12/08/2009 - 7:00
Quando se pensa em gestoras independentes de investimentos, logo vêm à mente nomes consagrados da economia brasileira com passagem pelo governo. É o caso da Gávea, de Armínio Fraga; da Mauá, de Luiz Fernando Figueiredo; e da Quest, de Luiz Carlos Mendonça de Barros. Os sobrenomes famosos são essenciais para a captação de dinheiro, bem como a capacidade de cada um de ler o cenário macroeconômico e tomar decisões estratégicas de investimentos. Embora não trabalhem sozinhos, cada um representa uma espécie rara de “one man show”. O Brasil, no entanto, mudou muito nos últimos anos e o cenário para as vedetes do mercado, também. Nos últimos quatro anos, uma leva de financistas buscou a independência do negócio próprio. Em vez de partirem sozinhos para essa aventura, formaram um time para voar em conjunto. E com todos no papel principal.
Foi assim que nasceram as gestoras Duna, Nest, Fram Capital, G5 e Kinea. E quem são elas? É bom se acostumar com os cinco nomes. Essas novatas, segundo DINHEIRO apurou com consultores, alocadores de recursos e advisors, estarão em posição de destaque nos próximos anos. O atestado para essa previsão é justamente a crise financeira mundial. Elas enfrentaram com bravura a tormenta e mostraram seus cartões de visita com bons resultados.
Ainda têm uma migalha do R$ 1,3 trilhão investido em fundos no Brasil, mas quem disse que tamanho é documento na nova era dos juros baixos? Sem o ganho fácil da renda fixa no País, os lucros que farão a diferença serão obtidos com a renda variável. Saber correr riscos é fundamental. Sediadas em São Paulo, as cinco gestoras aqui destacadas têm se diferenciado nessa área. “A especialização dessas gestoras independentes tende a trazer rentabilidade”, afirma Dany Rappaport, sócio da InvestPort. “Elas se beneficiam de ideias diferentes das gestoras de bancos de varejo”, diz Pedro Lérias, diretor da Verax Serviços Financeiros.
Um exemplo marcante é o da Duna Asset Management, que traz em seu DNA o histórico dos bancos Garantia e Credit Suisse. Até o início do ano passado, Inácio Ponchet e João Grilo Simões trabalhavam para os suíços e respondiam pela estratégia do CS Long Short 60, uma referência em fundos de arbitragem de ações. Junto com Luciano Jugdar, formaram o trio que ergueu a Duna em junho de 2008 com pouco. Começaram com R$ 8 milhões em três fundos e hoje administram R$ 250 milhões. “O Ponchet é o estrategista fundamentalista e o Grilo é bom na negociação. Eles se complementam”, diz Rodrigo Menon, sócio da Beta Advisors.O barco foi posto em alto-mar no meio da tempestade, mas eles conseguiram mostrar por que são considerados hábeis navegadores. “Foi uma fase difícil. Havia uma certa desconfiança sobre a nossa capacidade sem a estrutura do Credit Suisse”, diz Ponchet.
“Nascemos no pior cenário vivido nas últimas décadas, mas tivemos um bom desempenho”, diz Jugdar, responsável pela área comercial. O principal fundo, o long and short direcional Duna LS 60 FIC, está em alta de 13,5% neste ano, acima dos 6,2% de retorno medido pelo CDI. A Duna mantém uma estrutura enxuta. Os três sócios dividem com nove pessoas o dia a dia do negócio. É o mesmo caso da Nest. São 14 pessoas, sendo sete voltadas para a gestão de R$ 380 milhões.
Criada em março de 2005 por Francisco de Andrade, Luciano Tavares, Felipe Prata e Pedro Baptista, a Nest é praticamente uma veterana nessa nova onda. Essa experiência permite repetir o modelo de meritocracia vivenciado por Andrade no Banco Garantia. Quem se destaca pode chegar a ser sócio da gestora, o que aconteceu recentemente com Carlos Augusto Nunes Júnior.
“A Nest tem que se perpetuar no futuro sem os sócios atuais”, afirma Prata. Aqui e agora, a gestora se diferencia pela coragem de nadar contra a corrente, se necessário for. “Eles têm uma personalidade própria, com ideias que não ligam para o humor do mercado”, diz Rappaport. Na Nest, as quintas-feiras são reservadas para o time analisar os cenários de investimento. A busca é por informações que possam ser o diferencial dos fundos da casa, todos direcionados para a renda variável. O Nest MH1 FIC, que está na mesma categoria do Duna LS 60 FIC, acumula alta de 10,5%. “Somos focados em performance, que é de onde vêm os nossos ganhos”, diz Prata.
Especialistas apontaram as cinco novatas como as mais promissoras
Os encontros semanais também estão na agenda dos gestores da Kinea. Os cinco sócios que tocam o negócio – Márcio Verri, Aymar Almeida, Ricardo Alves, Carlos Martins e Sérgio Gabriele – eram funcionários do BankBoston quando este foi comprado pelo Itaú, em 2006. No ano seguinte, eles se tornaram sócios do Itaú na nova gestora. A Kinea, apesar de ter um grande banco por trás, mantém as características das gestoras independentes. “Temos o padrão de qualidade do Itaú Unibanco com total liberdade na decisão de investimento”, afirma Verri. O sócio ilustre, representado por Alfredo Setubal, ajuda mais do que atrapalha. As reuniões do banqueiro com os gestores ocorrem trimestralmente. “Essa sociedade abre algumas portas”, diz Lérias, da Verax. “A equipe tem a experiência do Boston e uma gestão parruda, com mais opções de investimentos.” A equipe reúne 23 pessoas e uma oferta ampla de fundos: ações, multimercados, long and short, imobiliário e private equity. O patrimônio líquido de R$ 475 milhões é pequeno frente aos R$ 2 bilhões projetados para o final do ano passado na época da criação. “Abrimos as portas e o mercado desabou. Mas isso faz parte do dia a dia e é o que gera a performance diferenciada para os produtos”, analisa Verri.
No caso da Fram Capital, nove dos dez sócios saíram da tesouraria do Santander. Ao todo, são 35 pessoas que trabalham em fundos de ações, multimercados, previdência, private equity e estruturação de dívida, gerindo um patrimônio de R$ 199 milhões. “A Fram nasceu pensando em ser grande, com grandes investimentos”, diz Menon, da Beta Advisors.
“Formamos um grupo diverso com experiência no mercado financeiro”, resume o sócio Henry Gonzalez. O 10º sócio da Fram é Marcos Eugênio da Silva, um dos maiores especialistas em risco do mercado brasileiro. Ele dá o tom que já é um diferencial da Fram. “Eles não fazem do mercado uma mão de pôquer”, afirma Menon. O Fram Amundsen, um dos destaques entre os multimercados multiestratégia, acumula 6% de rentabilidade no ano.
Partir para o tudo ou nada não combina com a estratégia dessas gestoras. Como os custos de criar uma gestora independente são altos, nenhuma está interessada na boa performance no curto prazo. Elas são fãs da longa distância. E entre o jamaicano Usain Bolt, recordista em tiro curto, e o etíope Haile Gebrselassie, especialista em maratonas, ficam com o segundo. “É preciso disciplina e criatividade para manter a visão no longo prazo”, confirma André Zylberberg, sócio da G5. A caçula dessa turma lançou seus dois fundos de ações um mês antes da quebra do banco de investimentos Lehman Brothers, em setembro do ano passado, que desencadeou o desespero mundial. Foi um problema para a captação, que está pouco acima dos R$ 30 milhões. Mas foi uma boa época para comprar papéis baratos. O retorno do G5 Equities FIC está em 52% neste ano, acima dos 46% do Ibovespa. A G5 e as outras quatro feras do novo mercado brasileiro podem não ter um longo histórico (track record) para mostrar e ganhar novos clientes. Mas já estão no radar dos grandes investidores. O resto é questão de tempo.