À primeira vista, o ambiente de um escritório e o cenário de uma corrida de aventura são tão compatíveis quanto ter um atleta de tênis e camiseta à frente de uma reunião de negócios ou um executivo de terno e gravata encarando uma trilha cheia de lama. Porém, um olhar mais sensível revela que essas duas atividades têm mais em comum do que se imagina. Disputas como o Ecomotion Pró, a maior competição da modalidade da América Latina, realizada entre os dias 12 e 18 no sul do Estado do Rio de Janeiro, são um verdadeiro laboratório a céu aberto para o desenvolvimento de técnicas de treinamento corporativo. Nessa prova ? na qual os atletas têm que remar, escalar, pedalar e caminhar por 558 quilômetros no menor tempo possível ?, corpo e alma são submetidos ao limite extremo. Qualquer semelhança com o competitivo mundo dos negócios não é mera coincidência.

Termos obrigatórios no dicionário empresarial como organização, planejamento, estratégia, espírito de equipe e definição de metas podem representar a distância entre o sucesso e o fracasso, tanto no escritório quanto na selva. No Ecomotion Pró, a equipe americana Team Sole foi a que melhor soube aplicar e lidar com esses conceitos. Não por acaso foi a campeã da prova. Os estrangeiros desembarcam no Brasil com uma estrutura invejável. Além dos quatro atletas, trouxeram dos Estados Unidos até cozinheira e dois mecânicos de bicicleta, peças fundamentais no apoio à equipe nas quase 100 horas de corrida. ?Soubemos explorar o melhor de cada um, sempre pensando no objetivo final. É uma boa lição de como deve proceder um grupo de trabalho?, afirma Aurélio Roldan, um dos integrantes do time.

O espírito de equipe foi o combustível que alimentou o melhor grupo brasileiro no Ecomotion. Para desespero dos machistas, as quatro meninas superpoderosas da Vivo Atenah chegaram na quarta colocação, deixando mais de 40 equipes compatriotas na poeira. Para a navegadora do time, Eleonora Audrá, a Nora, sinergia foi a palavra-chave para o êxito do quarteto. ?Antes de mais nada nós somos amigas e sabemos nos respeitar e trabalhar em conjunto. O problema é quando há no grupo alguém individualista, que quer forçar as outras a aceitar suas decisões.? Nora, que regularmente é contratada para ministrar palestras em grandes empresas, ressalta um outro ingrediente decisivo para o êxito num clima de acirrada concorrência. ?É preciso criatividade para superar obstáculos. Em uma corrida no Vietnã, quebrou o suporte do banco de uma de nossas bicicletas. Para seguir na prova, improvisamos um pedaço de tronco no lugar da peça danificada.?

Mas há quem faça questão de não assimilar as lições da cartilha. Esse foi o caso dos amazonenses da Márcio Soares Sports. A equipe chegou a Rezende, cidade do interior do Rio de Janeiro onde aconteceu a largada, sem carro de apoio. O veículo é item obrigatório no regulamento da competição. Para completar o mico, o quarteto chegou atrasado à largada. Resultado: acabou desclassificado pela organização. A experiência dos amazonenses é um case de como não se deve fazer negócios e corridas de aventura. A lição foi dada.

À ESPERA DO MUNDIAL

O desejo do Brasil de sediar uma etapa do Circuito Mundial de Corridas de Aventura está cada vez mais próximo de se concretizar. Na avaliação de Geoff Hunt (foto), dirigente da AR World Series, entidade que organiza a modalidade no mundo, o País reúne condições para realizar a prova já em 2008. Hunt esteve no País acompanhando o Ecomotion Pró 2006. ?Estou impressionado com a organização e a estrutura da prova. Isso sem falar na beleza do País?, diz Hunt. Responsável pelo Ecomotion Pró, o empresário Said Aich Neto calcula que serão necessários cerca de R$ 3 milhões para organizar a prova. ?Um evento como esse é ótimo para divulgar as belezas naturais e o turismo do Brasil lá fora.?