01/05/2014 - 19:00
De xícaras a automóveis de luxo. Os desenhos vibrantes e alegres de Romero Britto estão por todos os lugares. Sensação no Brasil e em Miami, onde reside desde o início dos anos 1990, o pernambucano chega a faturar mais de US$ 50 milhões por ano com os licenciamentos de suas gravuras em objetos dos mais variados tipos. As duas parcerias mais recentes do artista foram firmadas com a suíça Hublot, fabricante de relógios de alto padrão, e com a americana Mattel, de brinquedos infantis, dona da boneca Barbie. “Quero fazer negócios na Ásia e na Rússia também”, diz ele, atento ao crescimento dos mercados emergentes.
Britto conta que adorou trabalhar com as duas marcas de peso. “Cada parceria é interessante e tem uma história por trás, mas trabalhar com a Mattel sempre foi um sonho meu”, diz Britto. Com a companhia americana, o artista, que é também um dos embaixadores da Copa do Mundo do Brasil, criou a roupa da versão torcedora da Barbie, que estampa gravuras inspiradas no evento esportivo com início em junho. Já com a patrocinadora Hublot, ele fez uma escultura em formato de bola de futebol com seu design característico e com as cores do País. A Hublot não é a primeira grife de luxo a se associar a Britto. Entre as parcerias já feitas, se destaca a celebrada marca britânica de automóveis Bentley, da qual resultou um modelo Continental GT cuja pintura ganhou o acabamento pop do brasileiro.
O mesmo aconteceu com outras montadoras de luxo, como a Audi, e seu supervalioso modelo RS4, com a BMW e com o Mini Cooper. Em contrapartida, Britto já se uniu à Disney para fazer miniaturas dos ratinhos Mickey e Minnie, que custam poucos dólares. “Minha arte é democrática, pois não quero excluir ninguém no meu trabalho”, afirma Britto, que chega a cobrar até US$ 2 milhões por uma obra “As pessoas que não podem comprar o quadro original, compram os itens mais acessíveis.” Ao contrário de muitos de seus colegas, que detestariam ver suas obras de arte estampadas em uma canga de praia, Britto diz não ligar para isso. Idem para as críticas de que a sua arte é demasiadamente comercial.
“Eu sei que há muita gente esnobe, mas também há muita gente que me apoia”, afirma ele. Britto ganha uma porcentagem, ou royalties, para cada item licenciado vendido com uma imagem de sua lavra, mas explica que cada projeto é manuseado de maneira diferente. Para Marcos Bebendo, professor de gestão de marcas da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) de São Paulo, esse estilo comercial e festivo característico de Britto é o que o torna tão popular. “O primeiro passo para se tornar uma marca de sucesso é ser reconhecido no mercado”, diz o especialista. “O Romero Britto faz isso muito bem: você olha para algum desenho ou alguma gravura e sabe imediatamente que aquilo foi de autoria dele.”
O sucesso artístico e financeiro faz com que a vida de Britto, embora agitada e cheia de compromissos profissionais, seja confortável e divertida. Em sua garagem, estão estacionados pelo menos quatro carrões de fazer inveja a qualquer marmanjo: uma Ferrari, um Bentley, um Mustang e uma Land Rover. Entre seus amigos estão o ator hollywoodiano Arnold Schwarzenegger e o bilionário mexicano Carlos Slim, o segundo homem mais rico do mundo. Slim, inclusive, planejou o aniversário de 50 anos do pernambucano em seu magnífico museu próprio, na Cidade do México, com mais de 65 mil obras de arte (20 delas assinadas pos Britto), entre as quais pinturas de Van Gogh e esculturas de Rodin.
O artista tem em seu rol de clientes nomes estrelados como os cantores Madonna e Elton John e os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Bill Clinton. Sua fama, inclusive, já lhe abriu as portas da realeza europeia. Prova disso, foi sua participação no jantar no Palácio de Buckingham, em Londres, com a rainha Elizabeth e seu filho e sucessor, o príncipe Charles. Recentemente, Britto recebeu a ilustre visita do magnata australiano Rupert Murdoch em sua galeria em Miami. “No passado, as pessoas também torciam os narizes para Andy Warhol e hoje os quadros dele valem fortunas.” Com tanta coisa para contar aos netos, quem se importa com as críticas?