05/09/2012 - 21:00
Se quisesse, Carlos Takahashi, presidente da empresa de administração de recursos do Banco do Brasil, a BB DTVM, poderia comprar todas as ações da Petrobras, todas as ações da Vale e ainda sobrariam uns trocados para arrematar o Pão de Açúcar. O paulista Takahashi, 51 anos, funcionário de carreira do BB, é o executivo responsável pela gestão dos R$ 447,8 bilhões aplicados nos 522 fundos da maior gestora do País. Os números, sob qualquer ângulo, impressionam. Quase dois milhões de investidores confiam seu dinheiro à empresa, que é imensamente lucrativa. No primeiro semestre, a BB DTVM repassou ao BB cerca de R$ 1,78 bilhão em receitas com taxas de administração, um avanço de 17% em relação ao mesmo período de 2011.
Renda variável: investidor deve procurar ações de empresas menores e boas pagadoras de dividendos
Se fosse uma companhia aberta, esse resultado a colocaria na 12ª posição entre os melhores resultados do semestre, à frente de gigantes como Cemig, Gerdau e Souza Cruz. As decisões de como investir bem essa fortuna passam, todos os dias, pela ampla mesa que Takahashi ocupa no sexto andar do prédio que anteriormente abrigava a Bolsa de Valores, no centro velho do Rio de Janeiro. Ali, ele dirige uma equipe de 282 pessoas. Observador privilegiado das idas e vindas do mercado, Takahashi diz estar otimista com relação à renda variável, no final de 2012 e no começo do ano que vem. “A economia europeia está caminhando aos trancos e barrancos, mas essa incerteza está computada nos preços das ações brasileiras”, diz ele.
Takahashi avalia que este ano apresentará um crescimento fraco, mas os prognósticos para a economia brasileira estão melhorando e isso produzirá uma injeção de ânimo no mercado. Sua principal aposta são as empresas pagadoras de dividendos, especialmente companhias de energia elétrica. Esses papéis vêm sendo alvo de algumas restrições do mercado devido à alta expressiva de suas cotações nos últimos meses e ao temor de que as medidas em estudo pelo governo para reduzir o preço da eletricidade afetem seus lucros. “Mesmo assim, são ações que vale a pena ter em carteira”, diz Takahashi. As justificativas são simples. “A recuperação econômica prevista para os próximos meses vai compensar com folga a perda no faturamento”, diz o executivo, que não recomenda ações individualmente.
Outra sugestão são empresas vinculadas à infraestrutura. Todas as companhias que fornecem insumos para as grandes obras, e também aquelas que prestam serviços de logística. “O setor, como um todo, promete ganhar muito dinheiro com os pacotes de desenvolvimento anunciados pelo governo, e promete fazer isso de maneira sustentável por um longo tempo.” Para quem tem mais tolerância ao risco, o executivo recomenda papéis do setor bancário e de empresas de construção. Ambos deram vários sustos nos investidores no primeiro semestre, mas Takahashi avalia que o pior já passou. “Se olharmos com cuidado os balanços do primeiro semestre, veremos que houve mais notícias boas do que ruins”, diz.
A inadimplência avançou, mas mesmo assim o total de empréstimos cresceu com qualidade, e a expectativa é que essa tendência não se altere ao longo do segundo semestre. “Os juros vão continuar caindo, as taxas devem encerrar 2012 em 7,25% ao ano, o que vai permitir a quem estiver endividado refinanciar seus empréstimos em condições mais favoráveis”, afirma. Com isso, a qualidade geral do crédito melhora e os lucros dos bancos, também. Outra aposta, menos óbvia, é no setor de construção civil. “O setor atravessou um período difícil, mas deve beneficiar-se indiretamente dos estímulos concedidos à infraestrutura”, diz ele.
Quem não se anima com a bolsa ainda pode encontrar uma maneira de desfrutar da tranquilidade da renda fixa sem ter de ver seu capital emagrecer. A redução dos juros compromete a rentabilidade das aplicações, mas Takahashi diz estar bastante otimista com as debêntures destinadas ao financiamento da infraestrutura e com os fundos que serão dedicados a elas. Por serem títulos de longo prazo, essas debêntures oferecem não apenas uma remuneração apetitosa como também estão a salvo da mordida do Leão. Em um ambiente de taxas mais baixas, qualquer ponto percentual a menos na hora de pagar imposto pode fazer a diferença entre o ganho e o prejuízo. “É bom ficar atento aos Fundos de Investimentos Imobiliários e Fundos de Direito Creditórios desses setores.
O pacote de incentivo à infraestrutura será um grande incentivo às companhias que exercem essas atividades”, diz ele. Que riscos exigem a atenção do investidor? O principal fator de preocupação ainda é externo, de acordo com Takahashi. Apesar de a crise na Europa já estar refletida nos preços, algum evento drástico – como o abandono do euro pela Grécia ou por outro país, por exemplo – vai causar bastante volatilidade. “Se o cenário europeu piorar, a economia mundial terá uma velocidade menor em 2013, mas o mundo caminha adiante”, diz ele. “O segundo semestre de 2012 será melhor que o primeiro, e os prognósticos para 2013 são ainda mais promissores. Então, há poucas razões para entrar em pânico.”