O surpreendente anúncio de um acordo de cessar-fogo entre Israel e Irã, feito pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na noite desta segunda-feira, 23, sugere que a arriscada aposta feita por ele de bombardear instalações nucleares iranianas possa ter valido a pena.

Mas há ainda uma longa lista de questões sem resposta, incluindo a mais urgente de todas: se um cessar-fogo entre esses dois arqui-inimigos pode realmente durar e significar o fim da guerra.

A guerra entre Israel e Irã acabou?

Relatos das agências de notícias indicam que as hostilidades entre ambos os lados realmente acabaram depois das 4h (horário local).

Porém, a fragilidade do acordo entre os dois arqui-inimigos ficou evidente ao amanhecer desta terça-feira, quando o ministro israelense da Defesa, Israel Katz, acusou o Irã de violar o cessar-fogo, o que o regime em Teerã imediatamente negou.

O chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel (IDF), Eyal Zamir, afirmou que os militares “responderão com força” ao que consideram uma “grave violação do cessar-fogo perpetrada pelo regime iraniano”.

O Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã alertou que “qualquer nova agressão será respondida com uma resposta decisiva, firme e oportuna por parte do Irã”.

O que diz o acordo de cessar-fogo?

Os termos exatos do acordo de cessar-fogo ainda são desconhecidos. Certo está que ele foi confirmado por ambos os lados. Na manhã desta terça-feira, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que Israel concordou com um cessar-fogo bilateral com o Irã, em coordenação com Trump.

Depois foi a vez de o Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã confirmar que havia sido alcançado um cessar-fogo, classificando o acordo como uma derrota para Israel.

O que se sabe até o momento é o cronograma que Trump divulgou em suas postagens. Segundo o presidente americano, o Irã deverá suspender as hostilidades nas primeiras 12 horas, e Israel só a partir das 12 horas seguintes. Depois dessas 24 horas será declarado o “fim oficial” da guerra, deflagrada em 13 de junho com o bombardeio israelense a instalações nucleares do Irã.

Como se chegou ao acordo?

Segundo o jornal The Washington Post, que cita um alto funcionário dos EUA, negociadores iranianos disseram aos americanos que retornariam à mesa de negociações para debater o programa nuclear do Irã se Israel interrompesse os bombardeios, o que obrigava os EUA a buscar essa garantia com o governo de Israel.

Um alto funcionário da Casa Branca relatou à agência de notícias AP que Trump se comunicou diretamente com o primeiro-ministro israelense para garantir o cessar-fogo. Esse mesmo alto funcionário disse que o vice-presidente J.D. Vance, o secretário de Estado Marco Rubio e o enviado especial Steve Witkoff se comunicaram com os iranianos por canais diretos e indiretos.

O governo do Catar desempenhou um papel importante na mediação do cessar-fogo, principalmente na intermediação com os iranianos, segundo os relatos. O primeiro-ministro do Catar, xeque Mohammed bin Abdulrahman al-Thani, garantiu o sim do regime em Teerã numa ligação telefônica com autoridades iranianas, disse à agência de notícias Reuters uma autoridade informada sobre as negociações.

Trump conversou com o emir do Catar, xeque Tamim bin Hamad al-Thani, para agradecê-lo por ajudar a firmar o acordo. O emirado do Golfo tem sido o principal interlocutor também nas negociações entre Israel e Hamas na guerra em Gaza.

À agência Reuters, um alto funcionário da Casa Branca afirmou que Israel concordou com um cessar-fogo desde que o Irã não lançasse novos ataques. Já o Irã sinalizou que não realizaria novos ataques, disse o mesmo funcionário.

O Irã se mostrou receptivo ao cessar-fogo porque se encontrava num “estado gravemente enfraquecido”, disse a autoridade da Casa Branca. Os iranianos enfrentaram dias de bombardeios israelenses contra instalações nucleares e militares, bem como as mortes de importantes cientistas nucleares e comandantes de segurança.

As negociações com o Irã serão reiniciadas?

Nada foi dito sobre novas negociações com o Irã sobre o programa nuclear do país. Tudo indica que os países ocidentais tentarão levar a República Islâmica de volta à mesa de negociações, mas essas conversas deverão ser difíceis.

O Irã já anunciou que pretende continuar seu programa nuclear mesmo após os ataques dos EUA às suas instalações nucleares mais importantes. O chefe da Organização de Energia Atômica do Irã (AEOI), Mohammed Eslami, disse à emissora estatal iraniana IRIB que o país pretende continuar o processo de produção sem interrupção.

Os danos às instalações ainda estão sendo avaliados, disse. A extensão da destruição após os ataques de Israel e dos Estados Unidos às instalações nucleares do país permanece incerta, disseram especialistas.

Outra pergunta que segue sem resposta é o destino do estoque de Urânio enriquecido do Irã (cerca de 400 quilos, segundo estimativas), que muitos especialistas acreditam que pode não ter sido atingido pela campanha de bombardeios dos EUA e de Israel..

O chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, disse nesta terça-feira que escreveu ao ministro do Exterior do Irã, Abbas Araqchi, para propor uma reunião e pediu cooperação após o anúncio de um cessar-fogo entre Irã e Israel. Grossi afirmou que a retomada da cooperação do Irã com a agência poderia levar a uma solução diplomática para a longa controvérsia sobre o programa nuclear de Teerã.

O Irã nega que queira obter armas nucleares. O vice-presidente americano afirmou, porém, que “o Irã esteve muito perto de ter uma arma nuclear”, em entrevista ao programa Special Report with Bret Baier, da emissora Fox News.

O governo Trump disse que o objetivo dos bombardeios americanos a instalações nucleares iranianas era unicamente destruir o programa nuclear do Irã, sem iniciar uma guerra mais ampla.

Trump citou relatórios de inteligência de que o Irã estava perto de construir uma arma nuclear, sem dar mais detalhes. No entanto, agências de inteligência dos EUA afirmaram no início deste ano que avaliaram que o Irã não estava construindo uma arma nuclear e uma pessoa com acesso a relatórios de inteligência dos EUA disse à Reuters na semana passada que essa avaliação não havia mudado.