A participação de empresas populares, como a Caixa, e sofisticadas, como a Air France, mostra como a injeção de recursos na cadeia produtiva do petróleo vem gerando oportunidades para o sistema financeiro. “O petróleo será a atividade empresarial mais importante do Brasil e deverá movimentar US$ 600 bilhões nos próximos dez anos”, diz Edmilson dos Santos, professor da Universidade de São Paulo e especialista em energia. 

 

110.jpg

 

Tanto capital aguça o apetite dos financistas. Bancos de investimento e seguradoras disputam profissionais especializados na indústria petrolífera e travam duelos pelos principais contratos. 

 

Na segunda-feira 13, o empresário Eike Batista anunciou uma venda de ações de suas empresas de mineração e logística para empresários sul-coreanos. Nos dias que se seguiram, correram fortes rumores de que investidores chineses poderiam aportar US$ 7 bilhões nas atividades petrolíferas de Batista. 

 

Nomes como Itaú BBA, BTG Pactual e Goldman Sachs, entre outros, mobilizam seus executivos para conquistar mandatos como esse e garantir comissões. A operação mais evidente é a capitalização da Petrobras, que poderá movimentar US$ 75 bilhões e que começou na segunda-feira 13. Não é a única. 

 

106.jpg

 

A espanhola Repsol, a australiana Karoon e a brasileira HRT já pediram autorização à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para lançar ações na bolsa. Elas não divulgaram quanto pretendem captar, mas suas necessidades de recursos para investimento e capital de giro atingirão bilhões de dólares nos próximos dez anos. 

 

Os bancos de investimento terão muito mais negócios para fazer além de lançar ações. “Só os investimentos em refino deverão demandar US$ 30 bilhões por ano entre 2010 e 2014”, diz Carlos Eduardo Mellis, diretor do banco Itaú BBA.

 

Segundo Mellis – que ressalva não estar comentando a capitalização da Petrobras –, boa parte dos recursos de longo prazo virá de operações estruturadas, que requerem investidores com bolsos recheados, disposição para correr algum risco e paciência. São adequados para atrair fundos de pensão e fundos soberanos internacionais. É nessa intermediação que vão entrar os bancos de investimento.

107.jpg

 

O setor vai demandar também alguns bilhões de dólares em apólices de seguro. A guerra pelos melhores clientes já começou. “O mercado de contratações de executivos está muito aquecido”, afirma Rafael Pol, diretor comercial da AON, corretora de seguros especializada em grandes riscos.

 

“Os contratos são muito específicos e precisam de técnicos qualificados.” Além de garantir os riscos da exploração do óleo e do gás, algo que entrou em evidência após o desastre ecológico provocado pela British Petroleum no Golfo do México, as seguradoras terão de cobrir navios, estaleiros e serviços de manutenção e conservação. “O total dos prêmios do setor deverá movimentar R$ 150 milhões este ano”, diz Pol. Esse montante poderá dobrar nos próximos três anos. 

108.jpg

 

Os bancos de varejo também querem a sua parte. A Petrobras prevê investimentos de US$ 224 bilhões até 2014 e esse dinheiro vai lubrificar as engrenagens de mais de 30 mil fornecedores, gerando oportunidades de crédito e transferência de recursos. “A Petrobras é a empresa que possui hoje a maior capacidade de mobilizar uma cadeia produtiva”, diz Rodrigo Caramez, diretor do HSBC responsável pelos produtos de pessoa jurídica. 

 

A mobilização dos bancos de varejo para explorar esse filão já deu os primeiros frutos: os seis grandes que atuam no Brasil se uniram ao sistema de transações informatizado Progredir, lançado pela Petrobras na semana passada durante a Rio Oil & Gás, feira de negócios que é um dos maiores eventos mundiais do setor.

 

109.jpg

 

Pelo sistema, fornecedores da empresa poderão registrar seus contratos e antecipar os recursos junto aos bancos. “Os negócios podem chegar a US$ 15 bilhões no primeiro ano de funcionamento”, diz Renan Mascarenhas Carmo, diretor responsável pelos negócios com poder público do Bradesco. 

 

O maior banco do País não quer ficar atrás nessa corrida. “Começamos a estruturar uma equipe especificamente para o setor de petróleo há dois meses”, afirma Walter Malieni, diretor de crédito do Banco do Brasil. 

 

Os empréstimos do BB para o setor são de R$ 21,7 bilhões, mais de 11% do total da carteira do banco. “Queremos mais”, afirma o executivo. Com ligeiras alterações, esse discurso pode ser ouvido nas diretorias dos bancos em todo o país. 

 

Colaborou Márcio Kroehn