13/01/2015 - 18:00
Pietro Giuliani, fundador-presidente da Azimut, maior gestora independente de recursos da Itália, com ativos sob gestão de € 30 bilhões, entrou, furioso, em um táxi em Calcutá há poucos anos. Eram 5h30 da manhã e Giuliani estava frustrado por ter de voltar para casa sem ter conseguido fechar a compra de uma empresa indiana, após 36 horas seguidas de negociação. No entanto, a conversa com o condutor mudou seu humor. “O taxista me disse que tinha sorte de ganhar US$ 20 por mês”, diz Giuliani. “A média salarial da região era de US$ 8 e, com um pouco mais, ele poderia pagar um financiamento imobiliário e comprar uma casa.”
Para o italiano, doutor em engenharia mecânica, que trabalhou em empresas da Fiat antes de ingressar no mundo das finanças, a conversa mostrou as oportunidades que brotam nos países emergentes. “O quadro é bastante diferente do da Europa, onde as pessoas já têm tudo e, por isso, não possuem mais ambições.” A exemplo da Índia, o Brasil oferece muitas oportunidades, diz Giuliani. Ele acredita piamente no crescimento brasileiro, apesar do pessimismo generalizado por aqui. “Pode levar mais ou menos tempo, mas o Brasil vai crescer e gerar riqueza de qualquer forma”, diz.
A receita, segundo ele, é voltar as atenções para a economia doméstica. Mas, em vez de colocar o foco em subsídios para a compra de bens de consumo, a saída seria investir em infraestrutura, o que beneficiaria os investidores. “Haverá um desembolso de recursos no primeiro momento, mas, em dez anos, o País será muito mais rico”, afirma. Sua recomendação soaria como música aos ouvidos do governo brasileiro. No discurso de posse no Ministério da Fazenda, Joaquim Levy citou a necessidade de facilitar os investimentos em infraestrutura como uma das pedras angulares do processo de transformação e fortalecimento da economia.
“A harmonização da tributação dos instrumentos e veículos de investimento, por exemplo, será essencial para a expansão do mercado de capitais e o financiamento em termos voluntários e competitivos da infraestrutura”, disse ele. Demanda não falta. Um levantamento da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) estima que as necessidades de investimentos apenas no transporte somam R$ 987 bilhões. Para se beneficiar disso, o investidor brasileiro terá de aprender a olhar para o longo prazo. “Não me importa se o Ibovespa vai subir ou descer amanhã, o Brasil é o lugar certo para se estar pelos próximos dez ou 20 anos”, diz Giuliani.
O gestor compara a situação atual com a da Itália nos anos 1950: um país ansioso por se integrar mais à economia mundial e com enormes deficiências para sanar. “Há tantas oportunidades, que fica difícil mencionar quais setores devem apresentar o maior retorno nos próximos anos”, diz. Instrumentos para isso não deverão faltar. Além dos investimentos já conhecidos, como os fundos de participação e as debêntures incentivadas, os especialistas dizem esperar que o governo anuncie novos instrumentos para facilitar a captação de recursos.
Paulo Cafarelli, ex-secretário-executivo do ministério, que estava cotado para o comando do BNDES ou BB, até o fechamento desta edição, foi claro. “Precisaremos de funding privado de longo prazo dos bancos e de investidores nacionais e estrangeiros”, disse. “Uma infraestrutura de qualidade é fundamental para dar mais competitividade à indústria nacional e para que nossos produtos tenham melhores condições de disputar o mercado externo, alavancando nossas exportações.”
Tudo isso coloca o Brasil e outros países emergentes como um dos principais pilares da estratégia da Azimut, que em 2013 adquiriu a gestora brasileira Legan, atualmente com cerca de R$ 700 milhões sob administração. O grupo italiano, que tem ações negociadas na bolsa de Milão, pretende passar dos atuais € 30 bilhões de ativos sob gestão para € 50 bilhões, até 2019. Para isso, vai contar com a receita dos negócios de fora da Itália. A expectativa é de que o dinheiro vindo de Luxemburgo, Irlanda, China, Mônaco, Suíça, Cingapura, Taiwan, Turquia e, claro, do Brasil, dobre de volume nos próximos quatro anos, ampliando o lucro líquido dos atuais € 150 milhões para € 300 milhões.