companhias de grande porte em todo o País revelou que 92% deles têm dificuldades para empregar trabalhadores preparados para os cargos que oferecem. Entre os principais obstáculos citados na pesquisa, 81% das respostas mencionaram a escassez de profissionais capacitados, 49% citaram a falta de experiência na função e 42% reclamaram da deficiência na formação básica. Apenas como comparação, a burocracia, a carga tributária e a alta dos juros são temas que preocupam menos os empresários.
Para compreender o que uma coisa tem a ver com a outra, podemos dizer o seguinte: é necessário, na geração de emprego, focar, a partir de agora, na qualidade, não na quantidade. Em tempos em que o País importa médicos, sofre com a falta de engenheiros e não encontra cientistas para seguir adiante, é consenso que esse nivelamento por baixo corrói a competitividade e o nível de produtividade da economia brasileira no longo prazo. Soma-se a isso um baixo rendimento médio, de apenas R$ 1.965,20 por mês. A situação é oposta à realidade de outras economias. Na Europa, há qualificação demais e vagas de menos. Com o forte investimento em tecnologias nos processos produtivos nas últimas décadas, muitos postos de trabalho foram gradativamente extintos.
E, como não há área mais sensível às oscilações econômicas do que o mercado de trabalho, a crise europeia levou o emprego ao colapso. Na Espanha, um em cada quatro trabalhadores está em casa. Na Itália, a desocupação atinge 40% na faixa entre 20 e 35 anos. Pelos números da Organização Mundial do Trabalho, há 200 milhões de desempregados no mundo, que respondem por cerca de 5,9% da força de trabalho global. No caso do Brasil, dito isso, há motivos para comemorar e razões para se preocupar. Podemos, por enquanto, celebrar os bons resultados. No ano que vem, quem sabe, seja hora de pensar na realidade do emprego com menos euforia e mais pragmatismo.