09/03/2005 - 7:00
Depois de um janeiro negro, fevereiro foi um mês dourado na Bovespa. A forte entrada de capital externo fez a Bolsa subir 15,56% no mês passado, que terminou na segunda-feira 28 com o melhor resultado desde outubro de 2002. Por trás do bom desempenho está um investidor estrangeiro guloso, que comprou R$ 3,7 bilhões em ações só no mês passado, deixando bem para trás o saldo de R$ 1,8 bilhão acumulado em todo o ano de 2004. Responsáveis por 32,4% dos negócios na Bolsa, os estrangeiros lideraram o movimento que levou o Ibovespa a seu pico histórico de 28.436 pontos há duas semanas e fez a movimentação diária de ações quebrar a barreira dos R$ 2 bilhões. Criteriosos na formação de suas carteiras, esses investidores têm preferências bem específicas na hora de comprar ações. Buscam papéis de empresas que se enquadrem nos padrões internacionais de qualidade administrativa, atuem em setores promissores e estejam pouco sujeitas aos humores de agências reguladoras.
Bancos, por exemplo. ?O setor financeiro no Brasil apresenta boas oportunidades?, atesta Norman Sorensen, presidente do Principal Financial Group, o maior grupo de previdência privada dos Estados Unidos, com US$ 170 bilhões investidos em ações ao redor do planeta, sendo cerca de US$ 1 bilhão no Brasil. Na cesta de compras dos estrangeiros, as ações do Itaú e do Bradesco têm lugar garantido. Tanto seus balanços como seu nível gerencial e tecnológico impressionam os analistas internacionais. De quebra, os maiores bancos nacionais também negociam papéis na Bolsa de Nova York, os chamados ADRs ? algo que agrada aos compradores de fora, mas deixou de ser decisivo. ?No passado, os estrangeiros só olhavam para empresas com ADRs. Hoje, eles conhecem mais o mercado e analisam outros critérios?, nota Alexandre Póvoa, do Banco Modal. Por isso, sentem-se seguros até para comprar papéis recém-chegados ao pregão, como Natura, Grendene e Gol, que dividem espaço na lista de preferências dos gringos com blue chips tradicionais, como Vale, Petrobras e as siderúrgicas de ponta.
?A empresa pode ter bons números e estar rendendo bem. Se o setor onde atua não tem perspectivas de longo prazo, ela está fora do alvo deles?, diz Cláudio Monteiro, analista da corretora Fator. É o caso da Souza Cruz, pouco procurada pelos compradores de fora. Por motivos diferentes, as empresas de telefonia e energia, que praticamente monopolizavam a atenção desses investidores, perderam espaço e hoje os assustam. ?A regulamentação estatal causa incertezas quanto a uma possível mudança repentina na política de preços?, explica Marco Antônio Melo, analista da corretora Ágora. Na dúvida, os estrangeiros optam por manter distância das agências reguladoras.