A morte na terça-feira (30), aos 91 anos, de Mikhail Gorbachev, o último líder da URSS, suscitou homenagens no Ocidente, onde seu papel crucial no fim da Guerra Fria e sua luta pela paz foram saudados, com destaque especial seis meses após o início da invasão russa da Ucrânia.

A emoção das reações ocidentais contrasta com a sobriedade do presidente russo, Vladimir Putin, para quem “Mikhail Gorbachev foi um político e um estadista que teve uma grande influência na evolução da História do mundo”.

“Ele guiou nosso país por um período de mudanças complexas e dramáticas, e grandes desafios de política externa, econômicos e sociais”, disse em um telegrama de condolências divulgado pelo Kremlin.

Em um comunicado, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, saudou Gorbachev como um “líder excepcional”. Suas ações foram as de um líder com “imaginação suficiente para ver que outro futuro era possível e a coragem de arriscar toda a sua carreira para alcançá-lo. O resultado foi um mundo mais seguro e mais liberdade para milhões de pessoas”.

Para o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, Gorbachev “o mundo perdeu um imenso líder mundial, comprometido com o multilateralismo e incansável defensor da paz”, “um estadista único que mudou o curso da História” e “fez mais que qualquer outra pessoa para conseguir um final pacífico da Guerra Fria”

A China elogiou o papel do último líder soviético na aproximação de Pequim e Moscou, após três décadas de ruptura.

– Sonho “em ruínas” –

“Gorbachev deu uma contribuição positiva para a normalização das relações entre a China e a União Soviética”, disse o porta-voz da diplomacia chinesa, Zhao Lijian.

“As reformas históricas de Mikhail Gorbachev levaram à dissolução da União Soviética, ajudaram a acabar com a Guerra Fria e abriram a possibilidade de uma parceria entre a Rússia e a Otan”, comentou o secretário-geral da Aliança Atlântica, Jens Stoltenberg, no Twitter. “Sua visão de um mundo melhor continua sendo um exemplo”.

O presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, prestou homenagem ao último líder soviético, agradecendo-lhe “por sua contribuição decisiva para a unidade alemã” e sua “coragem para a abertura democrática e a construção de pontes entre o Oriente e o Ocidente”.

Este sonho está “em ruínas, destruído pelo ataque brutal da Rússia à Ucrânia”, acrescentou.

“Ele morreu em um momento em que não apenas a democracia falhou na Rússia, mas onde a Rússia e o presidente russo (Vladimir) Putin provocaram novas divisões na Europa e lançaram uma guerra terrível contra um país vizinho, a Ucrânia”, acrescentou o chanceler alemão, Olaf Scholz.

“Ele mostrou pelo exemplo como um único estadista pode mudar o mundo para melhor. Mikhail Gorbachev também mudou minha vida de maneira fundamental. Nunca vou esquecê-lo”, testemunhou a ex-chanceler Angela Merkel, que cresceu na Alemanha Oriental.

– “Queda da Cortina de Ferro” –

“Sempre admirei a coragem e a integridade que ele mostrou para acabar com a Guerra Fria”, tuitou o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.

“Em um momento de agressão de (Vladimir) Putin na Ucrânia, seu incansável compromisso com a abertura da sociedade soviética continua sendo um exemplo para todos nós”, insistiu.

Para o francês Emmanuel Macron, Mikhail Gorbachev foi um “homem de paz cujas escolhas abriram um caminho para a liberdade para os russos. Seu compromisso com a paz na Europa mudou nossa história comum”.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, saudou no Twitter “um líder confiável e respeitado” que “desempenhou um papel crucial no fim da Guerra Fria e na queda da Cortina de Ferro. Ele abriu o caminho para uma Europa livre”, disse.

O chefe de Governo italiano, Mario Draghi, saudou a oposição de Mikhail Gorbachev a “uma visão imperialista da Rússia”.

“Marcou a história recente da Rússia, da Europa, do mundo. Depois de uma vida no Partido Comunista, ele pôs fim com coragem e determinação à experiência da União Soviética e procurou construir uma nova era de transparência, direitos , liberdade”.

“Mikhail Gorbachev está morto. Ele deu mais liberdade aos povos escravizados da União Soviética do que eles jamais tiveram, dando-lhes esperança de uma vida mais digna”, declarou o chefe da diplomacia polonesa, Zbigniew Rau.

O ministro das Relações Exteriores da Estônia, Urmas Reinsalu, foi mais crítico. “É bom que ele tenha iniciado o processo de reforma, mas também é bom que esse processo tenha continuado quando ele quis acabar com ele”, ressaltou.

Para o jornalista russo Dmitry Muratov, co-vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2021, Mikhail Gorbachev – que recebeu este Nobel em 1990 – “amava sua esposa mais do que seu trabalho, colocava os direitos humanos acima do Estado, valorizava mais um céu pacífico do que o poder pessoal”.

E o opositor russo preso Alexei Navalny enfatizou que Gorbachev “saiu do poder de forma pacífica e voluntária, respeitando a vontade dos eleitores. Isso por si só já é uma grande conquista para os padrões da ex-URSS”.