Ele levou a pasta de trabalho, a secretária Antonieta e Hernane, o motorista. Fechou pela última vez a porta do escritório e deixou 35 anos de Rhodia para trás. A partir daquele momento, no início de 1997, Edson vaz Musa passou a viver a mais arriscada transformação de sua carreira: a de festejado presidente de multinacional para empresário iniciante. Nos últimos seis anos ele não fez outra coisa senão tentar pavimentar a trajetória empresarial. Hoje, Musa, aos 65 anos, pode finalmente dizer: ?Deu tudo certo?. Por tudo certo, entenda a conquista dos primeiros bons resultados. Sua MGDK caiu nas graças de uma das maiores empresas de consultoria do mundo. O Monitor Group, americano, com atuação em 27 países, escolheu Musa como sócio na América Latina. A parceria também vai alçar o empresário a um novo posto, o de banqueiro. Até o final do ano, Musa e Monitor lançam um banco de investimento no Brasil. No campo industrial, a Caloi, cujo controle ele assumiu em 1998, acerta as contas em 2003 e finalmente se livra do prejuízo. Pelo menos é isto que ele promete.

Sentado na cadeira de uma das salas do moderno escritório que montou na zona sul de São Paulo, Musa detalha seus planos. O banco de investimento que vai lançar, ainda sem nome definido, chega para atuar principalmente no que o setor chama de private equity. Traduzindo: irá se tornar sócio de empresas já estabelecidas no mercado, com grande potencial de crescimento. O braço financeiro do Monitor tem sob sua gestão atualmente US$ 800 milhões em negócios no mundo. Outra área da instituição é a Monitor Ventures, que investe em empresas ainda em formação, principalmente na área de tecnologia. ?Musa sabe fazer uma companhia se tornar lucrativa. E o banco será um instrumento importante para alavancar seus negócios?, diz o consultor Anselmo Louzada, da Decision Assessoria Empresarial.

Do Monitor, Musa salta para as bicicletas. Está especialmente entusiasmado com o desempenho da Caloi neste ano. Quando chegou a companhia, em 1999, encontrou um grupo desarrumando, com dívidas de R$ 200 milhões e receitas de pouco mais de R$ 100 milhões. ?Havia um claro problema de gestão, perda de foco e um caixa frágil. Era preciso reorganizar e capitalizar a empresa?, diz o empresário. Foi aí que o então consultor viu a chance de investimento. Injetou dinheiro na companhia, ficou com 75% do controle e imprimiu seu ritmo. De saída, vendeu negócios deficitários como a produção de scooters e mobiletes. Em seguida, reformulou a linha de bicicletas e chamou credores para negociar. O dinheiro começou a entrar, a Caloi ajustou-se e já em 1999 apresentou resultado operacional positivo. Em 2001, Musa aventurou-se em outro segmento: Fitness. Fez uma parceria com a catarinense Athletic Way para produzir esteiras e bicicletas ergométricas e acertou em cheio. Em dois anos, os aparelhos já respondem por 35% das vendas totais da companhia, hoje na casa dos R$ 230 milhões. ?A Caloi vem crescendo 25% ao ano desde 1998 e ao mesmo tempo conseguimos reduzir a dívida, que agora soma R$ 40 milhões?, conta Musa. ?Por isso acreditamos na virada neste ano?.

A empresa também está retomando seus negócios no exterior. Vai reformular a filial americana, localizada na Flórida e abrir escritórios na Argentina e no Chile. O passo seguinte é experimentar o segmento de serviços com a Caloi. Entenda por serviços tudo aquilo que possa agregar valor às bicicletas. A estratégia vai desde o custeio, patrocínio e organização de provas esportivas e passeios turísticos até a consultoria para a montagem de academias em hotéis ou empresas. Tantos planos para abrir os caminhos da Caloi despertaram uma certa desconfiança no mercado. Um analista que acompanha a trajetória de Musa arrisca: ?Ele não comprou a Caloi porque gosta de bicicleta. Ele provavelmente vai deixar a empresa tinindo para depois vendê-la?. O dono da Caloi dá de ombros às especulações e segue com suas pedaladas financeiras.