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“Temos muito espaço para crescer ” Anseloni, Presidente

 

 

 

No início de outubro, as portas de uma nova loja no shopping Anália Franco, em São Paulo, vão se abrir. Nas prateleiras, computadores, impressoras e servidores com a marca HP. O espaço, batizado de HP Store, é um dos 18 pontos de venda próprios que a empresa terá no País até o final do ano. Em 2010, esse número deve chegar a 40. Não, a HP, uma das gigantes na fabricação de computadores, não se transformou em uma empresa de varejo. As lojas que ostentam seu logotipo expõem um movimento que se alastra como um tsunami entre as fabricantes de hardware de todo o mundo.

Cada vez mais, computadores, impressoras e outros tipos de equipamentos se transformam em commodities, o que os coloca como alvo fácil da concorrência devastadora dos países asiáticos. Por isso, colossos como Dell, IBM e Cisco migram rapidamente para outros campos de atuação, nos quais as margens são maiores – e a HP não ficou indiferente a essa tendência. O grande passo nessa direção ocorreu em 2008, quando adquiriu a EDS, uma das maiores empresas de serviços em tecnologia da informação. No Brasil, quando acabar de digeri-la, em maio do próximo ano, a HP será uma organização seis vezes maior em número de funcionários. A matriz olha com atenção esse movimento por aqui. “O Brasil é visto pela corporação como uma oportunidade para manter seu crescimento acelerado”, afirma Mario Anseloni, presidente da HP do Brasil. Diferentemente das outras regiões consideradas mais maduras, a subsidiária brasileira não tem a liderança total em todos os mercados em que atua.

 

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Aproximação Com o Cliente: para crescer no País, a companhia aposta nas HP Stores e na ampliação da oferta de serviços com a incorporação da EDS

 

  

“Temos muito espaço para crescer”, garante Anseloni. Esse cenário pode ser lido de duas maneiras aparentemente contraditórias – embora ambas sejam verdadeiras. De um lado, a necessidade de expansão abre a porta para novos investimentos da companhia no mercado local. Por outro, revela que a subsidiária brasileira não reflete aqui dentro o que a corporação representa lá fora. Líder mundial em PCs, a empresa amarga aqui, segundo estimativas do mercado, a terceira colocação, atrás da Positivo e da Dell. Mais: de acordo com analistas, o Brasil responde por apenas 25% do resultado total na América Latina. Para reverter essa situação, a HP procura se aproximar mais do consumidor. Uma das estratégias é a abertura das HP Store. Semelhantes à Apple Store e à Samsung Experience, esses espaços darão glamour à marca HP.

Dez lojas já estão em funcionamento. Até o final do ano, mais oito serão abertas em São Paulo e em outras cidades de diversos Estados.
Ao mesmo tempo que se aventura no varejo, a HP volta-se definitivamente para a área de serviços com a compra da EDS por US$ 13,9 bilhões – que agora passa a chamar HP Enterprise Services. A aquisição permitiu reforçar sua posição na competição com a IBM. No entanto, há um grande desafio pela frente. A EDS tem quase 140 mil funcionários pelo mundo – a HP tem 300 mil. No Brasil, embora o número exato não seja divulgado, a proporção é dez mil contra dois mil. “A HP, que sempre foi voltada para as máquinas, terá que aprender a lidar melhor com gente. Será um grande desafio”, afirma o especialista em gestão tecnológica Adalton Ozaki, da Faculdade de Informática e Administração Paulista. Nesses momentos, sempre vêm à mente os acontecimentos de 2001.

Naquele ano, a fusão com a Compaq resultou em desastre. A prometida sinergia entre HP e Compaq não compensou os US$ 19 bilhões gastos e a então CEO Carly Fiorina, eleita pela revista Fortune a executiva mais poderosa do mundo, foi demitida. Desta vez, no entanto, HP e EDS mantiveram em sua carteira os 200 maiores clientes de outsourcing no mundo. Mais de 15 mil contratos foram firmados desde agosto de 2008. Por aqui, garante Anseloni, os negócios já começaram a florescer. Entre os novos clientes, estão a Medial Saúde e a Oi Paggo.

O bom desempenho no Brasil é fundamental para a corporação. A dependência do resultado de subsidiárias tem se tornado cada vez mais importante. No ano passado, 70% dos US$ 118,3 bilhões das receitas da HP vieram de unidades fora dos EUA. A região dos BRICs é responsável por 10% desse total. “No Brasil, as linhas de negócios da HP crescem mais rápido do que a média do mercado”, afirma Anseloni.
Além disso, o modelo de gestão brasileiro tem servido de exemplo para outros países – o que para Anseloni significa uma vitória em sua trajetória de 11 anos na empresa. “Um belo dia resolvi sair da IBM, ao perceber que não atingiria minha meta de ser presidente de uma grande empresa brasileira até os 40 anos”, conta Anseloni. A grande virada o levou a fazer um MBA nos EUA.

Na época, vendeu carro, apartamento e telefone para pagar o curso. Lá, acabou contratado pela HP e chegou ao posto de responsável pela América Latina, em Miami. Quase dez anos depois, se tornou o principal executivo do Brasil com uma missão: consolidar a liderança do mercado. Sua primeira ação foi dividir o poder entre diversas áreas da empresa. Todo mês, oito comitês de funcionários discutem como melhorar a integração na empresa. “É um processo de gestão em que a diretoria envolve mais gente”, diz Anseloni. “Esse sistema faz o que o modelo hierarquizado das multinacionais não permite”, afirma Ana Lúcia Caltabiano, diretora de RH da HP. “Esse é o segredo do sucesso.” Um sucesso que passará por seu maior teste quando a HP incorporar definitivamente a EDS e multiplicar seu tamanho por seis.

HP no Brasil

Está presente em mais de 27 mil pontos de venda
Possui quatro fábricas
Vende, em média, 1,3 PCs e 3 impressoras por minuto
Faturou US$ 2,7 bilhões em 2008 – crescimento de 21,8% em relação ao ano anterior
Tem mais de sete milhões de clientes
Pretende inaugurar mais oito lojas próprias, inclusive em São Paulo