13/01/2010 - 8:00
“Podemos transformar o Brasil em um centro exportador para a GE e pretendemos criar no País um polo global de pesquisa”
Jeffrey Immelt PRESIDENTE MUNDIAL DA GENERAL ELECTRIC
Quando anunciou os resultados financeiros da General Electric em 2008, que não eram nada animadores, Jeffrey Immelt, o CEO mundial do grupo, fez um pedido delicado a outros diretores da empresa. Recomendou, em carta assinada, que nenhum dos executivos aceitasse o bônus milionário a ser pago naquele ano. Ele mesmo abriu mão de seus US$ 12 milhões. “Não me sentiria bem”, diz. Essa foi apenas uma das inúmeras decisões difíceis tomadas por Immelt nos últimos meses, período mais desafiador para ele desde que se tornou o número 1 da GE, em 2001. O momento mais complicado? “Não dá para falar o que foi pior”, disse Immelt na terça-feira 5, em visita ao Brasil. “Para dizer a verdade, quando se tem, digamos, uns 20 maus momentos, não é fácil escolher um só.” Os últimos resultados mostram que ainda respingam na empresa os efeitos negativos da fase conturbada. Até setembro de 2009, as vendas da GE caíram 15% no mundo – reflexo da redução de investimentos globais. No Brasil, as receitas do grupo atingiram US$ 3 bilhões em 2009, uma queda de 10%.
Immelt veio ao País, numa viagem de quatro dias, na tentativa de criar um cenário para novos negócios e, com isso, reverter resultados. “Podemos tornar o Brasil um centro exportador para a GE”, disse, em entrevista a jornalistas em São Paulo.
O executivo se encontrou com empresários e representantes do governo e acabou revelando a estratégia que adotou para fazer a quinta maior companhia do mundo voltar a crescer.
parceria: Neeleman, presidente da Azul, negocia novos contratos com a GE
Nas mãos de Immelt, a GE vai retornar às origens. O presidente decidiu reduzir a atuação da empresa no setor financeiro. Criada em 1932 (40 anos depois do nascimento do grupo), a GE Capital, que concentra suas atividades na concessão de empréstimos e financiamentos a empresas, chegou a responder por quase 40% das receitas globais da organização. Hoje, essa participação está em 33%. “Nos tornamos grandes demais e nos afastamos de nosso core business”, diz Immelt.
“Vamos focar de novo nossa atuação no negócio principal da empresa”. Em outras palavras: a fabricante quer mesmo é vender turbina de avião e geradores de energia. Um dos encontros que Immelt teve em São Paulo confirma a nova prioridade da empresa. O presidente da GE teve reuniões com David Neeleman, dono da companhia aérea Azul. “Estamos negociando novos contratos de manutenção. A conversa está evoluindo bem”, afirmou Neeleman à DINHEIRO. Durante sua estada no País, Immelt comentou que foi preciso tomar decisões tão rápidas a ponto de nem mesmo os investidores saberem o que ele estava fazendo.
“Nós mantemos a GE segura porque nos movemos mais rápido do que a concorrência”, afirmou. Entre as ações tomadas, estava o fim das operações na área de mídia. Em dezembro, o grupo confirmou a venda dos 51% que possuía da NBC Universal (dona do canal de tevê Universal Channel), por US$ 6,5 bilhões. “O que a GE vem fazendo não é ruim, mas não tem animado muito os acionistas”, diz Joel Levington, analista Brookfield Investment.
No Brasil, a GE faturou US$ 3 bilhões em 2009. Desse total, cerca de US$ 1,2 bilhão veio da unidade de Petrópolis (RJ), responsável pela manutenção de motores de avião. Immelt informou que está aplicando US$ 118 milhões em ampliações e novas linhas de produção no País e que cogita a abertura de uma unidade para a montagem de turbinas de avião na própria cidade de Petrópolis. Um dos projetos mais ambiciosos, mas que ainda depende de confirmação da empresa, é a abertura do primeiro centro de pesquisa e desenvolvimento de materiais na América Latina. Atualmente, só existem três unidades desse tipo no mundo.