O segundo pregão de 2014, na sexta-feira 3, foi marcado por oscilações violentas nos preços de alguns papéis importantes no mercado. Entre eles, Petrobras, Vale, Itaú Unibanco e especialmente Ambev, que chegou a cair 2,8%. A justificativa para essa desvalorização foi um forte movimento especulativo. No pregão seguinte, o da segunda-feira 6, entraria em vigor a nova metodologia de cálculo do Índice Bovespa. Com isso, essas quatro ações, as mais importantes do mercado, ganhariam uma participação ainda maior no índice. 

 

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Prevendo um movimento de compra por parte dos fundos que acompanham o Ibovespa, os investidores adquiriram ações para revendê-las com lucro. As compras, porém, foram menores que o esperado, o que obrigou quem as havia adquirido em excesso a vendê-las, derrubando os preços. Isso não foi nada além de outro dos milhares de movimentos especulativos que formam o cotidiano do mercado. Com uma diferença importante, porém: apesar de as principais ações caírem, o Índice Bovespa subiu 1,27% naquela sexta-feira. Mudanças no cálculo da importância dos papéis e a exclusão de ações pouco representativas e voláteis tornaram o Índice Bovespa menos nervoso e mais fiel ao panorama corporativo brasileiro. 

 

“É o maior aperfeiçoamento do índice em seus 45 anos de existência”, disse Edemir Pinto, CEO da bolsa, ao apresentar a nova fórmula, em setembro do ano passado. A mudança, que vinha sendo discutida academicamente, foi precipitada pela turbulência causada pelas ações do chamado Mundo X, de Eike Batista. Até pedir recuperação judicial, em novembro, a petrolífera OGX vinha causando dores de cabeça a gestores e investidores. A antiga joia da coroa de empresas de Batista lançou ações em abril de 2008, e não demorou para que elas figurassem entre as mais negociadas. O que ocorreu com elas em 2012 e 2013 escancarou as distorções do índice. 

 

Em 2012, foram realizados, em média, 23 mil negócios diários com OGX, nos quais os investidores movimentaram R$ 248 milhões por dia, transacionando 30 milhões de ações. No ano seguinte, quando a empresa confirmou que não tinha petróleo, o número de transações diárias caiu 18%, para 19 mil. Como as cotações desabaram, o volume financeiro recuou 32%, para R$ 170 milhões por dia. No entanto, a quantidade de ações comercializadas quintuplicou para assustadores 156 milhões diários. No fim de 2013, antes que a recuperação judicial a tirasse do índice, essa liquidez inflacionada fez a OGX representar mais de 4% do Ibovespa. 

 

Uma mudança de um centavo nas cotações de um papel que havia se tornado o mais especulativo do pregão dava a impressão de que todo o mercado havia oscilado 0,2%. “A empresa definhou, mas sua ação cresceu no índice, o que provocou fortes distorções no mercado à vista e no índice futuro”, diz o consultor financeiro paulista Fernando Costa. “Na prática, a OGX tornou o Ibovespa algo sem significado.” Essa distorção pôde ocorrer devido à metodologia de criação do indicador, em 1968. Naquela época, o que justificava a participação de um papel no índice era sua liquidez. 


Quanto mais negociada a ação, maior sua importância no mercado. Faz sentido: quase meio século atrás os negócios movimentavam US$ 50 milhões por dia. Nesse mercado nanico, ação boa era a que participava de muitos negócios. No entanto, em 2013, o volume médio da bolsa foi de US$ 3,06 bilhões diários e, das quase 600 ações ativas, 195 marcaram presença em todos os pregões. “É preciso tornar o Ibovespa mais parecido com a realidade do mercado”, diz Pinto. As principais mudanças mostram que Petrobras, Vale, Itaú Unibanco e Ambev ganharam importância (veja quadro “Quem vai brilhar no pregão”). 

 

No entanto, setores relevantes para a economia, mas pouco representados, também cresceram. O melhor exemplo é o de alimentos e bebidas. O peso das cinco empresas que fazem parte do índice – BFR, Cosan, Marfrig, JBS e Ambev – subiu de 5,25% para 8,57%. As empresas de educação, que brilharam nos pregões em 2013 e deverão repetir a lição neste ano, estão mais presentes. O peso somado de Anhanguera, Kroton e Estácio subiu de 1,57% para 2,48%. A retirada das ações negociadas a menos de R$ 1,00 deve impedir que suas oscilações distorçam o índice. 

 

Para o investidor, especialmente o que procura fundos de ações ligados ao Índice Bovespa, a vantagem é a volatilidade menor. “A nova metodologia vai evitar desvios prejudiciais e também grandes valorizações que não fazem sentido”, diz Flavio Sznajder, sócio da gestora carioca Bogari Capital, cujos fundos de ações do tipo Ibovespa ativo têm superado a média do mercado. “Um índice de má qualidade afeta o moral dos investidores, pois eles olham apenas a oscilação do Ibovespa e concluem que a bolsa vai mal, mesmo que seus investimentos apresentem um bom desempenho.”

 

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