O Comitê de Política Monetária do Banco Central agiu corretamente e manteve a taxa básica de juros inalterada em 14,25% ao ano na reunião encerrada na quarta-feira, 20. Como afirmou a reportagem de capa da DINHEIRO na semana passada, é hora de travar o gatilho dos juros no Brasil, pois um eventual aumento das taxas – como se esperava no mercado financeiro – iria agravar a recessão econômica e piorar a crise fiscal do governo, em vez de ajudar a reduzir as pressões inflacionárias.

Foi uma vitória do bom senso contra a política dos juros reais mais altos do mundo (6% ao ano além da inflação esperada), prática que enriquece os rentistas e empobrece consumidores, empresários e o próprio governo, desestimulando os investimentos de longo prazo na economia real. Por isso, estão de parabéns os seis diretores do Copom que concordaram com a DINHEIRO e decidiram pela manutenção da Selic (dois outros votaram pela elevação em 0,5 ponto percentual).

Melhor seria, claro, se encontrassem uma maneira de reduzir a taxa para níveis mais civilizados. Como bem disse o respeitado economista Joseph Stiglitz ao serviço Broadcast, da Agência Estado, a política monetária do BC “estrangula a economia” brasileira. Não é preciso ser um Prêmio Nobel de Economia, como Stiglitz, para perceber que o BC perdeu o equilíbrio no combate à inflação com juros excessivamente altos, e está matando a economia. Foi o que ele disse.

Para reverter esse quadro, o presidente do BC, Alexandre Tombini, tem diante de si uma missão praticamente impossível: reconquistar a credibilidade perdida nos últimos anos, em que falhou sistematicamente em trazer a inflação para o centro da meta, de 4,5% ao ano. A economia é uma roda que gira conforme as expectativas de toda a sociedade, dos consumidores aos investidores e empresários, e atualmente elas são as piores possíveis. Tombini arranhou um pouco mais a credibilidade da política monetária e do sistema de metas de inflação do BC.

Na terça-feira, primeiro dia da reunião do Copom, assinou uma inesperada nota ao mercado sobre um relatório do FMI, que previu queda de 3,5% do PIB no Brasil em 2016. Com isso, deu uma guinada e indicou a manutenção da Selic, ao contrário da tendência de elevação da taxa, implícita nos comunicados anteriores. Ele fez o certo ao conter o gatilho dos juros, mas suas linhas tortas deixaram todo mundo atônito. Será que ainda dá para confiar no BC, o desacreditado guardião da moeda? Será muito mais difícil para Tombini, agora, reduzir a Selic sem alimentar o dragão das expectativas inflacionárias. Todos perdemos.

(Nota publicada na Edição 951 da Revista Dinheiro)